BERNARDINHO, NA ZONA DE CONFORTO?

BERNARDINHO, NA ZONA DE CONFORTO?

A simplicidade com que foi anunciada a saída do técnico Bernardinho da seleção brasileira de voleibol masculino, não reflete o excelente trabalho realizado pelo ex-atleta.  O impacto positivo que o levantador reserva nos Jogos Olímpicos de Los Angeles em 1984 é imensurável, quando analisamos a totalidade da sua intervenção.

O profissional deixou marcas profundas nas estratégias de jogo, no planejamento e nos muitos resultados que conseguiu. Inicialmente, na seleção feminina, conquistando títulos nos mais variados torneios. Foram conquistas sul-americanas, pan-americanas, mundiais e olímpicas (duas medalhas de bronze), puxando para cima as marcas brasileiras na modalidade.

Muitas vezes, foi chamado de tirano, mas também foi lembrado por outro lado, como “um profissional que busca perfeição e exige sempre o melhor”.  Foi com ele que ouvimos um tal de "sair da zona de conforto"; momento em que o atleta deixa de buscar outro estágio, se contentando com a situação em que está.  Com ele, todos procuravam o ótimo.

No voleibol masculino então, ele foi estupendo, impactante, inovador e destemido, pois viveu e conviveu com diferentes emoções a cada competição.  Nos primeiros torneios, dava explicações que mais soavam desculpas, mas ao longo do tempo, percebeu-se que ele tinha razão, quando dizia que seus atletas eram de menor estatura que os outros e isto, por si só, obrigava o time a jogar numa linha alta de rendimento, quase sem errar.  Todos sabem que errar faz parte do jogo, não no time dele.

Vira e mexe, ele arrumava alguma discussão para provocar os aspectos emocionais dos seus atletas, incitando-os na direção do algo a mais, que às vezes, eles não tinham.  Reclamava de todas as bolas perdidas como que um doido, alucinado pela perfeição - objetivo final da sua caminhada. Conforto, nunca.

Imagino que, talvez, a mais difícil de todas as situações vividas por Bernardinho, tenha ocorrido em função de ter um filho como comandado e atuando na posição em que ele mesmo atuava enquanto atleta. Como ele conseguiu? Será que tratou o filho como os outros? Ou tratou os outros como o filho?

Realmente deve ter sido muito complicado lidar com uma situação tão delicada, tão sensível e tão particular, principalmente quando não é fácil descobrir uma forma de controlar os nervos, se é que ele controlava.

É como um pai advogado que defende a causa do filho, que cometeu um erro, ou uma mãe médica que trata um filho seu acometido pelo mesmo mal a qual é especialista. Outro exemplo, seria uma mãe professora que tem seu filho na classe e ele, além de não tirar boas notas, ainda apronta umas boas nas aulas. O certo, é que não é fácil.

Bem, a verdade é que o Bernardinho deixou seu legado não só no esporte, mas também para a vida, como podemos observar em sua atuação como palestrante ou escrevendo livros, funções que, com certeza, deve se cobrar muito, lutando sempre pra ser o melhor. E é.

Valeu Bernardinho, fique longe da zona de conforto...Eu tambem vou ficar.

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