Sobre a atenção à vida alheia

Sobre a atenção à vida alheia

A vida alheia sempre despertou o interesse das pessoas. Essa atenção à vida do outro se relaciona ao gosto por ver e observar, associando-se à curiosidade, ao conhecer a intimidade alheia, muito referenciada como a possibilidade de se espiar pelo buraco da fechadura. Aquilo que não pode ser observado e é íntimo, próprio do outro, encoberto ou mesmo escondido – ou mesmo proibido e interditado – sempre gerou muita curiosidade e mesmo prazer.

Na contemporaneidade, em um contexto marcado pelo uso da tecnologia e pelo predomínio das imagens, o acesso a informações sobre o outro foi imensamente facilitado, possibilitando satisfazer um autêntico prazer inerente ao ser humano: o prazer em ver e saber da vida do outro. As mídias e tecnologias atuais, em sua superexposição, possibilitam essa satisfação – até mesmo imediata! – e mesmo uma supressão da intimidade e da privacidade, tornando os limites entre público e privado cada vez mais indiscriminados, assim como os próprios limites entre o que é interno e externo. Além daquilo que sabe, o indivíduo conta com o recurso do que pode ser imaginado e fantasiado, aquilo que, ainda que não sabido, é de seu desejo descobrir.

O fascínio provocado pelo saber da intimidade alheia vem sendo cada vez mais explorado por diferentes vias e recursos. Prova disso são os inúmeros sites, programas televisivos, revistas, dentre tantos outros meios, que, ao forjar o buraco da fechadura, oportuniza que os espectadores, leitores, seguidores dos mais diversos aplicativos possam olhar, observar e espiar. Mesmo as redes sociais promovem essa experiência por meio da exposição e da alta e rápida acessibilidade ao que é postado.

Por essas formas, o interesse pela vida alheia, que é comum às pessoas, acaba sendo ainda mais estimulado. E o que leva as pessoas a se interessarem tanto pela vida do outro? Esse outro sendo tanto aquele que está próximo de nós, quanto aquele de quem pouco sabemos, mas de quem nos aproximamos e buscamos conhecer observando e muitas vezes vasculhando sobre suas vidas.

A esse respeito, pode-se dar o exemplo de notícias envolvendo pessoas famosas. Recentemente, inclusive, comunicados envolvendo separação entre pessoas muito famosas geraram comentários, manifestações e desalento entre diversos espectadores, havendo até mesmo revelações acerca da descrença diante do casamento e do amor, tendo em vista tais acontecimentos.

Thiago Rocha, que é jornalista e apresentador do programa “Tá Sabendo?”, aborda o assunto acerca do interesse sobre o que os outros fazem, principalmente relacionando o tema a pessoas famosas: “Os bastidores servem apenas como curiosidade e aproximam, de forma secundária, o famoso da pessoa comum. Mas, uma coisa feita pelo artista não deve servir de parâmetro, exemplo ou comparação com a sua vida. Cada um tem seus problemas, cada um tem seus motivos, somos indivíduos diferentes.“. Na perspectiva do Dr. Roberto Debski, psicólogo, coach e trainer em programação neurolinguística,: “Algumas pessoas são curiosas e têm interesse em saber sobre a vida dos famosos para se aproximar de alguma maneira da realidade de pessoas as quais admira e deseja copiar.”.

Nesse sentido, pensando-se no fascínio que a atenção à vida alheia promove, não apenas no contexto de pessoas famosas, várias podem ser as funções a que a observação da intimidade do outro pode servir, a depender de cada pessoa. A exemplo, pode-se pensar, como citado, funcionando como um padrão de comparação, uma medida de aproximação ou afastamento; um mecanismo de evasão da própria realidade, através do afastamento das próprias emoções e sentimentos experienciados; projeção de expectativas e frustrações... Enfim, há que se poder pensar sobre si mesmo, em um processo de autoconhecimento, buscando-se reconhecer, mais do que o lugar que o outro está tomando, que espaço estamos de fato ocupando em nossas vidas.

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