Expedição interna

Isabel de Farias

23 Mar 2017 11:28

Houve um tempo em que os homens eram deuses, mas abusaram tanto da divindade, que Brahma, o mestre de todos, decidiu retirar o poder divino dos humanos e esconder esse poder em algum lugar que seria impossível reencontrá-lo. O grande desafio, porém, era escolher o esconderijo. Brahma convocou, então, um conselho de deuses para, juntos, resolverem o problema.

A primeira ideia foi esconder a divindade humana embaixo da terra, mas o conselho vetou: os homens cavariam e encontrariam o poder divino. A segunda opção foi jogar a divindade no fundo do oceano, mas os homens poderiam explorar as profundezas do mar e recuperá-la.

Assim, os deuses estavam certos de que não haveria lugar adequado para esconder a divindade humana, pois em qualquer lugar que a guardassem, os homens encontrariam. Foi quando Mahadeva, outro deus presente no conselho, se pronunciou: “vamos escondê-la nas profundezas do próprio homem, pois é o único lugar onde ele jamais pensará em procurar”.

O único caminho que tornaria o homem capaz de reencontrar a divindade, seria através do conhecimento. Não é tão fácil: ele teria que driblar a ilusão, o egoísmo e aprender a controlar a mente e os sentidos, observando causas e efeitos durante a vida. Desde então, o homem explora, escava, mergulha e vive em busca de algo que pode encontrar nele mesmo.

Recebi esse texto por mensagem no celular e pesquisei sobre sua origem. Ele é atribuído a vários autores e possui algumas diferenças entre as versões, mas sua mensagem é a mesma: precisamos voltar nossos olhos a nós mesmos para encontrar mais sabedoria, calma e tranquilidade para solucionar as questões que aparecem diariamente.
Às vezes, fico incomodada com a situação da economia e com os problemas que surgem no trabalho. Tem horas que não dá para manter o bom humor diante de tantas incertezas. Fato é que de vez em quando nos deparamos com obstáculos que parecem intransponíveis. A primeira vontade que temos, nesses casos, é desanimar, desistir, mudar a rota, não encarar o problema. Isso é exatamente o que não podemos fazer.

Tenho para mim que é preciso ter calma e tranquilidade para encarar os problemas de frente, buscando, dentro de si, a força para continuar na caminhada. Esse pensamento do texto que recebi serviu como uma luva para alguns momentos de angústia. 

É verdade que o tempo passa e, com ele, as adversidades se ajeitam – ou pelo menos nos acostumamos a parte delas. Também é verdade que nem sempre conseguimos esperar e ter paciência para buscar a solução.

Em meio a tanta turbulência, não custa nada tirar alguns minutos e procurar essa força interna que nos habita. Pode ser difícil encontrar, mas eu tenho certeza de que essa espécie de expedição interna vai valer a pena. No mínimo, vamos nos conhecer melhor e isso já faz a vida valer a pena.