O que a gente não vê

O que a gente não vê

Sentir raiva, orgulho, inveja e culpa não é daquelas coisas que a gente assume com tranquilidade por aí. Há sempre um receio em sentir emoções consideradas não tão boas assim. Mas quem disse que a gente sente só aquilo que quer?
Minha última leitura foi o livro A Grande Obra, de Luiz Alberto Hetem, médico psiquiatra de Ribeirão Preto, que trata do que ele chama de “emoções-obstáculo”. Muitas vezes, escondidas em posturas diárias, a raiva, a culpa, a inveja e o orgulho estão mais presentes em nós do que podemos imaginar.

No livro, há casos fictícios inspirados em histórias reais, que ilustram a expressão dessas “emoções-obstáculo”. Segundo o próprio autor, o objetivo da obra é contribuir para que as pessoas identifiquem em si mesmas os sentimentos que podem atrapalhar a vida e dificultar as relações pessoais.

Para Hetem, no entanto, não existe sentimento bom ou ruim. É aí que a história fica ainda mais interessante. Segundo o psiquiatra, aprender a lidar com cada um dos sentimentos é mais promissor e menos desgastante do que negar ou tentar eliminá-los.

Em uma sociedade cada dia mais medicada, Hetem busca tratar de questões complexas de formas simples, afirmando que, embora haja a popularização dos tratamentos psiquiátricos, há quem procure os consultórios imbuído de sentimentos corriqueiros, mas considerando as sensações como patologias graves. A cultura de que tudo se resolve com remédios pode ser simplificada quando prestamos mais atenção em nós mesmos, no que sentimos e na forma como agimos. Claro: há casos e casos, mas vale a tentativa do autoconhecimento.

Precisamos nos perceber mais. Precisamos manter o olhar atento para cada atitude, cada ação e cada reação que temos diariamente. Nem sempre é fácil descobrir o que nos leva a tomar certas atitudes.  

É estranho perceber, por exemplo, que o orgulho pode estar disfarçado de timidez ou autopiedade. Estranho também é descobrir como atitudes corriqueiras podem ter uma série de emoções por trás que não nos damos conta. Se agimos de alguma forma, pouco paramos para pensar no porquê daquela ação.

Leituras como essa me fazem notar o quanto nos desconectamos de nós mesmos e o quanto é urgente retomar esse contato interno. Perceber onde está a raiva, o orgulho, a inveja ou a culpa não é motivo de vergonha, mas um conhecimento que pode nos levar a viver uma vida bem melhor. 

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