Rumo a lugar nenhum

Rumo a lugar nenhum

Fato um: estamos todos cada vez mais exacerbados de atividades que consomem nosso dia a dia. Fato dois: encontrar tempo para parar e retomar as energias tem sido cada vez mais necessário. Fato três: há uma dificuldade absurda em nos desconectarmos. Então, o que fazer?

Fiquei encantada com o pensamento de Pico Iyer, no livro A Arte da Quietude, o último que li. O autor, um ensaísta e novelista britânico, passou a vida toda fazendo viagens ao redor do mundo e escrevendo sobre seus passeios. Esteve em lugares distantes uns dos outros, e das mais variadas culturas. Percebeu, entre tantas idas e vindas, que a melhor maneira de apreciar cada um dos espaços que visitou era reservando um tempo para ficar na quietude.

Tirar o pé do acelerador, descansar e meditar têm sido práticas cada vez mais procuradas por quem vive uma rotina acelerada. E quem é que não vive atarefado hoje em dia? Fato é que estamos conectados o tempo todo, acessando e-mails, fazendo ligações e trocando mensagens. O trabalho tomou um tempo considerável em nossa rotina, deixando pouco espaço para momentos de lazer, ou mesmo de quietude.

Quem me conhece sabe que uma das coisas mais difíceis para mim é tirar férias. Nem me lembro a última vez em que me ausentei por um tempo longo da Revide. Ainda assim, tenho descoberto, em alguns momentos do meu dia a dia, espaços para tentar acalmar a mente e o coração e me distanciar do cotidiano atarefado. A principal válvula de escape talvez seja a yoga, que pratico há mais de cinco anos.

Como eu, muita gente não consegue ficar distante do trabalho, da casa e da rotina. Isso não é desculpa para não tentar se acalmar, reduzir a marcha e manter a quietude. No livro, Iyer explica que não é preciso tirar um grande período sabático para pôr as ideias em ordem – por mais agradável que seja a ideia de se ausentar sem preocupações. Há a possibilidade de encontrar caminhos para manter uma mente sã mesmo no dia a dia.

“Seja como for, pouca gente tem a possibilidade de se afastar das tarefas diárias por muito tempo; por isso, o lugar nenhum tem que poder ser visitado nas esquinas da vida: fazendo uma caminhada diária, pescando ou simplesmente sentando em silêncio por trinta minutos toda manhã (o que representa 3 por cento do tempo em que ficamos acordados). O objetivo de armazenar quietude não é enriquecer o santuário no topo da montanha, mas sim trazer essa calmaria para a agitação do mundo moderno”.

Visitar o lugar nenhum é estar mais perto de si, é encontrar calmaria, é se revigorar indo devagar em um mundo onde todos vão com pressa. Como diz o autor, em uma época de movimento constante, nada mais urgente do que permanecer parado. 

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