Unir para agir

Unir para agir

Desde que tive a experiência de trabalhar na Prefeitura de Ribeirão Preto, aprendi o valor do trabalho conjunto e da necessidade de se compartilhar gestões para que o resultado seja positivo e não um desperdício de tempo e de dinheiro. Pude notar, também, o quanto é difícil estabelecer uma logística entre as secretarias para que o trabalho seja feito de maneira eficaz. Por mais que a ideia de manter uma administração conectada seja interessante e fundamental, na prática pode ser bem difícil.

Ao passar pela Avenida Francisco Junqueira, por exemplo, é possível notar que ela foi quebrada, de fora a fora, por conta de um reparo feito pelo Daerp. Possivelmente para fazer algum conserto na tubulação, o asfalto, que é recente, foi destruído — o mesmo aconteceu com o recapeamento feito no Boulevard. Só na Rua Altino Arantes, foram cinco lugares, também para reparos do Daerp. Imagine como ficou o tapa-buraco nesses locais.

Lembro do recapeamento dessa avenida, pois era secretária da Infraestrutura da Prefeitura quando foi possível realizar esse projeto. Sempre lamentei, enquanto integrante do governo municipal, a falta de diálogo entre as pastas e autarquias. Minha batalha, ali, era para que Daerp e Infraestrutura conversassem mais, tivessem mais diálogo, trabalhassem em conjunto. Cheguei a propor, à época, que antes de qualquer recapeamento fosse feito um trabalho de verificação da rede subterrânea de água e esgoto, para evitar a destruição da reposição asfáltica. Tenho para mim que sempre foram feitos dois trabalhos, quando na verdade a ordem deles estava equivocada. Primeiro era preciso notar se havia algum risco de rompimento – afinal de contas, a tubulação é antiga. Depois, podia ser feito o recape. Não o contrário, como ocorria — e ainda acontece.

Para mim, esse é um dos alertas mais importantes que podem ser deixados ao novo prefeito e à nova administração: ligação entre as pastas. É difícil, parece impossível, mas é fundamental. Eu mesma sofri muito nessa tentativa, e não consegui o sucesso que gostaria com ela. Não há como realizar um serviço público de qualidade sem que haja diálogo entre os responsáveis por esse trabalho. De nada adianta conquistar recursos para recapeamento, se algum tempo depois o asfalto será destruído. Existe, inclusive, uma lei municipal que exige que cada vez que se mexe no asfalto, em até dois lugares da rua, é necessário o recapeamento em toda a área e não somente do local quebrado. Isso garante a durabilidade do serviço. 

Agora, nesta ação de recuperação asfáltica que será feita em sete bairros, já existem denúncias da baixa qualidade, sem que o trabalho ainda esteja pronto. Essa é outra medida que precisa ser adaptada: contratar uma empresa especializada na certificação da qualidade do produto, o famoso controle de qualidade, que não pode ser feito no “olhômetro”. É preciso dizer à população como é a dinâmica do trabalho. Em um primeiro momento é feita a limpeza do asfalto velho, depois vem a massa asfáltica e o Cimento Betuminoso Usinado a Quente (CBUQ), que é a última parte do recapeamento. A população, já cansada, começa a falar sobre aquilo que ainda não está pronto. Se houver transparência nos processos, certamente essas reclamações cessam. Parecem-me desnecessárias, talvez um excesso de marketing, as idas do prefeito aos locais para fazer vistoria. O mais sensato seria que um grupo de técnicos realizasse essa tarefa. 

Para tudo isso, é necessário planejamento. Continuo a acreditar, como acreditava enquanto secretária municipal, no Sistema de Gerenciamento de Pavimentação Urbana (SGPU), uma plataforma alimentada com dados sobre o asfalto: condições, idade e qualidade do pavimento, que seriam registrados criteriosamente para que a cidade fosse mapeada e, assim, os recursos fossem empregados de forma dinâmica e eficaz.

A atual administração divulgou o plano de investir R$ 2 milhões mensais na recuperação asfáltica da cidade. No entanto, esse dinheiro — que ainda não está disponível nos cofres públicos, diante de tantas dívidas da administração — só será bem empregado caso tenha planejamento. Digo isso por experiência própria. Estive lá e verifiquei que sem o apoio irrestrito do prefeito, não dá para ter êxito. Sem organizar um projeto e ter um plano de trabalho, de nada adianta tapar buracos. Se for assim, o resultado será muito semelhante ao que vemos nas ruas hoje: asfalto que não se sustenta e buracos que ressurgem poucos dias depois de tapados. 

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