Um olhar para as artes visuais na educação escolar: imagens e suas leituras

Um olhar para as artes visuais na educação escolar: imagens e suas leituras

            Consideradas como um componente central da comunicação nos dias atuais, as imagens – e sua ampla difusão – fazem com que a sociedade contemporânea receba, muitas vezes, o status de uma sociedade imagética. Pare para reparar, elas estão em todos os lugares, com as mais diversas funções: nos cartazes informativos, nas embalagens de produtos, nas ilustrações de livros e revistas e, mais recentemente com as mídias virtuais, elas dominam as timelines das redes sociais.

            Mas, diante de tantas imagens a que temos acesso cotidianamente, qual tem sido o movimento de nosso olhar?

            A autora Lúcia Santaella (2012) afirma que diante do grande número de situações a que somos submetidos às imagens todos os dias, “praticamos o ato de ler de modo tão automático que nem chegamos a nos dar conta disso” (SANTAELLA, 2012, p.11).

            Afinal, as imagens comunicam de forma tão objetiva e imediata que um simples olhar dê conta de todos os seus sentidos possíveis?

            Diversos estudos a respeito da imagem e da cultura visual vêm sendo realizados atualmente e apontam para a necessidade de se buscar compreender as imagens a partir de uma postura crítica, de questionamento à sua transparência e objetividade. Pode-se dizer, portanto, que longe de configurarem objetos de contemplação passiva, as imagens requerem do espectador uma leitura ativa e investigadora. Nesse sentido, o papel da escola é fundamental.

            Contudo, ao pensarmos no contexto escolar nos deparamos com um paradoxo. De acordo com Quevedo (2012, p.15), “vivemos numa sociedade plena de imagens, mas que tem dificuldade de lê-las. Seja porque a escola subestime a necessidade de fazê-lo, seja porque (e até mesmo porque) à imagem é imputada essa ‘evidência de sentidos’ (quiçá maior do que a atribuída à escrita)”.

            Essa é uma constatação preocupante, já que o que se encontra na realidade das escolas, no que diz respeito às práticas de leitura e escrita, é a tradição da leitura parafrástica, ou seja, da leitura caracterizada pela repetição, pela estabilização e pela reprodução de um sentido único que se supõe ser o do texto.

            O que o professor não pode perder de vista, porém, é a noção de que “não há sentido sem interpretação” (ORLANDI, 2012, p.9), ou seja, para que haja a atribuição de sentidos, visando uma leitura efetiva, é preciso que haja espaço para que os alunos se atrevam nos gestos interpretativos. E onde se abre espaço para a circulação dos diversos sentidos possíveis, não há espaço para a imposição de um sentido único, pronto e acabado. Essa afirmação se faz ainda mais importante ao considerarmos a imagem, como arte-visual, no âmbito das linguagens artísticas, posto que falar sobre essa linguagem requer que falemos sobre a possibilidade de leituras mais abertas e interpretações mais diversificadas, dado o caráter polissêmico das produções artísticas.

            Concordamos com Neckel (2015, p.275), ao defender que “tomar a imagem enquanto materialidade significante, considerando os funcionamentos dos discursos nos quais se inscreve, constitui um gesto que vai na contramão de falar da imagem enquanto evidência, é tomá-la em sua opacidade”. Assim, para que a transparência e a literalidade de sentido das imagens sejam colocadas em questionamento, é preciso que a escola assuma a responsabilidade por promover leituras que busquem pelos sentidos que ultrapassam a primeira impressão, superando a tradição da leitura parafrástica.

            Exercitar o olhar que analisa, que investiga e interroga nos coloca em outra relação com o universo imagético, com leituras menos ingênuas e efêmeras, sobretudo na sociedade imediatista em que vivemos, na qual somos convocados a responder, quase que instantaneamente, a cada mensagem e informação a que somos submetidos.

 

Mestranda Caroline da Cunha Moreno

Prof ª Dr ª Elaine Assolini

 

Referências bibliográficas:

NECKEL, N. R. M. Das discursividades da imagem e suas projeções sensíveis do/no discurso artístico: um percurso em AD. In: TASSO, I; CAMPOS, J. (Orgs). Imagem e(m) discurso- A formação das modalidades enunciativas. Campinas, SP: Pontes, 2015.

ORLANDI, E. P. Autoria, leitura e efeitos do trabalho simbólico. Campinas: Editora da Unicamp, 2012.

QUEVEDO, M. Q. Do gesto de reparar a(à) gestão dos sentidos – Um exercício de análise da imagem com base na Análise de Discurso. Dissertação (mestrado)- Universidade Católica de Pelotas, Pelotas, 2012.

SANTAELLA, L. Leitura de imagens. São Paulo: Melhoramentos, 2012.

           

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