Buracos abertos

Buracos abertos

Há crateras por todos os lados, mas muitos tentaram evitar que fossem abertas

A prefeita Dárcy Vera (PSD) vem cavando, ao longo de suas duas gestões à frente da Administração Municipal, alguns buracos, nos quais começa a pisar agora com mais intensidade. Terá pés doloridos. Muito doloridos.

Não se trata, no entanto, dos buracos que estão nas ruas aos milhares, quebrando as suspensões dos veículos. Há buracos administrativos que vão acompanhar a hoje prefeita para sempre. Entre uma intimação e outra ela irá se lembrar das falhas cometidas, muitas vezes por teimosia.

Não se sabe se a prefeita foi mal assessorada ou se simplesmente deixou de ouvir orientações de assessores diretos. A segunda tese é a mais provável. Não apenas pela reclamação de secretários e pessoas próximas, mas por exemplos aplicados.

Em uma de suas principais falhas administrativas em 2013, e que ajudaram a levar à rejeição das contas, ela simplesmente ignorou tudo que a imprensa publicou a respeito, na época. Jornais se cansaram de afirmar, com base em entrevistas de especialistas, que ela não poderia sacar dinheiro do Instituto de Previdência dos Municipiários (IPM). Também os vereadores de oposição alertaram. E ela fez ouvidos de mercador e sacou. Há quem diga que na calada da madrugada.

O resultado foi sacrificar o contribuinte de Ribeirão Preto com o pagamento de mais de R$ 20 milhões de juros e multa por ter tomado a medida, considerada ilegal pela Justiça. Ao parcelar o desajuste, também transferiu para a futura gestão parte do problema criado.

Ela ainda foi alertada para o risco do descompasso entre as receitas e despesas. Os déficits orçamentários foram se acumulando e, claro, colocando a vida financeira da prefeitura em risco. Foram muitos os outros alertas.

Dárcy não ouviu. Ignorou e avançou os sinais todos que se lhe impuseram. Paga agora pelos erros cometidos. Não os cometeu mais porque ações judiciais impediram e determinações do Tribunal de Contas do Estado (TCE) impediram. E, forçosamente, os contribuintes pagam pelos erros cometidos.

Não fosse a ação de opositores ela teria muito mais a responder. As licitações por Regime Diferenciado de Contratação (RDC), por exemplo, só não ocorreram por ações de oposicionistas. Caso contrário teria mais um buraco, bastante profundo, a enfrentar.

Agora ela encerra um governo desacreditado, com contas rejeitadas e problemas judiciais que tendem a se acumular após o final de seu período à frente da prefeitura. Pior. Pode ser impedida de disputar eleições e sofrer condenações pesadas.

Aparentemente foi por teimosia. Por satisfação do ego. Mas não deve ser apenas isso. Ah, e esse texto não é para reafirmar a frase do "eu tinha dito". É para alertar os cidadãos para que fiquem de olho no modo de agir das autoridades.

OUTROS BURACOS
O ex-vereador, ex-deputado estadual e federal, ex-prefeito de Ribeirão Preto (duas vezes) e ex-ministro da Fazenda e Casa Civil, Antônio Palocci Filho (PT), começou cedo a cavar alguns buracos que também lhe feriram os pés. A prefeita Dárcy Vera começou um pouco depois, mas de forma bem eficiente.

ÔNIBUS “GRATUITO”
Em 1988 Palocci foi eleito vereador. Tinha 28 anos e, claro, era bastante ligado à juventude. Assim, seu principal projeto em dois anos como vereador foi propor a isenção de tarifa de ônibus para estudantes. Com ajuda de manifestantes na Câmara, teve o projeto aprovado e prontamente vetado pelo prefeito da época, Welson Gasparini (PSDB), por vício de iniciativa. Em 1990, Palocci foi eleito deputado estadual e, em 1992, prefeito de Ribeirão Preto pela primeira vez.

MESMO VENENO
O vereador Coraucci Netto (PSD) não teve dúvidas. Com o ex-vereador na chefia do Executivo, copiou o projeto de Palocci e defendeu isenção de tarifa para estudantes. O prefeito que antes "gostava" da ideia teve que rejeitá-la, não apenas por questões de legalidade, mas também por falta de condições financeiras de colocá-la em prática.

DE OUTROS BOLSOS
A prefeita Dárcy Vera conseguiu determinar a isenção de tarifa para os estudantes da rede pública. Como não existe almoço de graça, o transporte dos alunos é pago pelos demais passageiros e pelos contribuintes de uma forma geral, em função dos subsídios pagos pela prefeitura. Cujo pagamento está atrasado, para não fugir ao costume.

MOEDAS ELEITORAIS
São estas moedas eleitorais que o eleitor não suporta mais. Há sempre alguém querendo tomar injeção com braço alheio.

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