O melhor do amor

O melhor do amor

Se você é homem, assim como eu, vai concordar certamente comigo. Afinal, não há homem no mundo, homem mesmo, assim como eu que escrevo e você que lê este texto, que não adore quando elas fazem isso com a gente. É um momento único, de inefável prazer, destes inesquecíveis.

 

Mereceria até, arrisco, uma placa de bronze, não, de ouro, na sala de casa. Logo abaixo desta suposta placa, uma foto, em close, mostrando a nossa expressão de felicidade, a própria imagem do nirvana estampada em nosso semblante masculino. Ah! Não há nada no mundo, ou na Via Láctea, ou até no universo sideral que seja melhor do que estar, por exemplo, vendo a decisão do campeonato brasileiro ou o finalzinho daquele filme de ação e ela, nossa amada, sentar-se ao lado para discutir a relação. Ô trem bão!

 

Não sei que palavras meigas e carinhosas você usa, amigo leitor, para denotar toda a sua alegria e contentamento nesta hora. Eu, se me permite a confidência, tomado por tamanha felicidade, só tenho tempo de abrir o mais largo dos sorrisos e sussurrar a ela a melíflua frase:

- Claro, senhora de minha vida e dona de meus ais! O que faria a este humilde escravo de seu amor mais feliz neste instante do que discutir a relação?

 

Afinal, convenhamos, que importância poderia ter o pênalti que meu time vai bater, aos quarenta e cinco minutos do segundo tempo, com o jogo empatado? Ou mesmo saber o que acontecerá com o instigante vilão, que durante todo o filme aprontou todas e mais algumas e, justo agora, vai ser explodido, esquartejado, incinerado e preso pelo herói da trama. Não, não, não! Nosso amor está sempre acima de tudo isso e nenhuma oportunidade deve ser perdida no intuito de deixar um relacionamento sempre em pratos limpos. Mesmo que os pratos sobre a pia estejam sujos, os cachorros latindo sem parar e as crianças comecem uma guerra com o macarrão que sobrou do jantar. Discutir a relação é sempre ma-ra-vi-lho-so!

 

Penso até que o único motivo que levaria este esposo fidelíssimo ao crime da traição seria a privação destes agradáveis diálogos dentro da própria casa. Imagine só! Levado por tamanho desconforto, teria que anular todos meus princípios para buscar na vizinhança o que faltasse em casa:

 

- Fonseca, você aqui?

- Oi, Petrônio! Olha, desculpe a hora, mas a sua mulher está?

- Pô, Fonseca, mas o que você quer com a Silvia? E às três da manhã?

- Eu...é...bem... sabe... Eu queria discutir a relação!

- Que relação? Você está tendo alguma relação com ela?

- Não...claro que não! Mas é que a Bete, sabe, a minha mulher, anda tão zen ultimamente, achando tudo tão bom, que eu estou sentindo falta de discutir a relação com alguém. Aí eu pensei: quem sabe você não empresta a sua? É só por umas doze horas!

- Tá bom! Vou falar com ela! Mas não vá aceitar críticas à sua participação na educação das crianças, hein?

- OK!

- E nem argumentar sobre sua ausência afetiva e como você era diferente quando vocês, quer dizer, nós, ah, sei lá, éramos namorados!

- Claro! Claro! Vou deixar o melhor pra você!

- Então eu vou chamá-la! Ô Silviaaaa...

 

Evidente que há outras coisas que eu gosto, além de discutir a relação. Mas extrair a raiz do dente sem anestesia ou limpar uma caixa de gordura cheia de baratas não têm, nem de longe, a mesma emoção. De pensar que existe marido que não aprecia! Tem alguns até que, pasme, continuam com o olho na televisão, respondendo às perguntas, apelos e reclamações da mulher com monossílabos. Vê se pode uma coisa dessas!

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