Séquiço

Séquiço

Vista algo mais confortável, abra um bom vinho, diminua a luz e coloque aquele cedê do Wando para tocar: hoje o assunto é esse mesmo! Aquele que Humprey Bogart definiu muito bem, dizendo que as três melhores coisas da vida são um uísque antes e um cigarro depois. Pois bem, mesmo que você não fume e nem beba, vamos ao sexo! Mas não se anime demais, porque a  abordagem é literária apenas, não literal.

 

Mas vamos continuar os preparativos. Depois de criar um clima favorável, não se esqueça de botar as crianças para dormir, alimentar o cachorro, pagar as contas atrasadas pela internet e cortar as unhas dos pés. (Tenho um amigo que prefere que sua parceira execute esta última tarefa durante o ato, com os dentes. Mas isso já é depravação.) Resta ainda organizar a agenda do dia seguinte, trocar o óleo do carro, fazer trezentas flexões, arrumar as gavetas colocando as roupas em ordem cromática decrescente, tomar suas vitaminas e, fundamental, procurar no dicionário o significado de “peremptório”. Isso vai evitar que você comece a repetir mentalmente esta palavra de maneira ritmada, justamente no momento de maior cadência do affair, o que tiraria desastrosamente a concentração.

 

Pronto, agora o que sobrou de você está inteiramente à disposição dos instintos mais baixos, chamados assim porque acontecem preferencialmente na parte inferior ao umbigo, embora outras regiões possam ser exploradas antes, durante e depois, mas que conceitualmente não expressam minimamente a síntese do acontecimento. Agora você é uma máquina do sexo, um animal faminto à procura da vítima que lhe saciará com a própria carne. Resumindo, você está a fim e não há nada que possa impedi-lo, salvo um fdp de um ex-padre irlandês que apareça não se sabe de onde e empurre você para fora da cama. E quero ver quem vai me convencer da improbabilidade do fato. Por isso, feche a janela e tranque a porta!

 

Então chega o grande momento em que dois (ou mais) corpos uníssonos executarão a sinfonia do amor! Lambe aqui, morde ali, põe isso naquilo, aquilo acolá, fricciona, aperta - Ai, aqui não! -, vira, desvira e tcham, tcham, tcham, tcham: o extase! E acabou! Lá está você diluído entre pernas, lençóis e travesseiros, em sintonia com a paz universal e a dança dos planetas, num momento único em que toda sua existência poderia ser resumida. Tudo converge para a plenitude e você não precisa de mais nada. A não ser ligar a tevê para saber o resultado da última rodada do paulistão.

Para alguns poucos homens - com os quais não comungo, viu benhê - chega a hora de que o Paulo Francis chamou Efeito Catapulta. Tudo o que sujeito gostaria – que horror, hein mulheres? – é de ter um botão ao lado da cama que arremessasse a fulana para longe dalí. Coitada! Ela só queria ficar deitadinha de “colherzinha” com seu amorzinho.

-Fofito?

-Hummm?

-Você me ama?

-Hum rum!

-Muito?

-É!

Um breve silêncio.

-Quanto?

-Ah, sei lá!

Já choramingando.

-Você não sabe o quanto me ama?

-Ai, ai, ai! É um tantão assim, ó!

-Então fala!

-Falar o quê?

-Fala que me ama, uai!

-Pra quê?

-Pra eu saber, Fofito!

-Mas você não sabe?

-Eu sei! Mas é como seu não soubesse, porque se você não diz fica uma dúvida e blablablablá...

-Ô, saco! Eu te amo, tá? Agora me deixa dormir!

-Nossa, você é tão romântico!

 

E assim chegamos ao fim de mais uma crônica, onde eu e você, leitor, transamos metaforicamente por absoluta falta de assunto. A parte boa é que eu não precisarei mandar flores amanhã e muito menos propôr casamento. E menos ainda prometer que ligo depois. É só virar a página e partir para o próximo texto.

Mas antes, uma última pergunta: foi bom pra você?

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