Educação e inteligência: não culpem os professores

Educação e inteligência: não culpem os professores

            Em quase todos os lugares do mundo, e o Brasil não é exceção, os professores são, usualmente, culpados ou elogiados pelo desempenho acadêmico de seus estudantes. Quando se observa a grande variedade de pesquisa educacional, é fácil constatar que os professores são inteiramente responsáveis pelo sucesso educacional dos estudantes. Entretanto, em várias ocasiões, tenho argumentado, em meus escritos, que essa ideia é um grande mal-entendido. Tenho, então argumentado, que os professores são responsáveis por uma pequena fração da variabilidade total dos resultados escolásticos dos estudantes. Mas, isso não é novidade uma vez que tem sido repetido ao longo dos últimos cinquenta anos. Há um grande corpo de pesquisa, muito bem delineado, mostrando que este fato tem sido largamente ignorado pelos educadores.

            No caso, a maioria da variabilidade dos resultados educacionais está associada com os estudantes. Provavelmente, num valor tão alto quanto 90% nas economias desenvolvidas. Uma porção elevada desta porcentagem, estimada entre 50 e 80%, deve-se a diferenças na habilidade cognitiva geral ou naquilo que chamo inteligência. O mais importante é que a pesquisa educacional tem fracassado em focalizar as características dos estudantes e, em não o fazendo, nós nunca seremos hábeis em melhorar o sistema educacional. Cabe, então, perguntar, por que temos ignorado o papel da variável estudante por tanto tempo. Posso apontar algumas razões. A principal, talvez, sendo que as pessoas parecem ignorar as pesquisas que destacam o papel do estudante pelo fato de se concentrarem nas coisas que elas podem mudar facilmente e ignorar as coisas que elas entendem que são imutáveis. Características associadas com escolas e professores parecem fáceis de serem mudadas, enquanto aquelas associadas com estudantes parecem menos plausíveis de modificação.

            A grande falácia neste argumento é que se apenas uma pequena porção da variabilidade está associada com escolas, e uma grande porção com estudantes, então, mudanças na escola, não importa o quão efetiva sejam, produzirão, apenas, pequenos efeitos. Aqueles que argumentam sobre a importância da instrução supõem que qualquer um pode aprender qualquer coisa desde que tenha, deliberadamente, prática suficiente. Os professores também sendo instruídos serem críticos no processo de aprendizagem. O interessante é que, segundo grande volume de pesquisa, esta afirmação é verdadeira apenas quando a contribuição do estudante é deixada de lado.

            Outra razão é que, diferenças entre estudantes são ignoradas, bem como, há uma forte tradição na cultura ocidental em relação à igualdade entre os estudantes. Interpreta-se aqui igualdade como significando que todas as pessoas são iguais. Ora, há mais de cem anos que pesquisas sociais e psicológicas têm nos ensinado que uma pessoa é uma combinação de genes e experiência, o que ocasiona ser cada pessoa única, e, não, igual a uma outra, em sentido matemático. Talvez o melhor argumento que temos ignorado, e que possa ser o mais importante, para entender o desempenho educacional seja que educação não tem mudado desde quando surgiu a educação formal. Historicamente, as maiores inovações educacionais têm sido o livro impresso e o quadro negro. Este é um triste comentário sobre a educação, mas inteiramente verdadeiro. A ponto de, se Platão, ou Aristóteles, caminhassem em qualquer escola, ou sala de aula, de ensino fundamental ou médio, nos dias atuais, eles saberiam, exatamente, o que estavam fazendo e o que, provavelmente, estaria sendo ensinado. Ficariam, certamente, lisonjeados, por tanto que tem sido ensinado desde sua morte. Mas, na verdade, nada mudou na realidade do ensino.

            O grande problema da educação no mundo e, especialmente, nesta Terra Brazilis, como diz meu amigo Finotti, no nadar de cima, é que o sistema educacional tem francamente ignorado o papel massivo dos estudantes no seu próprio desempenho educacional. A despeito do vasto corpo de pesquisa que afirma o papel inequívoco, ou seja, sem margem de dúvida, da importância do nível cognitivo dos estudantes em qualquer que seja o nível educacional. Logo, por favor, não culpem o professor pelo mau desempenho nos escores educacionais brasileiros em exames internacionais.

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