PISA: UM RETRATO QUANTITATIVO DA EDUCAÇÃO BRASILEIRA

PISA: UM RETRATO QUANTITATIVO DA EDUCAÇÃO BRASILEIRA

 

          A Organização para a Cooperação do Desenvolvimento Econômico (OCDE) acaba de divulgar os resultados do Programa Internacional de Avaliação de Estudantes (PISA) de 2015, contendo análises dos exames de Leitura, Ciências e Matemática. Exames, estes, que avaliaram estudantes entre 15 e 16 anos, de 70 países convidados a participarem destas avaliações. Os resultados nestes domínios? Mostraram que importante parcela desses estudantes brasileiros ainda não sabe fazer uso de elementos básicos de matemática, bem como, tem poucas noções de interpretação de texto e uma insatisfatória capacidade de resolver questões científicas. Por conta disso, comparados aos outros alunos dos demais países, tais alunos do Brasil situam-se entre os últimos do ranking internacional, especificamente, no 63º lugar em Ciências, 65º lugar em Matemática e 59º lugar em Leitura.   Analistas da Educação Brasileira comentaram que tais resultados constitui uma verdadeira tragédia nacional. Muitos “sábios” disseram que, tais resultados, simplesmente reafirmam a cruel desigualdade que existe no sistema educacional brasileiro e que se torna fundamental, nestas circunstâncias, a necessidade de escolas mais bem equipadas, bem como, que haja um novo modelo de formação de professores e que o formato de ensino médio brasileiro precisa ser totalmente reestruturado. Muitos outros, educadores “sábios” que são, disseram que precisamos melhorar o salário dos professores, integrar o conteúdo escolástico com a realidade, melhorar a produtividade científica e a inovação no Brasil etc. Como entendemos a situação? Podemos entender esses resultados quantitativos a partir de duas quantidades de análises.

               A primeira delas é a comparação internacional. Os dados mostraram que os países asiáticos, como Cingapura, Japão, China, Vietnã, Coréia do Sul e Hong Kong, independente se os exames são em Ciências, Matemática ou Leitura, situam-se entre as dez primeiras colocações. De modo similar, destacam-se também a Finlândia, o Canadá, a Suíça, a Estônia e a Noruega. Já o Brasil, como já dissemos, seus irmãs e irmãs latino-americanos, situam-se, invariavelmente, entre as últimas posições. Isso é novidade? Não. Já nos idos anos de 2006, 2009 e 2012 o Brasil, nestas mesmas provas, situou-se entre os últimos. Os dados claramente mostram que os escores do Brasil em habilidades cognitivas fundamentais tanto para a vida, quanto para fomentar o desenvolvimento econômico, estão entre os piores do mundo em Educação. Quero destacar aqui, como disse inúmeras vezes nos meus escritos, que a correlação entre os escores do PISA, qualquer que seja o exame, das diferentes nações correlacionam-se em, aproximadamente, 0,70 - 0,80 com os escores dos respectivos QIs dessas nações. Na realidade, análises internacionais comparativas mostram que o Brasil estaciona no ranking em Educação e que, não apenas, não possui conhecimento escolásticos, mas, principalmente, está em defasagem de habilidades cognitivas básicas fundamentais para lidar com a complexidade cognitiva que grassa o século XXI.

          A segunda delas envolve as diferenças nos escores, individuais ou agregados, entre os diferentes Estados Brasileiros. Esta comparação certamente é interessante e reclama uma melhor interpretação e atenção de nossos “sábios” educadores, cujas análises são muito belas por fora, mas, extremamente, vazias por dentro. Vejamos alguns dados. Os estudantes do Espírito Santo ficaram com a maior média (435) nas três áreas examinadas, entre todas as unidades da Federação, superando, em pouco, o Distrito Federal (426). O Estado mais rico da nação, São Paulo (409), ficou, em média, na 7ª posição. Alagoas (360) ficou com a nota mais baixa. A diferença de até 79 pontos entre a melhor nota (Espírito Santos) e a pior nota (Alagoas), em Leitura, por exemplo, é gritante, para não dizer uma verdadeira catástrofe. Fizemos uma correlação entre os escores médios do PISA de 2006, 2009 e 2012, considerando todos os exames, com aqueles de 2015, obtendo a correlação elevada de 0,78. O que este resultado indica? Indica, claramente, que o ranking, ou seja, o ordenamento, dos escores dos diferentes Estados não se alterou nos últimos dez anos, haja vista que a correlação máxima é 1.

          Cumpre lembrar, também, um outro aspecto importante. Apesar de os governos federal e estadual clamarem que elevaram seus investimentos em Educação, tais políticas de investimento não se traduziram em melhoria nos escores quantitativos do PISA. Obviamente, Educação não é só avaliação, mas é melhor tê-la bem do que não tê-la. Importante destacar, finalmente, que essa desigualdade entre os Estados Brasileiros nos escores escolásticos está, ou reflete, também, a imensa desigualdade que já existe no Brasil nos diferentes indicadores sociais, econômicos e de saúde. O Brasil está perdendo competitividade não só em relação aos países mais ricos, naturalmente, mas, também, com os seus vizinhos da América Latina. Mas, a desigualdade interna, na Educação, revela uma grande disparidade nas principais regiões do país. Só há uma solução, a meu ver, louvados aqueles que me escutarem: melhorar as habilidades cognitivas subjacentes às competências Leitura, Matemática e Ciência. Ou seja, melhorar o ingrediente ativo necessário: a inteligência.

 

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