Questões acerca da liderança

Questões acerca da liderança

           Liderança é um constructo. E, como todo constructo, tais como, criatividade, inteligência, felicidade, entre outros, para estudá-lo, em toda a sua amplitude, devemos, via de regra, pontuar cinco questões principais. A primeira questão trata de suas dimensões: liderança é uni ou multidimensional? Há teóricos que a supõem única e exclusivamente baseada nos traços do líder, como a inteligência, a sociabilidade, o determinismo, a empatia, o neuroticismo etc. Outros teóricos, por sua vez, entendem que liderança é multifacetada e caracterizada por traços inatos, habilidades e competências aprendidas, bem como, depende da situação, da tarefa e das características da equipe comandada pelo líder. Cabe aqui mencionar, entretanto, que há, no Brasil, muitos palestrantes assegurando ser fácil apreender os segredos da liderança. Na verdade, os estudos científicos, acerca do processo da liderança, mostram, sim, que esta pode ser entendida como um traço, uma competência e uma habilidade que dependem de ser o líder orientado para a tarefa ou para os relacionamentos. A emergência deste conjunto de fatores certamente depende do contexto, ou situação, na qual o processo de liderança, ou seja, o líder e seus seguidores, se inserem, ficando evidente que, não há liderança sem seguidores.

            A segunda questão refere-se a quais variáveis, genéticas ou ambientais, determinam o líder. Neste contexto, torna-se comum perguntar se um líder nasce pronto ou se é possível alguém ser treinado para ser um líder. O que está sendo ressuscitado neste questionamento é o antigo dilema natureza versus criação. Acerca disso, são centenas os estudiosos que acreditam que liderança é inata, ou seja, que o líder nasce pronto. Se assim nós também o considerarmos, apenas algumas pessoas poderão assumir o papel de líder, o que nos pareceria ser algo elitista e excludente, considerando-se que, na outra face da moeda, há estudiosos que entendem liderança como um processo apreensível e dependente das características da situação e dos seguidores.

            A terceira questão refere-se ao questionamento de liderança ser passível de ser mensurada, e em quais contextos, a saber, variáveis do líder, variáveis da situação ou variáveis dos seguidores. É certo que um instrumento de medida deve englobar aspectos relevantes de cada uma dessas dimensões, o que não se trata de tarefa fácil, em especial quando considerado que o mundo corporativo-organizacional nos parece, atualmente, muito plano, onde tudo funciona, praticamente, em tempo real. Todavia, há inúmeras escalas, e questionários, que avaliam, e mensuram, estes aspectos com bons coeficientes estatísticos de fidedignidade e de validade.

            A quarta questão refere-se à possibilidade de a liderança poder, ou não, ser ensinada. Neste contexto, o que se indaga, então, é saber qual característica de habilidade, e de capacidade, bem como, quais traços e facetas, entendidos próprios do líder, devem ser ensinados. Um exemplo? Seria possível ensinar aos líderes serem mais criativos, mais inteligentes e terem mais inteligência emocional? Do mesmo modo, a capacidade de tomada de decisão, e de resolução de problemas genuínos, fluídos, poderia ser ensinada em laboratório ou na vida real? Como controlar as variáveis dos seguidores no contexto da emergência do aparecimento da liderança e de seu exercício? Certamente, você, leitor, já assistiu a inúmeras palestras de entendidos de liderança assegurando que, para se ser um líder, basta treinar, bem como, que, treinando muito, você conseguirá ser um grande líder. Desta forma, todos poderiam facilmente serem líderes: bastando treinar. Entretanto, é sabido, não é bem assim que as coisas acontecem.

            A quinta questão considera as implicações da liderança, ou seja, considera as seguintes indagações, “Para que precisamos de líderes?”, “Quais os aspectos positivos e negativos de uma liderança?”. Conhecemos, através da história, que já tivemos grandes líderes políticos, religiosos, educacionais e artísticos responsáveis por grandes transformações em seus domínios. Do mesmo modo, conhecemos, também, que muitos líderes foram, simplesmente, destrutivos, aniquilando não só corporações como, principalmente, nações inteiras. Por sua vez, há líderes transformadores-carismáticos que facilmente motivam seus seguidores a alcançarem objetivos comuns visando ao bem-estar coletivo. Do mesmo modo, outros são os líderes que elevam a satisfação no trabalho, o bem-estar subjetivo e, inclusive, mobilizam meios para o alcance do progresso econômico-financeiro de sua empresa ou nação.

            Em verdade, liderança é um processo complexo pelo qual uma pessoa, num dado momento, influencia um grupo para que ambos consigam alcançar metas e objetivos passíveis de lhes trazerem progresso e bem-estar social coletivo. Esta é a essência da liderança.

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