Poesia arquitetada

Poesia arquitetada

Um mundo de formas irregulares e extremamente sedutoras esconde Antoni Gaudí, famoso arquiteto catalão e figura de ponta do Modernismo. As obras de Gaudi revelam um estilo único e individual e estão em sua maioria na cidade de Barcelona.  Ao admirar qualquer uma de suas obras percebe-se nitidamente sua forte ligação com a natureza. Era um homem religioso e tinha a natureza como divindade máxima, e foi em suas formas orgânicas que buscou inspiração para suas obras – que viraram verdadeiros ícones da arquitetura mundial.

O estudioso Joan Bassegoda, arquiteto-diretor da Comissão construtora da Sagrada Família e profundo conhecedor das obras de Gaudí, traz uma reflexão sobre o assunto. Ele afirmou que “o segredo da sedução da arquitetura de Gaudí está no fato de que ele buscou as soluções técnicas das suas construções diretamente na natureza. Por isso, ele está sempre na moda e continua a ser admirado. Quem sabe a sua arquitetura estivesse fora do tempo e resistisse à classificação dentro de uma tendência ou escola concretas, justamente porque não tivesse como objetivo fazer arte, mas projetar formas funcionais e úteis”.

Inspirado pelas obras da natureza - elementos das construções se assemelham a formas vegetais petrificadas, Gaudí criou uma arquitetura fantástica, que escapa às classificações convencionais.

Sua preocupação em fazer com que as construções interagissem com o meio,  passava seus dias a observar e retratar o balanço do mar, flores, algas marinhas, troncos de árvores, as cores vivas do meio ambiente, além de revolucionar a arquitetura com sua visão inovadora, intuitiva e original. Era uma forma de manter viva a criança solitária que foi - sensível e de família humilde, mas com uns olhos tão azuis e lindos que emprestou essa beleza para tudo que via e criava.

Gaudí nos mostrou a grandiosidade da natureza, no poder que ela tem de nos encantar a todo o momento, e como ela é acessível. Como ele mesmo disse: “Uma obra de arte deve ser sedutora e universal.” E ele utilizou realmente a linguagem mais universal possível, que é a simplicidade e a sofisticação natural que nos cerca.

Concebido de um prisma modernista, o parque Güell, iniciado em 1910, é um conjunto urbanístico em que Gaudí integrou à perfeição a natureza e as artes plásticas. Entre seus detalhes fantásticos salienta-se o grande banco corrido, decorado por um mosaico de cacos de azulejos, que circunda uma praça sustentada por enormes colunas.

Ao longo de sua carreira, Gaudí parece ter aprendido as lições da natureza à maneira franciscana: se o arquiteto busca a funcionalidade em suas obras, acabará encontrando a beleza; se busca diretamente a beleza, conseguirá encontrar a teoria da arte, a estética ou a filosofia, ideias abstratas pelas quais Gaudí nunca se interessou.

"Gaudí - afirma Bassegoda - observou que muitas das estruturas naturais estão compostas de materiais fibrosos, como a madeira, os ossos, os músculos ou os tendões. Do ponto de vista geométrico, as fibras são linhas retas e as superfícies curvas no espaço compostas de linhas retas definem uma geometria com base em regras, centrada somente em quatro superfícies distintas: a helicóide, a hiperbolóide, a conóide e parabolóide hiperbólica. Gaudí viu essas superfícies na natureza e as transportou para a arquitetura".

No fim do século 19, o arquiteto catalão se inspirou em florestas para criar o interior de sua obra-prima, a catedral da Sagrada Família, em Barcelona. Mais de um século depois, a arquitetura está incorporando até mesmo materiais vivos em suas estruturas.

Nas últimas décadas, profissionais de todo o mundo examinaram de perto espécies marinhas, insetos e plantas para encontrar inspiração para seus prédios. Mas, hoje, o setor está mudando para uma maior compreensão de como a natureza responde a seu entorno e como o homem pode fazer o mesmo.

"Temos que construir edifícios que possam fazer mais usando menos. E o melhor lugar onde isso funciona é na natureza", explica Rupert Soar, engenheiro da Universidade de Nottingham Trent, na Grã-Bretanha.

 

 

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