Brasil, um país surdo

Brasil, um país surdo

"Late mais alto que daqui eu não te escuto"

(Valeska Popozuda)

 

Coxinha, Petralha... Tirando isso, é bizarro o Geraldo ter sido eleito em primeiro turno em São Paulo. O mesmo raciocínio que os "Anti-PT" utilizam para varrer o PT da política nacional, se fosse posto em prática, não elegeria Geraldo tão rapidamente. Mas, um eleitorado que vota pesado em Tiririca e Pastor Feliciano, não tem como qualidade forte o "raciocínio", penso.

E a Marina, que apontava como uma outra via, com o pressuposto de seguir a "vontade do povo" (conceito muuuuito abstrato), vai apoiar exatamente quem ela combatia.

Se eu achava a psicanálise uma ciência complexa e Lacan quase impossível de ler, depois dessa eleições, vou lê-lo com mais facilidade.

Mas vamos aos Dados do TSE que tive o prazer de calcular. Vamos lá.

1° lugar: Dilma com 43.267,668 votos

2° lugar: Soma de Abstenções não presenciais e presenciais (nulos e brancos) com 38.797,556 "votos"

3° lugar: Aécio com 34.897,211 votos

Se o sistema eleitoral brasileiro levasse em conta a "não participação" ou abstenção presencial e não presencial como um sinal importante, não haveria segundo turno. Ou, “tiriricando” aqui, seria o segundo turno entre Dilma e Inválidos, ou Dilma e Ninguém...

Ou seja, os mais de 38 MILHÕES DE VOTOS são informações mortas, não contam, são colocados para debaixo do tapete. Acho que esses 38 MILHÕES DE VOTOS são um sintoma de uma democracia idiota... e nesse sentido Tiririca está mais que certo, ele é o candidato perfeito!

O problema é que o sistema é montado no tudo ou nada, ou você participa - e escolhe entre os maravilhosos candidatos, ou não participa e fica quieto. E o mais perverso de tudo: você é obrigado a participar. A eliminação da obrigatoriedade do voto teria que ser a bandeira mais importante para se defender em nossos dias.

Se o número de abstenções continuarem a crescer no Brasil, pelo menos nisso poderemos ser comparados à Europa, que em 1979 tinha participação de 62%, e em 2014, 42,54%. A diferença é que os países europeus consideram as altas taxas de abstenção como um sinal importante de insatisfação. A percepeção dessa insatisfação leva os candidatos a elevarem o nível da política que pretendem praticar.

Em suma, no Brasil você vota nulo/branco ou se abstém de alguma forma do processo político e esse ato é entendido como um enorme NADA. Em países europeus, o alto número de abstenções é levado à sério como um informação importante que pressiona o aumento da qualidade dos políticos e da política em si. 

A participação nas eleições brasileiras é alta, tem taxa de 80,61%, mas é mascarada justamente porque há obrigatoriedade do voto, injustiça social enorme e a boa e velha compra de votos. Além disso, há na mente do brasileiro um mecanismo que o faz acreditar que “um presidente” ou “um político” salvador irá promover mudanças para melhor no futuro. Talvez porque sejamos demasiadamente cristãos e crentes que um dia o salvador chegará na terra e nos oferecerá o paraíso eterno.

O problema é que estamos insatisfeitos e não há mecanismos oficiais para a escuta dessa insatisfação. Sem esse mecanismo, vamos trocar seis por meia dúzia eternamente.

Conclusão que tiro: Não vale a pena levar as eleições brasileiras à sério e nem perder a amizade por causa disso. Em vez de modernizar a urna eletrônica com melhorias questionáveis como o “leitor de digitais”, concluo que o Brasil junto do TSE necessita urgentemente rever todo o processo eleitoral para que a participação popular, fundamento da democracia, seja realmente valorizada.

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Fontes: 

https://www.resultados-eleicoes2014.eu/pt/election-results-2014.html

https://www.tse.jus.br/eleicoes/eleicoes-2014/divulgacao-de-resultados-das-eleicoes-2014

 

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