Homem Cordial e o terrorismo nosso de cada dia

Homem Cordial e o terrorismo nosso de cada dia

É isso. Depois de toda covardia que vimos na França, sou obrigado e ler coisas do tipo: "Vai mexer com que tá quieto", "A França colocou o dedo na tomada" e outras coisas do tipo que nem vale a pena comentar. 

Interessante notar que muitos desses seres que compartilham essas bobagens tem em seus perfis muitas outras bobagens conservadoras como ser "contra os gays", contra o aborto e defendem atuação militar no país, além de, é claro, defender os ditos bons valores da família tradicional e o cristianismo. Apenas notei, numa passada rápida de olhos em algumas páginas de Facebook (timelines). Não foi uma pesquisa intensiva, mas foi significativa.

Ao mesmo tempo em meu blog, uma pessoa que nem se quer leu meu texto disse que eu ficava só criticando tal coisa, e me pergunta para que eu ficava só criticando se tal coisa que eu discutia fazia bem para certas pessoas?

Eis meu diagnóstico: o Brasileiro - e também o fanático - tem ojeriza a discussão e pensamento, pois o confunde o exercício de pensar como algo negativo e doloroso e, acima de tudo, porque é mal educado, mal estuda, mal sabe o que é ciência e se permite falar bobagens vergonhosas em púbilco (como justificar um atentado terrorista!)

Me vem na mente a figura do "Homem cordial", um termo inventado por Sergio Buarque de Holanda, no livro “As Raízes do Brasil” (1936) . A obra tornou-se chave de interpretação do país por identificar uma informalidade descompromissada com a ética, incompatível com a vivência democrática. 

Cordial não significa que somos um povo polido ou bem educado. A palavra “Cordial” em seu verdadeiro sentido, remete a coração/emoção. Esse povo se mostra afetuoso e expansivo, mas o problema se configura quando essa “qualidade” atinge as esferas públicas. Assim, somos individualista, avesso à hierarquia, arredios à disciplina, desobedientes a regras sociais e afeitos ao paternalismo e ao compadrio, ou seja, não se trata de um perfil adequado para a vida civilizada numa sociedade democrática.

Um homem cordial tem em seu peito uma convicção assim como um terrorista tem em seu peito uma convicção prestes a ser explodida para o mundo. Eles atuam em defesa das “coisas do coração” e portanto, não necessitam de justificativas plausíveis. Assim, explodir a cabeça de um jornalista que “critica” tal sistema religioso é evidentemente correto por si só. E desviar um milhão de reais para o “leitinho das crianças” por si só se justifica, posto que a família é o bem mais sagrado e importante – muito mais que o Estado e as outras famílias inclusive.

É importante manifestarmos nossa indignação ao presenciar certas aberrações ideológicas que banalizam covardemente conquistas tão importantes como a liberdade de expressão e o direito de pensar livremente.

#Je Suis Charlie


https://www2.uol.com.br/historiaviva/reportagens/o_jeitinho_do_homem_cordial.html

HOLANDA, Sérgio Buarque de. O homem cordial. In: Raízes do Brasil: 26 ed. São Paulo: companhia das letras, 1995.

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