Vestibular: o massacre

Vestibular: o massacre

Aonde fomos parar. A hora do desespero chegou. Pais e filhos, tardiamente, se mobilizam para rever as notas das redações do ENEM, entrar com processos para que o ENEM seja anulado.

Aonde fomos parar. Aluno de cursinho procura justificativas para tudo, por estar ali e outras coisas, como até ter por ido ao banheiro e não ter feito mais cinco ou seis exercícios. Quem vai para a “balada”, não é o protótipo do vestibulando que passará; quem não vai, não é mais humano, é só vestibulando.

Aonde fomos parar. Em época de crise, a família se propõe a fazer “sacrifícios”, pagar uma universidade particular, para ver o filho realizar o sonho, particularmente o que prestou medicina, sabidamente o “sonho” mais difícil de realizar.

Aonde fomos parar. Jovens sadios, inteligentes, belíssimos na sua juventude, com a vida inteira pela frente para descobrir o mundo, agora portam “olheiras”, a autoestima foi para o buraco, olhos estão sempre marejados, porque terão mais um ano, para “ver” as mesmas coisas, ouvir as mesmas piadinhas e parar de se auto-cobrar. Os olhos das pessoas conhecidas os incomodam: Veem neles supostamente as frases: “Não deu? Mais um ano?” “Coitado(a)?” e os que eram muito bons. A escola os enganou? Não, há todo um sistema viciado. Todos nós sabemos, Somos passivos: não, enganados.

“Mas o que interessa é que eu não passei”. O que deu errado? A escola massacra, afinal precisa apresentar “números” de aprovados, para angariar clientes. O professor estressado pressiona o ano inteiro, afinal aprovação é sinônimo de manter o emprego. Mesmo assim, me dediquei, corri atrás. O que eu errado?

Aonde fomos parar. Jovens frequentam psicólogos, psiquiatras, neurologistas, em busca de um “remédio” que possa aliviar o seu sofrimento, o medo das piadinhas, a inveja dos colegas que estão “dentro”. Eles não estão mais no “limbo” do cursinho.

Aonde fomos parar. Ninguém lhes disse que seria fácil, eles sabiam das dificuldades, porém questionam: E as noites mal dormidas? E as aulas amontoadas? E a agenda louca de um executivo de uma multinacional? E a perseverança? Onde ficam? O que é que deu errado?

As perguntas que mais ouço, na minha sala, são: Onde foi que eu errei? Como posso mudar o meu jeito de estudar? Por que fulano, que não fez nada, passou e eu, que fiz tudo, não passei? Nada do que fiz adiantou? Há tantos fatores envolvidos, que não há “uma única” resposta para nenhuma dessas perguntas..

Aonde fomos parar. É quase impossível mensurar a dor da perda. Qual perda? Não conseguir uma vaga em uma universidade? Não serve como consolo, mas essa concepção de fracasso é extremamente relativa: “O mundo é redondo”. Um dia em cima; outro embaixo. Questiono: O que é estar em cima? O que é estar embaixo? Não há fórmula mágica. Qual é o melhor cursinho? Todos? Nenhum? Qual? Talvez aquele em que a coordenação, os professores e os funcionários o(a) conhecem pelo nome.

Escrevi esse texto, não para consolar os “reprovados”, nem para aplaudir os “vitoriosos”. Mas, para ponderarmos todos, antes de chegarem os resultados. Eles é que importam no final das contas, Não é?

Aonde foi parar o nosso sistema deseducacional. Como está, abrimos espaço para os “mágicos de plantão” e os “iludidos à procura de milagres” e "os oportnistas" e os ministérios incompetentes. Entrar para uma universidade é muito fácil do que sair dela.

Ponderem.

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