NÃO É APENAS UMA QUESTÃO, MAS, UM DIREITO: SER OU NÃO SER.

NÃO É APENAS UMA QUESTÃO, MAS, UM DIREITO: SER OU NÃO SER.

     Em doze anos de carreira como psicólogo clínico vi e ouvi consideravelmente. Situações bastante diversificadas. Por isso mesmo, me divirto pensando que morrerei e não terei visto 90% de tudo possível. Natural. E, mais uma vez, aconteceu. Estou tentando entender mais um fato, no mínimo, curioso. Porque, no máximo, o inferno é o limite. E o inferno, pelo jeito, deve ser gigantesco, afinal, muito cabe nele!!! Inclusive “reis, rainhas e mentores”. Princesas não!!! Porque elas ficam condenadas ao limbo, sem saber o que pensar de si mesmas e para si mesmas, sem entender - porque pouco conhecem - o significado das palavras autenticidade, liberdade. O fato??? Escola de princesas. Aparentemente, rosa em seus temas, mas, sombria em seus objetivos.

        Seis dias por semana, atendo adolescentes e mulheres angustiadas por terem dificuldades de encaixe em um dito papel social o qual fulanos, na arrogância de controle da sociedade, inventaram e impuseram a elas. O já famoso trio de adjetivos “bela, recatada e do lar” nada mais foi do que um falso elogio como disfarce mal feito e cínica tentativa de atenuar a violência contra identidade individual feminina. A ideia de formar as tais princesas parece ser a busca pela institucionalização da violência referida, na medida em que tende a reforçar a convicção sobre predeterminações de funções segundo gêneros. Distorção alienante do caráter multifuncional do Homem. Entretanto, como demonstram as dinâmicas psicopatológicas, tais distorções são capazes de se tornarem crenças e, potencialmente, psicopatologias. Crenças como expressadas pela fala neo-maniqueísta de uma pequena menina:”todo jeito de princesa vamos dizer que é certo”. Se o “certo”, segundo o que foi ensinado à essa criança, está sendo resumido aos comportamentos e maneirismos da realeza (onde está ela?), o que seria o errado??? Dá até arrepio na espinha só de pensar nas possíveis respostas, muuuiiitttooo provavelmente limitadas e preconceituosas. Menina periférica, favelada, emancipada…???Errada, errada???!!! Mas, há de se admitir...Previsível esse “certo” para a criança princesa, pois, a ela também está sendo ensinado que são os “certos” da vida real. Tão vida real quanto inúmeros jovens e crianças - das classes mais abastadas - não saberem que existem miseráveis e pobres, nunca terem experimentado transportes coletivos, considerarem que a vida urbana é definida pelos shoppings de alto padrão e seus bairros e condomínios de luxo, etc. Quem dera fosse a vida, injusta e seletivamente plebéia, algo só de mentirinha. Vale também o questionamento sobre a imagem que se concebe ou se deseja construir de uma princesa. Apenas uma, traduzida, essencialmente, por apego à “perequetês”? “Sim, eu toco nas pessoas. Acredito que todos precisam disso”. Impossível não lembrar de Diana Frances Spencer - Lady Di. Considerando, principalmente, o fato de ter sido gente como qualquer um - não uma santa ou “princesa santa” - Diana simbolizava, indubitavelmente, a amplitude de conceitos do que pode ser uma princesa. Especialmente, a rebelada, a exausta, a renegada pelo Palácio. Mas, anteriormente à condição de Realeza, Lady Di expressava o que é ser humana, por meio de seus bons atos e seus atos falhos. Portanto, em função de interpretação ultra restrita, possivelmente, não será coincidência a matéria feita pelo Estadão ter como música de fundo algo mais parecido com trilhas de filmes de terror do que com as canções de obras da Disney, repleta de princesas altruístas. Soa susto e medo, nada de encantamento. Anton Tchekhov - médico, escritor e dramaturgo russo - disse que “a boa educação não está tanto no fato de não derramar molho sobre a toalha de mesa, mas em não perceber se outra pessoa o faz”. Em outro tempo, Dalai Lama falou que “cérebros brilhantes também podem produzir grandes sofrimentos. É preciso educar os corações”. Considerando ambas as falas, não é complicado entender a essência do que, “provavelmente”, precisa ser melhor desenvolvido na educação de uma pessoa. Acima de regras de etiqueta e polidez comportamental, é fundamental sempre o olhar cada vez mais solidário e as mãos estendidas ora para a direita, ora para esquerda, ora para frente e ora para trás. O tal “certo”, opressivo e autoritário, não derrama molho sobre a toalha de mesa, mas, lágrimas e sangue de muitos inocentes, incluindo crianças, pelas páginas dos livros de Geopolítica e História.

      “Uma verdadeira princesa mantém a postura de princesa, não importam as circunstâncias”. Qual seria essa postura? Sugestão preciosa, possivelmente diferente do que foi pensado na afirmação citada, é nunca complicar o que pode ser feito de maneira simples. A autora da sugestão??? Doutora Zilda Arns (1934 - 2010)...Mulher, médica. Bela ou Fera??? Ambas, dependendo das circunstâncias. Mas, sobretudo e permanentemente, muito humana!

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