NÃO É NECESSÁRIO SABRE DE LUZ

NÃO É NECESSÁRIO SABRE DE LUZ

     Em uma conversa informal, fui questionado sobre a veracidade ou não do conteúdo de um texto que escrevi, a respeito das experiências de vida - e especialmente de guerra - de meu falecido avô. Achei curiosa a dúvida de uma pessoa, o que me levou a pensar a respeito das possíveis sensações que teve ao ler minhas palavras no texto. Seriam de incredulidade, típicas de fatos difíceis de serem assimilados? Dias depois, vi notícias sobre um museu em Londres que conta, de forma ultra-moderna, a história do holocausto, bem como expõe, de modo interativo, relatos de sobreviventes, etc. A exibição da matéria foi introduzida por uma famosa frase do filósofo e político irlandês do século 18, Edmund Burke (sim, Che Guevara somente a repetiu): “Aqueles que não conhecem a História, estão fadados a repeti-la”. Interessante...O que disse Burke apresenta previsível e elevada pertinência, mas, mesmo assim, a história brasileira insiste em reeditar os mesmos vilões, seja em nível individual, coletivo, social, político, etc, gerando cansaço e descrença. Afinal, se estudiosos das mais diversas áreas de conhecimento, certamente, há muito se debruçam na compreensão do problema, seriam suas causas tão fortes que a vontade, necessidade de mudança e saúde comportamental humana ficaram fragilizadas e indefesas?

     Em linhas gerais, a Psicologia defende que comportamentos são preservados, intensificados, enfraquecidos ou extintos, basicamente, de acordo com as vantagens e desvantagens que os mesmos implicam na vida do sujeito e/ou sociedade. Obviamente, quanto mais vantagens - em suas várias intensidades - o comportamento produzir, mais o mesmo será mantido e repetido. Supostamente, o contrário teria consequência lógica, ou seja, o comportamento que determinasse uma consequência negativa (disfuncional), seria reduzido até sua extinção. Porém, em uma sociedade cuja saúde geral - incluindo a mental / emocional - é bastante suspeita, a lógica fica subvertida, já que, por uma série de hipóteses psicopatológicas, os comportamentos, cujas consequências são disfuncionais e negativas, ficam preservados e até, absurdamente, fortalecidos. Ainda que seja considerado o fato de que as consequências não ocorrem em termos de “preto e branco”, possuindo uma gama de facetas (força, dimensão, magnitude, etc…), o aspecto psicopatológico da situação está na percepção de que, aparentemente, as vantagens, oriundas de tantos comportamentos inadequados, existem, mas, para uma ínfima minoria de sujeitos, e por tempo ultra limitado. Voltando ao conceito de saúde mental, as ditas vantagens são vistas por tais sujeitos através de uma lente imediatista e restrita à um determinado momento, desconsiderando, portanto, a existência como algo de prazo, cada vez mais provavelmente, extenso, cujo resultado final, cedo ou tarde, carrega consigo o restabelecimento da lógica maior geral, abrangendo a comportamental, emocional, intelectual, etc. É que mediocridade não permite ao sujeito compreender o que se esconde por detrás do segundo seguinte. As brigas entre torcidas rivais - e até aliadas - parecem trazer, por um breve instante, a sensação de domínio. Só parecem...Assim como a violência doméstica soa determinar o controle de um sobre o outro. Só soa...Bem como a corrupção aparenta compensar devido à ganhos. Só aparenta...Sem, qualquer dúvida, em algum momento da vida, as etiquetas de todos os preços são reveladas indiscriminadamente. Conclusão resumida? O brasileiro médio tende a ser, realmente, péssimo administrador . Afinal, qual administrador, minimamente competente, não perceberia o custo benefício horrível de tanto comportamento tresloucado. Aliás, memória e visão histórica é característica básica de um administrador de excelência.

     A partir da noção evolucionista, a palavra civilização tem como significado o estágio mais avançado de determinada sociedade humana. “Uma arma elegante para uma era mais civilizada”. Essa é uma frase dita por Obi-Wan Kenobi, personagem da saga Star Wars, projetada nos cinemas do mundo todo, ao se referir ao sabre de luz, arma usada pelos Jedi, quando na defesa da sociedade. Para quem viu, até aqui, a saga, certamente, não terá memória de qualquer Jedi jogando fora sua arma principal. Burke, por sua citação, deixou claro que História é conhecimento, arma única para evitar erros e prejuízos presentes e futuros. Desse modo, nesse tempo, nessa realidade, nosso avanço social como civilização não tem o sabre de luz como objeto para defesa e preservação. Estaria o brasileiro jogando forma sua principal arma, fragilizando de morte seu caráter civilizado?       

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