"PRIVILÉGIOS"??? DEPOIS DESSA, SÓ QUERO PUXAR A CORDINHA PARA DESCER DA SUPERLOTAÇÃO.

"PRIVILÉGIOS"??? DEPOIS DESSA, SÓ QUERO PUXAR A CORDINHA PARA DESCER DA SUPERLOTAÇÃO.

   “A classe média não quer direitos, ela quer privilégios, custe os direitos de quem custar”. O autor da referida frase? Milton Santos, geógrafo, em seu tempo, um dos pensadores brasileiros mais respeitados do mundo, bem como seu legado ainda o é. Uma mente privilegiada, falecida em 24 de junho de 2001. Entretanto, aparentemente, mente mal ressuscitada nos dias atuais, por meio de bocas ferinas e posts virtuais preconceituosos. Irônico...Dias tão “deseducados”, paradoxalmente, recorrendo à uma figura tão associada à erudição, com a finalidade escusa de fundamentar ideias tendenciosas, sem qualquer caráter instrutivo e pouquíssimo realistas. Tão irrealistas quanto a insistência em certas convicções - explícitas ou não - tal como uma suposta solução social por meio da disfuncional luta de classes, a qual, praticamente, tornou-se mantra na voz de quem colocou a mínima noção de Cidadania em planos pra lá de inferiores. Justo a Cidadania, sem qualquer pretensão de parafrasear “The Beatles”, cuja definição é somente o que se precisa para a construção e manutenção de uma sociedade saudável. O restante, é duvidoso, possível discurso estritamente demagógico e pernicioso.

    Classe média quer privilégios? Qual classe média? E quais seriam exemplos desses privilégios? Estranho pensar nessa possibilidade quando falta para classe média, tanto quanto para todas as outras classes - com infeliz e óbvia variação apenas de nível e impacto -, o básico obrigatório previsto constitucionalmente. Afinal, nunca é demais recordar que saúde, educação e segurança são alguns dos pontos cujo Estado tem por obrigação garantir à cada cidadão. Não se trata de obtenção de privilégios. E, se alguém de fato os quiser, esse sujeito não tem qualquer fundamento em princípios cidadãos. Ou seja, indivíduos que desejam privilégios baseiam tais desejos em condutas duvidosas, quanto às mentalidades, essencialmente, egocêntricas e alienadas. Para tanto, não importa se tais indivíduos são da classe bilionária, milionária, rica, média, pobre ou miserável. Portanto, novamente, não se trata de obtenção de privilégios, mas, fundamentalmente, exigências de deveres e direitos sendo respeitados, como reza a Constituição Federal. Não é a classe média, ou qualquer outra, a inimiga perversa da sociedade, mas, quaisquer uns cujas atitudes são nocivas e deletérias para as direções humanitárias. Naturalmente, isso não significa qualquer defesa a favor de paradigmas hipócritas como retratados, cinematograficamente, em obras como “Mulheres Perfeitas”, “A praia”, etc, nos quais são abordadas ideias sobre sociedades sem conflitos. Não...Até porque, certos tipos de conflitos são necessários, transformadores, construtivos. Todavia, conflitos criados e estimulados por quem - sempre oculto pelas sombras do poder - nunca abriu mão de dar as cartas, com intuito único de auto favorecimento, somente irão manter o que já está ou até piorar. Sempre perceptível no Brasil a nefasta influência do “dividir para conquistar”. Frutos do egocentrismo...O real âmago de todo prejuízo. Desse modo, ainda haveria sentido para a insistência na ideia sobre “más intenções da classe média”?  Os números, segundo dados oficiais - do próprio governo - definem que a  classe média é a família com renda de R$ 292,00 per capita. Considerando a hipótese de uma família constituída por 4 pessoas, essa renda ficaria em R$ 1.168,00. Por outro lado, segundo dados extraoficiais (GEU - Grupo de Estudos Urbanos), a renda familiar da classe média estaria entre R$ 1,6 mil à R$ 8,1mil. Embora existam diferenças significativas entre os dois levantamentos, ambos (especialmente o oficial), demonstram que a palavra “privilégios”, mais uma vez, provavelmente, não tem uso lógico nesse assunto. Pois, na medida em que se tornou “complicado” confiar no recebimento de educação pública, saúde pública e segurança pública de qualidade, a classe média se vê “extremamente privilegiada” por ter que custear, novamente (e os impostos já pagos por ela e outras classes, contribuindo pela riqueza anual brasileira de 6 trilhões de reais???), de seu bolso privado, os três itens sociais indispensáveis já mencionados. É claro que se a classe média acaba ficando lesada, não é difícil imaginar como ficam as classes pobre e miserável??? E citando, mais uma vez, a questão dos impostos, dados oficiais (Procuradoria da República) demonstram que a corrupção no Brasil, anualmente, abocanha 200 bilhões de reais. Para se ter uma noção do que isso significa, basta entender o seguinte exemplo: o Programa Bolsa Família - tão polêmico e pensado a partir de todas as suas variações - tem o orçamento anual de 27 bilhões de reais. O total de dependentes do programa social governamental está hoje em 14 milhões de famílias. Assim sendo, o valor desviado pela corrupção - 200 bilhões de reais - é quase dez vezes maior do que seria necessário para manter 50 milhões de pessoas - membros das 14 milhões de famílias referidas - por um ano. Em outras palavras, a corrupção oficial - aceita, naturalizada e mediocremente justificada através de viés partidários, por muitos brasileiros - tira dos mais necessitados quase dez anos de vida...Sim, porque, olhada por vários pontos de vista (necessidades sociais básicas), corrupção pode ser encarada como genocídio consentido. E se consentido, todo caos e absurdo social, em última análise, pode ser interpretado como uma espécie de suicídio.

    Atualmente, o que aparenta ter se tornado, realmente, privilégio é a capacidade de percepção e raciocínio. Shakespeare disse: “Uma pessoa é única ao estender a mão, e ao recolhê-la inesperadamente torna-se mais uma. O egocentrismo unifica os insignificantes”. O pior, contudo, é quando o mesmo separa generalizadamente. Quando assim o faz não importando a faixa de renda, torna qualquer futuro, quando muito, rascunho rasurado do que poderia ser Vida.                  

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