REFORMA??? MESMO???

REFORMA??? MESMO???

     Nesse solo Mãe gentil, muito em breve, marchará uma legião de idiotas. Provavelmente, por simples comparação, os idiotas de hoje representarão uma ínfima fração do que será o (in)útil exército imbecilizado de amanhã. Norteados por uma estratégia perversa, marotos generais conduzirão, às avessas, seus soldados dementes em direção à absoluta derrocada. Os últimos assim farão felizes, cada um sem sentir uma bala na cabeça e outra no coração, ainda cantando palavras de ordem ensaiadas irracionalmente e à exaustão. Não haverá com o quê os altos escalões devam se preocupar pois, à revelia da inteligência, novas sentinelas da estupidez sempre estarão à disposição. No último dia 16, pôde ser ouvida, por todo território nacional, a batida de continência reverenciando a plena alienação.

     A qualidade dos indicadores educacionais do Brasil é, até o presente momento, informação que não valeria qualquer nostalgia. Mas, não há alternativa, pois, embora seja desesperador e enfadonho repeti-la, é sempre esperançoso relembrá-la para que, talvez, quem sabe, um dia, a molecagem (não, não me refiro à garotada) seja dispersada de seu eterno recreio e, voluntariamente, volte suas mínimas atenções e vergonha na cara para as lousas, laboratórios, etc. Lamentavelmente, o sinal parece ainda não ter tocado - ou os “pensadores” da educação nacional fingem não ouvi-lo - e, por óbvia consequência, em linhas gerais, também fica previsível o nível suspeito de formação do estudante brasileiro. Não à toa, a pergunta que dificilmente silencia entre os milhões de meninos e meninas, fundamentalmente, por não haver claras condições de encontrar respostas satisfatórias - mas sim, elas existem -, é famosa: “Para que vou usar isso na vida?”. Ainda que “mestres phds em zoeiras”, pseudo-lecionando nas mídias sociais, digam que tais conteúdos serão pedidos nas provas, e as provas também façam parte da vida, é facílimo notar a “impecável” manutenção do baixíssimo interesse dos discentes para com os conteúdos os quais, supostamente, deveriam ser entendidos e aprendidos por eles. Assim também é no Ensino Médio, sendo que tal desinteresse, e consequente evasão, fica ainda mais evidente e ganha contornos tragicômicos por haver algo interpretado, pelos jovens educandos, como ameaça de extinção da existência pessoal, chamado vestibular - ou qualquer outro meio que o valha. Entretanto, definir como solução - fingindo bombar massa cinzenta em todo esse sistema emburrecido e raquítico - a seleção de conteúdos da grade curricular, em função de suposta escolha profissional é, no mínimo, licença poética (será que muitos se lembrarão do que significa essa expressão?). Porém, usando claro português, a saída proposta é, ao menos, cinismo mesmo. A não ser que essa saída seja, na verdade, saída de cena brasileira definitiva de qualquer protagonismo mundial, de fato, relevante. Afinal, talvez seja mais razoável considerar como causadores de evasão no Ensino Médio outros fatores, tais como a crescente descrença, por parte dos estudantes, em mudanças sociais, especialmente oriundas do conhecimento e não da malandragem (“É no problema da educação que assenta o grande segredo do aperfeiçoamento da humanidade.” - Immanuel Kant); a frequente estimulação, exclusivamente, da ideia de prestígio e poder, principalmente como algo associado à qualquer atividade, exceto ao desenvolvimento acadêmico (“A educação é a arma mais poderosa que você pode usar para mudar o mundo.” - Nelson Mandela); a insistente secção e má administração das informações científicas, prejudicando a construção e utilização do conhecimento real, amplo e interdisciplinar (“A educação é um processo social, é desenvolvimento. Não é preparação para a vida, é a própria vida.” - John Dewey); a dependência, quase química, dos jovens em relação aos prazeres, tornando-os intolerantes à qualquer dor ou incômodo, ainda que em nome da reestruturação cognitiva, a qual somente o estudo, em sua real concepção, pode proporcionar (“A educação para o sofrimento evitaria senti-lo com relação a casos que não o merecem” - Carlos Drummond de Andrade); a proliferação de senhores da verdade no Brasil, pela qual, embasada por insano e medíocre orgulho, impede a prática do humilde e mais humano ato de se rever e reaprender (“Sessenta anos atrás eu sabia tudo. Hoje sei que nada sei. A educação é a descoberta progressiva da nossa ignorância” - Will Durant). A questão é que, entre tantos motivos possíveis que justificam a situação agonizante do ensino médio brasileiro, o escolhido para tendencioso debate e precipitado abate não é causa, mas, consequência de distorção das Ciências - bem como seus significados e importâncias -, propositalmente provocada por quem não tem interesse de ver surgir uma sociedade insaciável por conhecimento, que resultaria em irrefreável e permanente autoconhecimento e transformação.

     O Brasil, à continuar andando às cegas por esse trilho de ignorância histórica, inevitavelmente será atropelado tanto por modernos trens maglevs (quem não os conhece, convido-os a pesquisar), quanto por quaisquer antiquíssimas Marias Fumaças vizinhas ou de outros continentes. Se assim for, esse solo precisará ser muito mais do que apenas mãe gentil, ao se ver obrigada a manter no colo várias gerações de rebentos arrebentados e limitados por evitável idiotia. “Quando eu era criança, meus professores diziam: onde pensa que vai chegar sem estudar? Hoje eu sei muito bem: na presidência” - Danilo Gentilli. Será???

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