O Que Esperar da Nova Safra de Laranja

O Que Esperar da Nova Safra de Laranja

Marcos Fava Neves       

O USDA subiu para 81,1 milhões de caixas a safra da Florida deste ano (2015/2016). É fato que a indústria de lá vai parar mais cedo, ainda em maio, o que gera mais ineficiência ainda, pois aumentará muito a ociosidade industrial e de outras partes da cadeia produtiva.

De acordo com a Universidade da Florida, cerca de 90% dos pomares e 80% das árvores tem infecção por greening. Não são boas as perspectivas para os próximos anos se nada de inovador acontecer na produção.

Em abril mais uma vez cai o consumo de suco nos EUA em comparação com o mesmo mês do ano passado, em 5,8%. É uma queda monumental, pelo volume que consomem.

Continuam as apostas em estoques abaixo de 300.000 t no Brasil na metade do ano.

A oferta apertada deve antecipar os contratos dos varejistas europeus e levantar os preços para um piso mínimo de US$ 2000/t FCOJ no próximo ano-safra, é a minha aposta. Podemos ver ao longo da safra situação ainda melhor.

Tivemos o primeiro anúncio da estimativa de safra 2016/2017 no Fundecitrus em 10 de maio. Os próximos serão em 12/09/16, 12/12/16, 10/02/17 e fechamento de safra em 10/04/17. Envolveu 127 pessoas, percorrendo mais de 476 mil quilômetros, num trabalho que agregou além do Fundecitrus, a Markestrat, FEA-RP/USP e UNESP. Tenho a honra de estar neste time, na coordenação político-institucional e metodológica. Seguem alguns números:

A área com pomares de laranja, incluindo todas as variedades, é de 416.843 hectares, 6,2% menor em comparação com a do inventário de 2015. Os pomares de laranja implementados em 2015, que somaram 9.583 hectares, foram acrescentados no inventário deste ano. Os erradicados e os abandonados totalizaram 37.465 hectares. Tivemos uma importante redução de 26.759 hectares produtivos entre 2015 e 2016. Área que migrou provavelmente para cana e outras culturas.

Temos 6.510 ha de pomares abandonados, contribuindo negativamente para a sanidade do cinturão citrícola.

São 175,55 milhões de árvores produtivas e 16,46 milhões de não produtivas (sendo 11,26 milhões de pomares em formação e 5,2 milhões de reposição de árvores). No total temos 192,01 milhões de árvores no cinturão.

Destas, 66,0 milhões (34,4%) estão com idades acima de 10 anos, 73,8 milhões (34,4%) entre 6 e 10 anos, 35,7 milhões (18,6%) entre 3 a 5 anos e 16,46 milhões (8,6%) entre 0 a 2 anos. Em relação ao ano passado, as árvores produtivas aumentaram em 0,8% e chama a atenção que as improdutivas (0 a 2 anos) caíram em 30,6%, o que mostra menor renovação na citricultura.

Mais de 90% do cinturão citrícola é formado por quatro blocos. A Pera Rio com 34,70%, a Valência (inclui folha murcha) com 33,9%, Hamlin (inclui Rubi e Westin) com 15,8% e a Natal com 11,1%.

A distribuição por época de maturação das variedades mostra que 39,06 milhões das árvores são das variedades precoces (colhidas entre maio e agosto), 66,62 milhões são de meia estação (colhidas entre julho e outubro) e 86,33 milhões são das tardias (colhidas de outubro a janeiro).

A densidade média de pomares em formação é de 654 árvores/hectare, mantendo o patamar das 600 árvores/hectare alcançado a partir de 2013. A densidade média de pomares adultos, isto é, implementados antes de 2014, é de 467 árvores/hectare, um aumento de 4,24% em relação à do inventário anterior. Os pomares mais velhos apresentam menor adensamento médio (pomares com mais de 10 anos têm em média 392 árvores/hectare).

A idade média dos pomares adultos é de 9,8 anos, o que mostra um parque relativamente novo. No entanto, 39.053 hectares ou 7,5% das árvores produtivas apresentam idade superior a 20 anos. A densidade média desta parcela de pomares é de 344 árvores/hectare. Os pomares em formação chegam a ter  com 781 árvores/hectare (região de Altinópolis).

Do total de 7.558 propriedades de laranja, 5542 propriedades ou 71,72% detém menos que 10 mil árvores, e sobe para 82,93% se considerar as propriedades que possuem até 20 mil árvores. Estes 82,93% das propriedades respondem por 16,17% das árvores totais do parque. Portanto, as 1.295 propriedades restantes, que possuem mais de 20 mil árvores cada uma, equivalem a 17,07% do total de propriedades, mas congregam 83,83% das árvores. Cerca de 312 propriedades têm 60% das árvores do cinturão.

O uso da tecnologia de irrigação está presente em quase 100 mil hectares, ao redor de 25% da área produtiva.

A estimativa da safra de laranja é de 245,74 milhões de caixas (40,8 kg), sendo 45,86 milhões de caixas das variedades Hamlin, Westin e Rubi, 13,49 milhões das variedades Valência Americana, Valência Argentina, Seleta e Pineapple; 70,38 milhões da variedade Pera Rio; 84,48 milhões das variedades Valência e Valência Folha Murcha e 31,54 milhões da variedade Natal. Esta produção é 18,26% do que a da safra anterior (300,65) e a menor dos últimos 20 anos.

A produtividade média por árvore diminuiu em 19,08%, para 1,40 caixas/árvore, contra 1,73 caixas/árvore na safra passada. A produtividade por área também caiu 14,6% (745 cx/ha para 636 cx/ha). Devemos ter 22 frutos a mais por caixa (de 226 para 248) com taxa estimada de queda ligeiramente inferior (17,49% para 15%).  

O clima quente e chuvoso é o responsável pelas diferenças, pois após o período em que ocorreu abortamento de chumbinhos, foi observada chuva frequente e acima da média histórica em todo o cinturão citrícola, não houve as condições necessárias para indução de novas floradas significativas. Enquanto que na safra anterior 60% dos frutos eram da segunda florada, nesta a derriça nos leva a estimar serem quase 80% da primeira florada.

Outro fato é que como o clima impactou de maneira diferente as regiões, aumentou muito a variação entre as regiões, pois na derriça, por exemplo, a região sudoeste apresentou 600 frutas por árvore e na região noroeste, 268. Portanto, há regiões que estão bem e outras mal.

Como conclusão desta primeira estimativa, segue resposta que dei a uma das perguntas no auditório do Fundecitrus no dia 10 de maio: temos milhões de mudas a menos sendo plantadas, redução de áreas e menor renovação. Frutos por árvore e sua qualidade é uma questão conjuntural de produtividade e consequentemente, de produção. Já menor área, menor número de plantas e menor irrigação é um fator estrutural, que compromete o potencial de oferta futuro, ficando este potencial menor. Ou seja, em um ano onde a conjuntura está boa (clima e outros) o potencial produtivo (por danos estruturais) será menor, o que me leva a crer que dificilmente, quando tivermos super-safras (conjuntura excepcional), ela passe de 340 milhões de caixas.

Por fim, com safra menor no Brasil, safra menor na Flórida, mesmo com a queda na demanda, temos um período onde o oferta será menor que a demanda, resultando em menores estoques e preços internacionais maiores ao FCOJ e NFC, traduzidos em melhores preços das caixas de fruta, ainda beneficiados pela taxa de câmbio mais favorável (preço em reais da caixa). O citricultor que tiver frutas terá preços, o que ajudará a pagar dívidas de períodos anteriores de grande sofrimento. Como tudo na vida não tem apenas o lado positivo, o problema é saber qual será a interferência destes preços mais altos na já combalida demanda pelo suco de laranja.

O sinal mostrado pelo mercado mundial (demanda em queda contínua) é que este período de preços melhores no Brasil não deve significar euforia de plantios. O mercado mostra não haver espaço.

O PES  (Projeto de Estimativa de Safra) é um exemplo que a cadeia produtiva da laranja dá ao país, que todos devem se orgulhar. Neste segundo ano, foi menos difícil fazer (melhoramos na curva de aprendizagem), com menor número de conflitos e situações de negociação que nos desgastaram muito no primeiro ano, cresceu a confiança entre os agentes (todos os citricultores permitiram visitas às propriedades), houve um empoderamento do Fundecitrus, que deve ser a nossa organização principal na citricultura e envolveu duas das três principais universidades de São Paulo (USP e UNESP).

Além disto, o PES é um exemplo ao mundo produtor de laranjas e de sucos de frutas. Apresentei o projeto e seu método no Juice Summit (Antuérpia, 2015) que agregou todas as indústrias compradoras mundiais do nosso suco (mais de 400 pessoas) e também apresentei à cadeia produtiva de laranja dos EUA, em Lake Alfred (Florida) em janeiro deste ano, onde cientistas da Universidade da Florida e do USDA viram o que estamos fazendo e nos elogiaram. Fora isto, conseguimos com que o método e o trabalho fossem publicados no Congresso Mundial de Agronegócios (reuniões de Minneapolis em 2015 e agora foi aprovado para ser apresentado em junho de 2016 em Aarhus - Dinamarca), e em periódicos importantes da Alemanha e dos EUA. Isto é apenas o começo de tudo o que queremos fazer com o PES. Tenho orgulho, como brasileiro, nestes tempos tão difíceis, do PES e do trabalho que estamos fazendo, afinal, não são apenas más as notícias do Brasil ao mundo. Temos coisa boa para mostrar.

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