Gosto amargo

Gosto amargo

Não se deve ficar reclamando muito da situação, pois, como diz o ditado, o que está ruim, pode piorar. O ano que está terminando pode ser definido como conturbado e inesquecível. De forma bastante incomum, a situação nacional guardou relação com graves questões locais, que desmoralizaram Ribeirão Preto perante a opinião pública nacional. Nesse balanço final, parece que o país sobreviveu em meio a intensos conflitos políticos e sociais.

Para complicar, hoje, há uma guerra declarada entre o Judiciário e o Congresso Nacional, que medem forças semanalmente. As operações de combate à corrupção, tendo a Lava Jato como principal ferramenta, seguem fazendo uma faxina ética que parece não ter mais fim. De São Bernardo a Foz do Iguaçu, a Polícia Federal e o Ministério Público têm desbaratado numerosas quadrilhas que têm entre seus membros prefeitos, vereadores e deputados. Os principais ocupantes de cargos públicos estão sendo presos e processados. A extensa lista inclui os ex-presidentes Lula e Dilma Rousseff, o ex-presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha, e o ex-governador do Rio de Janeiro, Sérgio Cabral. Até cair, Geddel Lima era um dos braços do novo governo federal. PT, PMDB e PSDB estão na alça de mira. Todos esses  personagens jamais esquecerão 2016.

Além da crise política, econômica e da selvagem defesa de interesses corporativos, o ano ainda foi marcado por uma tragédia que abalou o país. A queda do avião do time da Chapecoense, com 71 vítimas fatais, soou como um profundo desalento. Se até então, o país convivia com dificuldades que poderiam ser superadas ao longo do tempo, a tragédia veio de forma definitiva, deixando marcas profundas que não se apagarão tão cedo. 

Ribeirão Preto também viveu o seu calvário com a descoberta de fraudes que desviaram, em princípio, cerca de 200 milhões de reais. Afastamentos e prisões feitas pelo Ministério Público e pela Polícia Federal tiraram da cena política vereadores, advogados, funcionários públicos, empresários, sindicalistas e a prefeita Dárcy Vera, que foi afastada do cargo e presa por alguns dias. São fatos que transformam 2016 em um ano único, histórico, marco de uma profunda mudança na política da cidade.

Os políticos afastados pela ação da Polícia e da Justiça e depois pelas urnas dominavam a administração pública local. Formaram um grande conluio que tinha tentáculos na Prefeitura, na Câmara de Vereadores, no Sindicato dos Servidores e até em empresas privadas. Num primeiro momento, foi traumático para sociedade descobrir que havia tanta roubalheira e afrontas ao interesse público. Este será lembrado como o ano em que a cidade assistiu a alguns de seus representantes serem gravados e filmados recebendo propinas.

Tanto para o Brasil quanto para Ribeirão Preto, todos esses dissabores, que não foram poucos, permitirão que surja uma nova era política. A queda dos coronéis e dos velhos caciques abre espaço para uma nova safra de políticos que foram eleitos no último pleito. Algumas caixas-pretas na Câmara de Vereadores, como o Regime de Tempo Integral (RTI) e a redução do número de assessores, já foram enfrentadas. Todo mundo sabe que existem outros cofres cheios de irregularidades e de mordomias que ainda precisam ser abertos.

O mesmo processo precisa ocorrer na Prefeitura. Apesar das dificuldades econômicas iniciais, a administração que tomará posse tem amplas possibilidades de realizar uma grande transformação na cidade. Como o governo que está terminando foi muito ruim, qualquer mudança para melhor, por menor que seja, fará uma enorme diferença. Contudo, isso será pouco. O novo governo precisa investir na transparência, tornando público os atos da administração, os salários e o patrimônio dos secretários. Assim, a sociedade poderá acompanhar de perto o governo que está se instalando. Embora as mudanças abram espaço para novas pessoas e práticas, elas não serão, necessariamente, boas e de interesse público. A Sevandija foi uma grande vitória, mas o jogo da moralidade, da transparência e da legalidade ainda não está ganho. A disputa continua em 2017 e precisará contar com atenção redobrada da imprensa e da sociedade. Boas festas e até 2017. 

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