O poder destrutivo

O poder destrutivo

A nostalgia e a saudade do passado induzem muita gente a pensar que os tempos de antigamente eram melhores do que os atuais. Por um princípio lógico não deveria ser assim, afinal, o que pode superar o prazer de se viver o presente? Contudo, as notícias veiculadas pela mídia tradicional e as redes sociais sugerem que o mundo atual está mais violento e mais desumano. Quem assiste a telejornal matutino ou vespertino fica com a nítida impressão de que o mundo se transformou numa Sodoma e Gomorra e está sendo destruído pelo fogo das guerras e da criminalidade. Na verdade, essa violência macabra sempre existiu, só que agora as sociedades são mais numerosas e estão bem mais expostas.

Entretanto, a exposição contínua e mais intensa das cenas de violência traz como consequência a banalização e a aceitação passiva. Ocorre um fenômeno parecido com alguns odores desagradáveis. Com o tempo, acostuma-se com o mau cheiro, brota uma indiferença, uma alienação que, com o passar do tempo, faz com que a realidade pareça cada vez mais imutável. Instala-se um ambiente desagregador, um regime de barbaridades, de atos ilícitos e desonestos que compõem uma trágica rotina. É a mãe que manda matar o filho, a senhora idosa que decide acabar com a vida do ex-companheiro, os políticos e os dirigentes sindicais que se unem para roubar o dinheiro público. A sociedade passa a viver sob a égide de um violento poder destrutivo. Um exemplo bem sintomático não poupou nem o Espírito Santo. 



Ribeirão Preto sempre teve algumas potencialidades enaltecidas e sérios problemas que se arrastam por décadas, mas desde o começo da segunda gestão da ex-prefeita Dárcy Vera a cidade começou a descer a ladeira da derrocada política, administrativa e econômica. Independentemente da gestão pública, uma sucessão de atos inaceitáveis, lentamente, estão se incrustando ao cotidiano, tal qual a sujeira que vai se impregnando nas paredes.

Os descalabros do Daerp e os desvios da Coderp, para citar apenas dois, não são novidade para ninguém, mas o império da destruição vai ampliando os tentáculos. O último ato deste sinistro roteiro foi o assalto do posto de saúde João Rossi, em que há a junção do caótico com o acinte. Os postos de saúde já oferecem atendimento precário em inúmeras situações. Se não bastasse isso, os assaltos se tornaram corriqueiros. Com relativa facilidade, ladrões invadiram a unidade, roubaram duas CPUs, uma televisão e danificaram arquivos dos pacientes pelo simples prazer de destruir. Desde o começo do ano, outras três unidades foram assaltadas, provocando pânico entre médicos e pacientes. Por conta dessa invasão, o posto não abriu, prejudicando o atendimento de uma comunidade inteira.

Sempre que ocorre um absurdo desse, seguem-se as mesmas explicações protocolares das autoridades que prometem se reunir “para estudar algumas medidas”, mas até o cidadão comum já sabe quais são as dificuldades públicas que parecem “insolúveis”. A Guarda Municipal e a Polícia Militar não possuem efetivos para garantir a segurança da cidade inteira. Como demonstrou o episódio do furto, em que os ladrões destruíram a cerca elétrica com um sofá velho, a segurança das unidades, sem câmeras de monitoramento, permite a entrada até mesmo do mais amador dos ladrões. Tanto faz se é de dia ou de noite, os postos de saúde estão abandonados à própria sorte, dando a impressão de que Ribeirão Preto está se tornando uma terra sem lei. 

A nova administração municipal assumiu a menos de 45 dias e, por isso, ainda tem direito a um desconto na cobrança, mas o Estado, aqui representado pela Prefeitura de Ribeirão Preto, pela Polícia Militar e por outros órgãos afins, não pode assistir com passividade a esse festival de assaltos. O cidadão comum precisa cobrar de seus representantes medidas simples e efetivas. Estamos em 2017, mas há mais de uma década a tecnologia se tornou acessível e barata.  Por qual razão a Prefeitura de uma das cidades mais ricas do país ainda não instalou câmeras de segurança para vigiar prédios públicos, já que não dispõe de efetivo suficiente para evitar roubos e atos violentos em locais que são de grande interesse público, como escolas e postos de saúde? Essa realidade precisa mudar o mais rápido possível. 

Compartilhar: