O triste fim da prefeita

O triste fim da prefeita

Não há nenhum país do mundo que esteja fazendo uma faxina política tão grande quanto a que ocorre no Brasil. O processo brasileiro está muito à frente de outros países emergentes, (México e Índia) ou das grandes potências (China e Rússia) onde a corrupção ainda permanece intocada. O detergente dessa faxina, a força-tarefa da Operação Lava Jato, recentemente, ganhou destaque mundial e recebeu, no Panamá, o prêmio anticorrupção 2016, concedido pela Transparência Internacional. A base dessa mudança está calcada nas manifestações que há três anos tomaram conta das ruas. 

Só neste ano, a mobilização popular afastou uma presidente que descumpriu a constituição e estava envolvida com a corrupção. Na sequência, caíram mais dois altos cardeais da política nacional. O famigerado Eduardo Cunha demorou, mas saiu. Esta semana, o eterno Renan Calheiros, que responde a 11 inquéritos e tinha virado réu no Supremo Tribunal Federal (STF), finalmente, foi afastado da presidência do Senado por uma liminar do ministro Celso de Mello. Vários políticos estão presos ou respondendo a processos. Ainda há uma enorme expectativa em relação às revelações da delação premiada da Odebrecht, que pode provocar mais uma devastação sem precedentes na política nacional.

Além dos políticos afastados, nas três esferas de poder, a grande vitória da onda que combate a corrupção é a quebra do sentimento de impunidade, que, até então, era generalizado e predominante no país. Na política local, a Operação Sevandija, com desdobramentos que ainda estão longe de cessar, revelou, de forma assustadora, a existência de um esquema criminoso que desviou milhões de reais dos cofres públicos. Além das pessoas físicas envolvidas no escândalo, as investigações demonstraram que instituições que deveriam preservar o interesse público, como vereadores da Câmara e a direção do Sindicato dos Servidores, se associaram de forma criminosa para roubar o dinheiro público. 

Assim, em um final de ano marcado por crise política, econômica e uma grande tragédia no esporte, a cidade vive, hoje, um misto de tristeza e de alegria. Tristeza por descobrir que foi saqueada sabe-se lá por quanto tempo. Decepção por constatar que o dinheiro que falta para tantas demandas sociais estava indo para o bolso de pessoas desonestas que foram eleitas para defender o cidadão comum. O sentimento de impunidade desse grupo corrupto era tão forte que os envolvidos no escândalo formaram uma quadrilha para desviar dinheiro público, mesmo em uma cidade que tem instituições como a Polícia, o Ministério Público, o Judiciário e a imprensa funcionando ativamente. Por outro lado, há um sentimento de alma lavada por ver que os fraudadores começam a ser punidos com a prisão, o confisco de bens, o bloqueio de contas e o pior de todos os castigos: a execração pública. As redes sociais demonstram que alguns ribeirãopretanos sentem tanta raiva que as reações até transbordam para manifestações odiosas.  

Segundo o procurador-geral do Estado, Gianpaolo Samnio, à medida que as investigações avançaram ficou evidente que Dárcy Vera estava à frente desse esquema que fraudou licitações e desviou recursos. Desde que a operação Sevandija foi deflagrada e as investigações convergiam para o envolvimento da prefeita, havia uma torcida explícita para que Dárcy Vera fosse punida. A popularidade da prefeita hoje está reduzida a zero, difícil encontrar, em Ribeirão Preto, moradores que defendam o seu governo. Só neste último capítulo, a Polícia Federal e o Ministério Público acusam Dárcy Vera e Marco Antônio dos Santos de terem se associado a advogados para dividir uma bolada de
R$ 69 milhões. Quando o golpe foi descoberto, o grupo já tinha recebido R$ 45 milhões. As tentativas de bloqueio desse valor na conta dos envolvidos mostraram que boa parte desse dinheiro já evaporou. 

A prisão da prefeita antes do final do ano foi surpreendente, uma demonstração de que a Justiça não está a fim de protelar processos e decisões. A prefeita, que por duas vezes recebeu a confiança dos ribeirãopretanos, em votações avassaladoras, termina seu mandato de forma desastrosa, deixando uma cidade mergulhada no caos, esburacada e endividada. Ao contrário do que prometeu quando tomou posse, que faria um grande e inesquecível governo, no dia 2 de dezembro de 2016, Dárcy Vera entrou para a história de Ribeirão Preto, não como uma grande administradora, mas na vexatória condição de primeira prefeita, em 160 anos, a ser presa no exercício do mandato. Sua carreira política está encerrada na cidade, mas Ribeirão Preto ainda vai precisar de muitos anos para se recuperar desse imenso estrago que Dárcy Vera deixou como legado. 

Foto: Julio Sian

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