As teorias dos conspiradores

As teorias dos conspiradores

A corrupção, a bizarrice e os fatos estapafúrdios se tornaram tão frequentes no Brasil que nada parece impossível. Por mais fantasiosa que seja a narrativa, há chance que se torne uma infeliz realidade. A esses componentes foi acrescida a possibilidade proporcionada pelas inúmeras mídias sociais que transformam cada cidadão em um jornalista em potencial, com ampla liberdade de expressão. Isso sem falar da oralidade, traduzida como o famoso boca a boca, cuja capacidade de propagação ganhou poderes devastadores. Somados, todos esses componentes fertilizaram o solo da teoria da conspiração, algumas providas de fundamento lógico e outras tantas desprovidas de qualquer nexo causal.
Boa parte da imprensa brasileira, do Judiciário e da Polícia não considera como casos encerrados os assassinatos do ex-prefeito de Campinas, Toninho do PT (2001), e de Santo André, Celso Daniel (2002). Quem matou a tiros o PC Farias em junho de 1996? Recentemente, mais duas tragédias sacudiram o imaginário popular. A morte do candidato à presidência, Eduardo Campos (agosto de 2014), em plena campanha eleitoral, levantou inúmeras especulações. Esse tipo de questionamento só não apareceu quando o helicóptero de Ulysses Guimarães caiu no mar de Angra e de Paraty em outubro de 1998. Por ironia do destino, nesta mesma região, no dia 19 de janeiro deste ano, caiu o avião do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF). Os corpos ainda nem tinham sido retirados do mar e já circulava na internet um laudo definitivo sobre as causas do acidente: “mataram o Teori.” 

Em Ribeirão Preto, recentemente, uma teoria conspiratória também ganhou força. Muitas pessoas propagavam a versão de que o suicídio do empresário Marcelo Plastino, envolvido na Sevandija, foi uma armação para escapar do processo criminal. A versão era sustentada com ênfase, mesmo que autoridades jurídicas e policiais tivessem comparecido ao apartamento do empresário logo após o suicídio e que tivessem confirmado a morte. Diariamente, outras tantas versões fantasiosas circulam pela internet. Quem já não leu em algum lugar que a Rede Globo se apropria do dinheiro do projeto Criança Esperança e que o juiz Sérgio Moro está sendo influenciado e agindo a mando dos Estados Unidos?

Embora não seja impossível, mas tenha cada vez menos probabilidade de ocorrer, a teoria da conspiração apresenta uma hipótese explicativa e especulativa que sugere que duas ou mais pessoas ou uma organização armam uma ação secreta para causar ou acobertar uma situação ou um evento considerado ilegal ou prejudicial. Muitas teorias conspiratórias não passam de suposições que contrariam a compreensão dominante dos fatos. Essas versões cresceram tanto que, no ano passado, a renomada Oxford escolheu a “pós-verdade” como a palavra do ano. Pesquisadores da Universidade declararam a irrelevância dos fatos objetivos para a formação da opinião pública. Na fase atual, há uma soberba preponderância dos apelos à emoção ou à crença pessoal.

Teori Zavascki era um ministro do STF que tinha sob sua jurisdição a principal investigação do país. Havia muita gente interessada em seu desparecimento, por isso, sua morte precisa ser investigada com rigor, mas daí a afirmar, precipitadamente, que o ministro foi assassinado, sem que apareça nenhum fundamento, alimenta a teoria conspiratória. Não se pode descartar a hipótese que o seu avião tenha sido sabotado, mas um olhar superficial sugere que as causas mais prováveis do acidente estejam na precariedade do aeródromo de Paraty.

Nesse mundo de transição, em que milhões de notícias circulam sem apuração, o jornalismo poderá resgatar a sua importância como ferramenta indispensável para checar informações, apresentar o contraditório, informar com credibilidade e corrigir a notícia quando houver algum erro. Isso evita que conspiradores se aproveitem do enorme fluxo de informações circulantes para propagar teses difamatórias, calúnias, mentiras, injúrias e crenças que atendam a seus interesses pessoais e políticos, mesmo que isso contrarie frontalmente os fatos.

O senso crítico recomenda que se duvide de qualquer informação. É preciso questionar a procedência e a credibilidade da fonte. O conspiracionismo atende a interesses pessoais, religiosos, políticos e econômicos e, muitas vezes, não passa de uma tentativa de demonizar inimigos ou de criar bodes expiatórios. Quem joga para frente informações falsas se assemelha ao receptador da mercadoria roubada. Torna-se uma espécie de laranja desse danoso processo antiético, imoral e até mesmo ilegal. Mesmo que de forma involuntária, acaba alimentando preconceitos, contribuindo para a criação de mundo distorcido e dificultando que as pessoas tenham uma visão mais real e objetiva da vida. 

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