Acolha suas emoções

Acolha suas emoções

 

Por Myrna E. C Coelho Matos- Psicóloga Clínica Comportamental

Você já notou como é difícil descrever, fielmente, os sentimentos? Não é nada fácil transmitir para o outro o que é experimentado somente por nós.  Na tentativa de explicar para nós mesmos e para o outro o que ocorre em nosso “mundo interno” nada nos resta a não ser recorrer as palavras que aprendemos para descrever o mundo físico. Veja, você já deve ter ouvido expressões como essas: “estou com um nó na garganta”, 'uma tempestade dentro de mim' e por aí vai. São tantas as expressões que , muitas vezes , apesar de nossas tentativas, ainda assim não descrevem fielmente o que se passa dentro de nós.

Precisamos tomar muito cuidado quando entramos no “campo dos sentimentos”, pois não há nada mais solitário e particular do que os sentimentos. Cada um de nós aprende a reagir de maneira particular às circunstâncias da vida, assim como, a descrever essas reações.

Nossos sentimentos são muito importantes, pois indicam exatamente como as circunstâncias nos afetam. Para nós, analistas do comportamento, dizemos que sentimentos são efeitos colaterais das circunstâncias vividas.   Por isso, uma sugestão: evite dizer para uma pessoa o que ela deve ou não sentir. Nossos sentimentos não são passíveis de controle direto, simplesmente sentimos. O que podemos controlar são nossas atitudes diante dos sentimentos, mas não os próprios sentimentos.  Então, quando alguém abrir o coração para você, procure apenas compreender o que ela está tentando lhe dizer, busque acolher e respeitar. Dizer para uma pessoa que sofreu uma perda não ficar triste é tão absurdo quanto dizer para ela não sentir calor quando o termômetro marca 40 graus (quem vive aqui em Ribeirão Preto sabe muito bem disso).  Mas é verdade também que, da mesma forma que a maior ou menor sensibilidade ao calor varia de uma pessoa para outra, a sensibilidade aos fatos da vida também difere de uma pessoa para outra e isso é algo natural. 

Entretando, é importante sinalizar que existem extremos que não são saudáveis. Quando uma pessoa foge de entrar em contato com suas emoções, com a aparência de que nada a afeta  ou, ao contrário disso, é hipersensível de forma que tudo lhe afeta de modo desproporcional  há sim um sinal de que precisa de ajuda para administrar melhor as circunstâncias da vida e lidar de forma inteligente com suas emoções e sentimentos. 

Enfim, o “campo dos sentimentos” é um espaço único, particular e privado e precisa ser tratado com toda delicadeza e compreensão. 

E como reflexão deixo um texto da escritora Adriana Falcão. Uma forma interessante e criativa de tentar descrever alguns sentimentos.  

 

Definições

(Adriana Falcão)

 

Saudade é quando um momento tenta fugir da lembrança para acontecer de novo e não consegue.

Lembrança é quando, mesmo sem autorização, seu pensamento reapresenta um capítulo.

Angústia é um nó muito apertado, bem no meio do sossego.

Preocupação é uma cola que não deixa o que ainda não aconteceu sair de seu pensamento.

Indecisão é quando você sabe muito bem o que quer, mas acha que devia querer outra coisa.

Certeza é quando a ideia cansa de procurar e para.

Intuição é quando seu coração dá um pulinho no futuro e volta rápido.

Pressentimento é quando passa em você um trailer de um filme, que pode ser que nem exista.

Vergonha é um pano preto que você quer para se cobrir naquela hora.

Ansiedade é quando sempre faltam muitos minutos para o que quer que seja.

Interesse é um ponto de exclamação ou de interrogação no final do sentimento.

Sentimento é a língua que o coração usa quando precisa mandar algum recado.

Raiva é quando o cachorro que mora em você mostra os dentes.

Tristeza é uma mão gigante que aperta seu coração.

Felicidade é um agora que não tem pressa nenhuma.

Amizade é quando você não faz questão de você e se empresta para os outros.

Culpa é quando você cisma que podia ter feito diferente, mas geralmente, não podia.

Lucidez é um acesso de loucura ao contrário.

Razão é quando o cuidado aproveita que a emoção está dormindo e assume o mandato.

Vontade é um desejo que cisma que você é a casa dele.

Paixão é quando apesar da palavra “perigo” o desejo chega e entra.

Amor é quando a paixão não tem compromisso marcado. Não. Amor é um exagero... também não. Um dilúvio, um mundaréu, uma insanidade, um destempero, um despropósito, um descontrole, uma necessidade, um desapego? Talvez porque não tenha sentido, talvez porque não tenha explicação, esse negócio de amor... não sei explicar!

 

 

 

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