“O negócio do impeachment”: os últimos dias do governo Dilma

“O negócio do impeachment”: os últimos dias do governo Dilma

Apenas para lembrar alguns traços históricos; nos EUA os presidentes tendem a ser assassinados quando rejeitados socialmente e pelos políticos; no Brasil, a tendência seria o suicídio ou a renúncia, além de se perpetuar no poder por acordos?

Parto do princípio que todos os corruptos devem ser investigados, julgados com isenção – palavra tão linda de significado profundíssimo e tão banalizada nas práticas brasileiras, do jornalismo à ação de juízes e promotores, além de professores e pesquisadores acadêmicos – e condenados a penas compatíveis com as evidências dos crimes. Mais que isto, sou favorável à ampliação da pena por crime conexo, do tipo, desvio de hospital, deve ser julgado por assassinatos; e assim iria. Os crimes de corrupção no Estado e do Estado deveriam ter as penas mais severas e exemplares.

Assim, não me coloco a questão das possibilidades de corrupção via PT, DEM, PMDB ou PSDSB e os possíveis bilhões desviados, isto é lugar comum, ao menos para os minimamente críticos e não cegos pela militância ou por defesa de ideais outros que no plano da realidade são incompatíveis com a corrupção?

Coloco a questão das razões, dos determinantes sociais, para além da corrupção, que levam ao impedimento da Presidenta Dilma, dos valores ou interesses que podem guiar alguns dos principais atores deste processo histórico que poderá vir a ser impar, se expandido para todos os partidos – o que até agora não ocorreu; e marcar um novo capítulo da história.

A FIESP, e suas parceiras, por exemplo, mais que o impedimento da presidenta, deseja o avanço da flexibilização das leis trabalhistas e a reforma da previdência. No que diz respeito a primeira questão, leia-se redução dos direitos trabalhistas e mesmo, se for possível, a inexistência de leis que protejam o trabalhador. No segundo quesito quer-se a ampliação da idade de aposentadoria que teria duplo fim: após investir anos de aperfeiçoamento profissional a pessoa pode se aposentar, em média, aos 55 anos; é muito cedo para a lógica da exploração capitalista. Após anos de investimentos, e com o avanço da indústria farmacêutica e médica a pessoa vivendo mais anos, deveria ser igualmente explorada por mais anos. Nada de “ócio criativo”; deve-se aposentar quando se for uma espécie de “bagaço humano”, sem possibilidades de investir em projetos pessoais outros que não o servir o patrão de modo assalariado. Ou pior, do ponto de vista da exploração capitalista, aposentar uma vez e continuar trabalhando o que possibilitaria algum tipo de acúmulo de renda o que não caberia aos trabalhadores, detentores apenas da força de trabalho. Neste ponto Dilma tergiversou e ofereceu a carteira de trabalho em proposta teórica para reforma e com ela a idade de aposentadoria. Mas, foi pouco.

Com as togas o que mais preocupava os atores da justiça era a demanda por transparência e teto salarial nos cargos. A transparência salarial com sua publicidade ampla a irrestrita, não incomoda apenas a toga, mas servidoress públicos em geral e políticos, pois, causa escárnio o salário de alguns poucos marajás do serviço público, que gozam ainda do direito a aposentadoria integral e auxílios mil diante da média salarial da iniciativa privada que sustenta o Estado. Em outros termos, aqueles que deveriam ser servidores, mas são nobres em um Estado que deveria primar pelos valores republicanos e democráticos, para muito além do entendimento da liberdade, igualdade e fraternidade maçônica. Para muitos ver o salário estampado nas redes sociais é motivo de perseguição pois, afinal, seguem a regra, primeiro o meu; depois o teu, no caso, o direito a educação, saúde e segurança, entre outros elementos, de forma pública e gratuita e de qualidade. E, na contramão desta noção, sobretudo os professores se vêm com salários indignos da humanidade que são e que representam e constroem, no presente para o futuro, sem contar as péssimas condições de trabalho.

Num outro vértice, vem o embate das consciências entre o religioso-político que tanto primou até ao final da Inquisição e o político-religioso que propõe as liberdades do Estado laico e liberdade ecumênica de religião. Entre as gravações tornadas públicas da Lava-jato, uma fala chama atenção neste quesito, a do prefeito do Rio de Janeiro com Lula que diz: “Eles (investigadores da Lava-jato?) são todos crentes”. Temos, neste ponto, outro projeto paralelo ao do Estado laico (político-religioso), na demanda pelo Estado “Teocrátio”, espero que seja entre aspas (o religioso-político). Assim, o projeto ganharia para a cena o presidente da Câmara dos Deputados, principal homem preocupado com o impedimento da presidenta, e seria uma derrocada para muitos avanços das mulheres, das religiões milenares de tradição africana, e para os LGBTs. Ficarei apenas no quesito mulher, dentre as relações de gênero. Vencendo o impedimento, seria aprovada nova lei de atendimento a mulher estuprada e esta passaria mais uma vez a ser duas vezes vítima, pois, teria, antes de ser atendida no serviço de saúde pública, de provar que foi estuprada. Além disto, a pílula do dia seguinte teria sua comercialização proibida. Entre outras questões propaladas por algumas religiões.

A aprovação da CPMF, por sua vez, equivaleria a quebra de sigilo bancário e facilitaria ao Imposto de Renda comprovar as fraudes nas declarações. Mais que isto, faria com que Igrejas, Institutos e Fundações, além de ONGs e OSCIPs, entre tantas outras formas de organizações que se isentam de impostos, contribuíssem. Em meio a imposto obrigatória e a impossibilidade de se furtar ao imposto de renda, sem ser pego na malha fina, todas  as grandes fortunas e mesmo as médias e pequenas foram contra mais um imposto em meio ao oceano de corrupção.

Para encerrar este texto uso a frase do Paulinho da Força Sindical, também pego em gravação, “O impedimento só ta acontecendo por causa do Eduardo Cunha” – contra o qual não tem nenhuma denúncia até o momento?. A outra frase é lapidar para entender-se o processo histórico: “Tem muita gente querendo financiar esse negócio do impedimento”. Neste contexto de pessoas honestas e valores altos, de alto poder e renda (não conta você que recebe menos de 15 mil por mês e não tem patrimônio superior a cinco milhões), sou apenas mais um estre muitos que vive numa residência tão pequena que para eles, os corruptos, poderia ser comparada a casinha dos cachorros e, pior que isto, nem seria, eu, o professor com doutorado da iniciativa privada, o cachorro, mas os restos por este deixado, tamanho o fosso deixado entre nós, os humanos comuns, e estas fraudes que nos desafiam a construir um novo Brasil.

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