A caminho da longevidade

A caminho da longevidade

A cada dia, um número maior de idosos abandona a velha comodidade para investir em uma vida mais plena e feliz


Na década de 70, foi criada, na França, a primeira Universidade para a terceira idade e, a partir daí, a ideia dessa fase da vida passou a ser incorporada ao conceito de velhice, sugerindo um sinal de mudanças no significado da palavra. Pela primeira vez, esse estágio da vida passava a ser associado, também, a um momento privilegiado, que poderia ser repleto de lazer e de atividades prazerosas, mais liberto das limitações profissionais e familiares. Como um desdobramento surge, mais tarde, o termo “melhor idade”, tão usado por clubes e academias para designar essa população que cresce a cada dia.

Segundo levantamento realizado pelo Pew Research Center, dos Estados Unidos, a partir de dados da Organização das Nações Unidas (ONU), em 2050, o Brasil terá 22,5% de idosos, se equiparando à situação atual do Japão, da Alemanha e da Itália. Isso deve levar o país do 15º lugar para o 9º lugar no grupo de 23 nações analisadas em relação ao tema.

Há 40 anos, a ideia de idoso que povoava o imaginário era o senhor simpático, jogador de damas ou de bocha, que sentava na praça e via o dia passar, e da vovozinha craque no crochê e no forno e fogão, cujas guloseimas se tornavam uma memória deliciosa, com gosto de infância, que seria carregada por toda a vida. Essa é uma ideia que, muito em breve, fará parte do repertório somente de pessoas da terceira idade.

Conforme a vivência que permeia o termo longevidade se torna mais elástica, o conceito se aglutina a outros, que emprestam ainda mais força: atividade, disposição, saúde, força e energia. Cada vez mais distante da imagem suscitada na década de 70, o idoso, hoje, frequenta lugares anteriormente sinônimos de juventude: o mercado de trabalho, as redes sociais, as academias, os destinos turísticos mais exóticos, e busca para si uma vida amorosa e plena.    

Trabalho é vida


Aos 75 de idade e 53 anos de profissão, o advogado e juiz de direito aposentado, Ovídio Rocha Barros Sandoval, desconhece a inércia. No dia seguinte à aposentadoria, já estava na ativa, dando continuidade à carreira advocatícia: dorme cinco e trabalha 10 horas por dia, cumprindo de forma integral a rotina a que se habituou ao longo da vida, incluindo as viagens aos tribunais paulistanos, necessárias em sua profissão. “Nunca pensei em parar de trabalhar. A única diferença que sinto, hoje, em relação a quando era mais novo, é que antes, após trabalhar 12 horas seguidas, sentia somente o cansaço físico; hoje, sinto um pouco o cansaço mental”, conta Ovídio.

Sandoval coleciona selos, moedas, gosta da aura praiana, mas sua maior viagem é a proporcionada pelos livros — é um apaixonado pela literatura. “Todas as noites leio romances policiais. Dos livros publicados por Agatha Christie em língua portuguesa, já li, no mínimo, uns 35; também gosto muito de ler filosofia e livros interessantes de Direito”, afirma o advogado.

Mais do que ler, Ovídio se dedica, também, a imortalizá-los: é atualizador de obras clássicas do direito brasileiro, como o livro “O direito e a vida dos direitos”, do jurista Vicente Ráo; uma das obras mais clássicas da teoria geral do Direito. Das sete edições atualizadas por ele, a última é datada de 2013. Outra obra importante, trabalhada pelo advogado, foi “As Instituições do Direito Processual Civil”, de José Frederico Marques, considerada um marco para esta área, composta por quatro volumes.

As atividades literárias desse apaixonado por Aristóteles e pelo filósofo espanhol, José Ortega y Gasset, não param por aí: pretende lançar, em breve, o livro produzido em 2001, “CPI ao pé da letra” que, segundo o prefácio de Saulo Ramos, é uma obra magnífica e completa sobre o tema. “Eu decidi fazer pequenas atualizações e, como agora estamos em épocas de CPIs, pretendo lançar. Estou escrevendo, também o livro ‘O Saulo Ramos que conheci’, em que pretendo levar ao conhecimento público a grande figura que ele foi”, explica, ressalta que também pretende voltar a estudar filosofia clássica. O segredo para tanta disposição está, segundo ele, na dedicação ao trabalho. “O ser humano que deixa de trabalhar corta o grande instrumento de sua vida, porque trabalho é vida”, ressalta Ovídio.

A Geração
Os tempos mudaram e, assim como os jovens vem recebendo diversas designações, conforme as diferentes épocas em que foram concebidos devido às características peculiares da mudança dos tempos, os novos hábitos da terceira idade deram origem a uma nova geração: a Geração 3T (Trocar o Tricô pelo Teclado).

Aqueles que se aventuram pela Internet tem descoberto um mundo inovador, distante do cotidiano até então tão previsível de uma pessoa idosa: uma rede de contatos, experiências, descobertas, comunidades, notícias e diversão, praticamente ilimitada. Aos 84 anos, a dona de casa Luiza Dias é uma assídua frequentadora dos espaços virtuais há 10 anos. Vive sozinha, cuida de todo o serviço da casa, costura, mas não abre mão da diversão dos filmes e da web. “Jogo ‘Criminal case’ três vezes por dia, acompanho as notícias pelo Estadão e pela Folha de S. Paulo — acho mais prático do que ler os jornais impressos”, conta a senhora, cuja rede de relacionamentos é bastante extensa: possui 270 amigos, mais de 3000 amigos virtuais e 65 companheiros de jogo.

A internet não é somente diversão para ela, é a forma mais rápida e eficiente de receber notícias dos netos Lisandra, que vive em João Pessoa (Paraíba), Leopoldo, que mora em Barueri, e Leonardo, que vive em Indaiatuba. Há sete meses, tem uma razão a mais para ficar antenada às notícias: a bisneta, Maria Laura, filhinha de Lisandra, que pode manter uma proximidade maior com Dona Luiza por meio do Skype. “Acabei de comprar um novo computador. O antigo já não suportava a versão atual do Skype. Agora, vou poder voltar a usá-lo e falar diretamente com meus netos e com minha bisneta”, explica, animada.

Muito independente, não se imagina vivendo com outra pessoa, pelo menos não por enquanto, que pode se manter sozinha, mas, apesar de muito ativa, hoje depende das pessoas para sair e como já foi vítima das calçadas irregulares e esburacadas de Ribeirão Preto, tem medo de cair. Por isso, encontra a maior parte do entretenimento em casa. “Antes eu tinha só a TV, mas saía com minhas amigas. Depois que me mudei, não tenho muita companhia para sair, a não ser quando minha filha, Sônia, ou meus netos me levam. Hoje, não consigo imaginar minha vida sem a internet”, comenta Dona Luiza.

Corpo São, Mente Sá 

Figurinhas cada vez mais comuns nas academias, dividir os aparelhos com idosos, hoje, não causa tanto espanto, mas algumas pessoas ainda conseguem superar as expectativas, como Maria Nardeli Rissato. Prestes a completar 92 anos, em setembro, além de demonstrar ânimo para frequentar um espaço do gênero, ainda optou pelo Crossfit, uma modalidade de esporte que propicia o condicionamento físico geral e o ganho de força, trabalhando movimentos funcionais, comumente utilizados no dia a dia, mas considerada uma prática pesada, pouco comum entre idosos.

Dona Tita, como é conhecida, frequenta a Crossfit Sertãozinho há um ano, todas as quartas e sextas-feiras. “Depois que comecei a praticar, minha vida melhorou muito, inclusive os problemas que tinha no intestino e na bexiga. Hoje, estou mais solta e tenho muito mais disposição”, conta a dona de casa.

O neto, Fábio Zanutto Filho, dono da academia, explica que criou para ela um crossfit adaptado, que possibilita a avó realizar todos os exercícios propostos pelas séries sem correr riscos. “Além da função fisiológica, que melhorou muito, no caso de minha avó, outro benefício foi o contato com as pessoas, um astral que acaba envolvendo, que faz bem. Quando ela passa uma semana sem treinar, a locomoção e a postura ficam meio debilitadas. Na idade dela, isso não é tão evidente, o que muda mais é a disposição para andar, para conversar. Quando a minha avó confraterniza, fica mais alegre e mais disposta. O treino é um estímulo positivo mental e físico”, explica o rapaz.

Somente o fato de Dona Tita estar na academia já atraiu adeptos. A designer de interiores Simone Rossini Perticarrari tinha um pouco de receio de o crossfit ser um treino muito pesado, mas quando soube que uma senhora de 92 anos o praticava, decidiu arriscar. “O crossfit é muito dinâmico, a gente acha que não vai dar conta, mas vê-la se exercitando com essa idade é um desafio muito grande. Eu pensei: se não conseguir, posso me aposentar, e já estou aqui há três meses”, ressalta Simone.

Manoel de Souza, 85 anos, empresário, mais conhecido como Neca, também optou por uma vida mais saudável: há 30 anos, pratica exercícios regularmente. O senhor frequenta o Atriun – Centro de Treinamento Personalizado há 10 anos e, hoje, colhe os frutos da alimentação saudável e das seis horas por semana investidas em seu condicionamento físico. À mesa, não dispensa fibras, frutas, verduras e peixes, claro, um chopinho nos finais de semana. Só de corrida, cumpre 15 km semanais. “A academia tem uma série de regras e exige perseverança, doação e entrega”, conta Neca, que divide esses momentos com a esposa, Gleire, que o acompanha nos exercícios duas vezes por semana.

O resultado do investimento na qualidade de vida é inquestionável. “Nenhum problema de saúde e nada de remédios”, afirma Neca, acrescentando que seu esforço fez bem até para o bolso, já que o custo da academia não chega nem perto da despesa com remédios. “Você tem que plantar para colher. O esportista é uma pessoa alegre, com uma vida diferente. A academia, além de terapia, é um lugar de encontro com amigos. A vida é muito bonita para se entregar ao ócio, temos que tornar os momentos únicos e felizes”, observa o atleta.

Reginaldo Montechi de Assumpção, educador físico e proprietário do espaço, ressalta que a procura da academia por pessoas idosos vem aumentando ano após ano, nos últimos 10 anos. “Hoje, os idosos correspondem a 40% dos frequentadores. Praticam exercícios funcionais, aeróbicos, de equilíbrio, força e alongamento. A maioria comenta que melhora muito o humor, a disposição para as tarefas diárias e até a própria alimentação”, conta Reginaldo. 

Além das fronteiras 


Uma vez vencidas as barreiras físicas, fica muito mais fácil se aventurar, ousar, conhecer novos lugares e costumes. Foi-se o tempo em que as viagens para a terceira idade eram escolhidas somente pelo conforto e pelas qualidades medicinais oferecidas pelos destinos turísticos. “Eu gosto de desafio e o turismo de aventura é sempre um convite à superação. Preparo-me o tempo todo para realizar esse tipo de viagem: faço pilates, ando de bicicleta, nado e pratico hidroginástica”, explica a psicanalista Lúcia Helena do Nascimento.

Há três meses, aventurou-se pela Serra Catarinense e, em agosto, ao lado da filha, do neto e de uma sobrinha, decidiu conhecer o Parque Estadual do Jalapão, no Tocantins, um lugar que se destaca pela beleza e pelo caráter rústico e natural, que exige do turista um bom preparo físico, afinal, as maiores atrações são as trilhas, o deserto, as corredeiras, as cachoeiras, um local para comungar e desfrutar da natureza. “Percorremos 900 km dentro do Jalapão. O lugar é cheio de surpresas que, às vezes, assustam. Quando se fala no deserto, por exemplo, não se faz referência apenas à areia, mas ao fato de ser um lugar pouquíssimo habitado. As acomodações são bem rústicas, é preciso priorizar a beleza e não exigir infraestrutura muito sofisticada. De todos os lugares que já fui no Brasil, é o mais bonito”, conta a psicanalista.

Às vezes, Lúcia Helena também percorre grandes distâncias atrás de outra aventura: a do conhecimento. Faz cursos de filosofia, psicanálise e inglês. Há seis anos frequentou um curso de italiano na Universidade de Siena. Para ela, a vitalidade depende muito da maneira como o ser humano se posiciona no mundo. Amiga de Cora Coralina, aprendeu muito com a poetiza. “Cora dizia que não quis envelhecer perto da família porque, se o fizesse, seria só avó e mãe, e ela queria ser Cora Coralina. Como é maravilhoso não desempenhar somente papéis — a gente precisa ficar um pouco longe para ter a própria identidade”, comenta.


* Por Edgard de Castro
Em 1970, pessoas com mais de 50 anos já eram consideradas velhas e, como tais, vestiam-se, procediam e eram tratadas dessa forma. As senhoras usavam discretos vestidos de florzinhas, comportados sapatos fechados e coque. Os homens, calças largas, camisas de manga comprida com o punho abotoado e, invariavelmente, uma boina ou um boné. Já aposentados, eram os avós que faziam pequenos favores aos filhos. Poucos escapavam de uma cadeira de balanço e a diversão mais praticada era um jogo de baralho.
As relações, geralmente esgarçadas pelo tempo e pela total falta de criatividade, acomodavam-se nos parâmetros recomendáveis da amizade. Era bonito de se ver um casal de velhinhos, na maioria das vezes, tolerando-se e quase sempre criticando “estes tempos modernos”...
Nos dias de hoje, o mundo oferece uma sobrevida às pessoas com mais de 60 anos: academias, viagens, cruzeiros, spas, internet, sexo e romance, na medida certa para esta população que é uma das que mais crescem na atualidade. Com isso, a intimidade foi revista e a vida amorosa se tornou bem possível. Assim, os homens rejuvenesceram e as mulheres se soltaram. Erótica é a palavra, já dizia Adélia Prado. Dessa forma, Sherazade levou o Sultão na conversa por mais de mil e uma noites.
O homem e a mulher se permitem e se aceitam, são condutores de romances para a vida toda e a sexualidade, consequência disso. Alguns desencontros ocorrem, principalmente pelas diferenças de idade, mas são facilmente superados quando se questiona a real felicidade. Nessas “alturas do calendário”, quando cada dia conta, as convenções sociais são desprezadas e os velhinhos decidem ser felizes.
A autoestima é fundamental: quem não se cuida, em qualquer idade, é menos impactante para o outro. Vestir-se com atualidade, praticar exercícios, manter em dia os exames médicos e frequentar locais de convivência compõem a receita para quem quer um pouco mais da vida. Uma vez conquistada essa disposição, nada mais natural do que partilhá-la com uma boa companhia e saborear os verdadeiros e mais autênticos prazeres da vida, que são o amor e o sexo.
* Edgard de Castro, presidente da Fundação Feira do Livro de Ribeirão Preto

Conforme o geriatra Sílvio Bernardes, o conceito de saúde do idoso abrange o bem-estar físico, psicológico e social do indivíduo, que chega e ultrapassa os 60 anos de idade.

Essa população no país, segundo dados de 2013, representa aproximadamente 14% da população, fato que despertou na classe médica a necessidade de discussão e desenvolvimento dos conceitos de geriatria. “Atualmente, não basta apenas atingir a idade, mas sim conseguir ter qualidade de vida. Isso está cada vez mais possível graças ao desenvolvimento da medicina, que propiciou novas terapêuticas para manter as pessoas idosas ainda funcionais para que possam ser atuantes na sociedade atual”, ressalta o geriatra.
O médico afirma que a longevidade é influenciada, basicamente, por fatores genéticos e por hábitos de vida. Apesar da medicina dificilmente conseguir atuar sobre o primeiro, é capaz de agir de forma intensa nos hábitos adquiridos pelas pessoas. “Estudos atuais evidenciam que, além de comer com qualidade, a atividade física que envolve exercícios resistidos, ou seja, musculação, está entre os fatores que mais influenciam a longevidade. Isso porque tal atividade combate a perda de músculo, que é a massa magra”, explica Sílvio, afirmando que, após os 40 anos, se a pessoa for sedentária, sofre o processo de lipossubstituição, que a torna cada vez mais frágil, uma vez que o músculo vai sendo, gradativamente, substituído por gordura.
O segredo da longevidade, em termos gerais, está em se alimentar com qualidade, praticar exercícios regularmente e gozar dos prazeres da vida com respeito ao próximo, prudência e, acima de tudo, sem hipocrisia. “A família tem papel fundamental apoiando o idoso, em vez de apenas cobrar moral e bons costumes, e lembrar que um dia também seremos idosos, e acima de tudo, seres humanos repletos de defeitos, desejos e dúvidas”, conclui o geriatra.

A terceira idade hoje 

Para trazer à luz os novos conceitos que envolvem a terceira idade, a revista Revide entrevistou o médico assistente do Serviço de Geriatria do Hospital das Clínicas de Ribeirão Preto (USP) e da área de Clínica médica do Hospital Estadual de Ribeirão Preto, que indica qual é o caminho mais suave para alcançar com saúde e disposição essa nova etapa da vida.

Revide - O que abrange o conceito de saúde quando o assunto é o idoso? Esse conceito mudou de anos para cá? Em caso afirmativo, em que sentido?

Sílvio Bernardes - O conceito saúde no idoso abrange o bem-estar físico, psicológico e social do indivíduo que chega e ultrapassa os 60 anos de idade no Brasil. Como muito mais pessoas estão atingindo essa faixa etária, dados de 2013 apontam que são aproximadamente 14% da população brasileira, despertou-se a necessidade de discussão e desenvolvimento dos conceitos de geriatria.
Atualmente, não basta apenas atingir a idade, mas sim ter qualidade de vida, ou seja, conseguir ter qualidade de vida. Isso está cada vez mais possível graças ao desenvolvimento da medicina que propiciou novas terapêuticas para manter as pessoas idosas ainda funcionais para que possam ser atuantes na sociedade atual.

Revide - A longevidade é um tema recorrente nos dias de hoje. Que fatores mais influenciam sua ocorrência?

Sílvio - A longevidade é influenciada basicamente por fatores genéticos e de hábitos de vida. Os fatores genéticos, também chamados de não modificáveis, são herdados pelo indivíduo de seus antepassados e determinarão o quanto a pessoa possa ser susceptível  a cânceres , doenças do aparelho cardiovascular ou até mesmo doenças genéticas mais graves que possam ceifar a vida precocemente. Apesar do atual avanço da medicina, dificilmente podemos atuar nos fatores genéticos, porém, podemos agir intensivamente nos hábitos de vida das pessoas.
Estudos atuais evidenciam que, além de comer com qualidade, a atividade física que envolva exercícios resistidos, ou seja, musculação está dentre os fatores que mais influenciam a longevidade. Isso se deve porque essa atividade combate a perda de músculo ou, como dizemos, de massa magra. Após os 40 anos de idade, se formos sedentários, sofremos o processo de lipossubstituição, pelo qual nos tornamos cada vez mais frágeis, uma vez que o nosso músculo vai gradativamente sendo substituído por gordura.

Revide - Há algum tempo, a ideia do idoso era relacionada ao passado. Acredita que essa concepção mudou? Em caso afirmativo, que fatores propiciaram essa mudança?

Sílvio - Pelo próprio envelhecimento populacional já citado aqui, temos a projeção de que em 2060 o Brasil será constituído por uma população que terá  aproximadamente 30% de idosos, por isso, idoso não pode estar relacionado a ideia de passado e sim de futuro. Diante disso, temos que nos concentrar em esforços para o desenvolvimento de avanços na ciência visando melhorar a qualidade de vida dessa população.

Revide - Hoje temos idosos extremamente ativos em todas as áreas, dos esportes, à tecnologia, ao trabalho, ao turismo, ao sexo e às relações amorosas. Acredita que ainda há muito preconceito? O que fazer para derrubar as barreiras sociais que impedem o idoso de viver com plenitude?

Sílvio - Sem dúvidas,  ainda há muito preconceito no que diz respeito a vida sexual na terceira idade. Antes de tudo, é preciso que os próprios idosos encarem o assunto com maior naturalidade, pois há muito preconceito até mesmo entre eles. A vida sexual desse grupo melhorou muito, principalmente após o desenvolvimento dos vasodilatadores representados primeiramente pelo Viagra. Os homens dessa faixa etária, que frequentemente são afetados por problemas de potência, ganharam força, porém, muitas vezes não se queixam para os médicos por puro preconceito e esses, por sua vez, também não buscam ativamente a queixa de disfunção sexual.
Também se deve abordar as mulheres que culturalmente também não se queixam do ponto de vista sexual e, muitas vezes, sofreram a vida inteira de distúrbios. É preciso que os médicos também busquem ativamente as queixas sexuais das mulheres. É preciso também convencer esse grupo a se proteger de doenças venéreas, pois os casos estão aumentando muito nessa faixa etária.
Dessa forma, é preciso que a sociedade se torne menos hipócrita e realmente aborde mais ativamente o assunto sexo em todas as idades, incluindo na discussão a terceira idade.

Revide - Qual é o papel da família nesse percurso?

Sílvio - A família tem papel fundamental apoiando o idoso, ao invés de apenas cobrar moral e bons costumes, e lembrar que um dia também seremos idosos, e acima de tudo, seres humanos repletos de defeitos, desejos e dúvidas.

Revide - Qual é o segredo da longevidade?

Sílvio - Grosso modo, está em se alimentar com qualidade, praticar exercícios regularmente e gozar dos prazeres da vida com respeito ao próximo, prudência e acima de tudo sem hipocrisia.



Texto: Carla Mimessi
Fotos: Julio Sian

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