Consumo em alta

Consumo em alta

Diversidade cultural e alto padrão gastronômico contribuem para elevar o consumo de vinhos per capita anual em Ribeirão Preto

“Espumantes brasileiros detêm 82% das vendas”, aponta Diego BertoliniQuinto maior produtor de vinhos no Hemisfério Sul e um dos mercados que mais cresce no mundo, o Brasil é também um dos países onde o consumo da bebida tem apresentado crescimento acentuado nas duas últimas décadas. Enquanto a média per capita nacional está em torno de dois litros por ano, em Ribeirão Preto, a marca ultrapassa os 2,4 litros, principalmente, em decorrência de sua diversidade cultural e seu alto padrão gastronômico. Dados do Instituto Brasileiro de Vinhos (Ibravin) apontam que, entre janeiro e dezembro de 2016, foram vendidos 202 milhões de litros de vinhos de mesa, finos e espumantes elaborados no Rio Grande do Sul e outros 92 milhões de litros dos mesmos tipos importados. Assim, 69% do consumo é nacional e 31%, importado. 

Considerando os dados de comercialização do ano passado, São Paulo lidera o ranking, com 56,28 milhões de litros consumidos, seguido pelo Rio de Janeiro, com 38,38 milhões de litros. Respondendo por cerca de 90% da produção vinícola nacional, a terceira colocação fica com o próprio Rio Grande do Sul, com 31,86 milhões de litros. Diego Bertolini, gerente de promoção de mercado interno e externo do Instituto, revela que os espumantes brasileiros detêm 82% das vendas, enquanto os importados ficam com 18%. Nos vinhos finos, esses percentuais se invertem, ficando os importados com 82% das vendas e os nacionais, com 18%.

O crescimento acentuado no consumo, de acordo com Organização Internacional da Vinha e do Vinho (OIV), impulsiona também a alta no setor produtivo, onde o Brasil ocupa a O vinho sempre está presente na vida de José, Neusa, Sueli e Fernando21ª posição mundial na relação dos maiores fabricantes de vinho, como Itália, França e Espanha. Além do consumo de rótulos nacionais, o acesso a marcas importadas tem sido ampliado, principalmente, em decorrência das vendas on-line. Entre os principais países que exportaram para o Brasil em 2016 estão Chile (43,5 milhões/litros), Argentina (14,4 milhões/litros), Portugal (11 milhões de litros), Itália (9 milhões/litros) e França (5 milhões/litros). 

João Paulo de Cruz, comprador de vinhos do Pão de Açúcar, aponta que, no ano passado, houve um aumento de 17% nas vendas de vinhos nas lojas da rede. Os produtos nacionais estão relacionados ao aumento do interesse dos brasileiros pela bebida, mesmo em regiões onde o vinho não fazia parte dos hábitos locais. “Em Ribeirão Preto, notamos não apenas um crescimento no consumo, mas também no interesse do consumidor, que está buscando cada vez mais informações sobre rótulos, safras e países produtores”, afirma João Paulo. Compõem a linha de rótulos da rede os italianos, franceses, portugueses, espanhóis, chilenos, argentinos, uruguaios, sul africanos, neozelandeses, australianos, californianos e brasileiros.

De acordo com os dados de compra dos Carlos Martins da Silva, Rafael Alexandre Silva e Paulo Gomes integram o time de atendentes especialistas em vinhos do Pão de Açúcarclientes que utilizam o Cartão Fidelidade do Pão de Açúcar, as mulheres, hoje, compram mais vinhos do que os homens. O vinho tinto segue sendo a preferência da maior parte dos consumidores, respondendo por 70% das vendas. Brancos, rosés e espumantes totalizam os 30% restantes. Para atender à demanda, todas as unidades da marca possuem atendentes especializados. “Nosso objetivo é orientar os clientes sobre os rótulos disponíveis, esclarecendo dúvidas e indicando as melhores opções a partir do que a pessoa deseja. Acreditamos que o vinho é uma bebida associada a momentos de prazer e de descontração”, explica Paulo Gomes Souza, atendente de vinhos da unidade Fiusa.

Gastronomia harmonizada

O empresário Odair Rodrigues, proprietário do restaurante Bella Capri, revela que o consumo de vinhos no Brasil tem aumentado, especialmente quando harmonizados com a gastronomia, como receitas que levam massas e pizzas. No restaurante, as bebidas selecionadas são elaboradas principalmente com uvas Malbec e Carménère da Argentina e do Chile. A carta de vinhos da casa possui 59 rótulos, entre nacionais e importados.  “Nossos clientes têm preferência pelos chilenos, seguidos pelos argentinos e italianos, que representam 60% das vendas. Já os espumantes totalizam 10%”, observa Odair. 

Odair mantém carta com 59 rótulos, entre nacionais e importadosSempre atento ao paladar do ribeirãopretano, Odair tem um cuidado especial em selecionar os melhores produtores, considerando qualidade e custo-benefício. Para melhor orientar os clientes, o maître recebe treinamento técnico direto dos sommeliers das vinícolas fornecedoras. Odair revela que os homens, em sua maioria, optam pelo tinto seco, enquanto as mulheres vêm mudando o conceito. Até pouco tempo, o consumo era basicamente de espumantes e de frisantes, mas, hoje, uma parcela está migrando para os secos e meio secos. Apreciador da bebida, Odair toma, habitualmente, pelo menos, uma garrafa por semana. “Em especial, gosto dos elaborados com uvas da família Catena, mas também simpatizo com as variedades Primitivo e Tannat”, revela o empresário.

Na Bella Capri, o consumo de vinhos é tão alto que a charmosa adega foi batizada com o nome de um dos assíduos frequentadores, o administrador de empresas Fernando Manzoli. Sempre acompanhado da esposa, Sueli, e do irmão e da cunhada, respectivamente José Orlando e Neusa Manzoli, é frequentador assíduo da casa, desde a inauguração. Fernando revela que, além dos rótulos de qualidade, ali saboreia o melhor Nhoque ao Sugo que já comeu no Brasil. Neto de italianos, o vinho sempre esteve presente à sua mesa, em especial, os da terra natal, mas também aprecia os portugueses, os espanhóis e os franceses. Fernando  bebe, em média, de três a quatro garrafas de vinhos importados por semana. 

Vendas elevadas

Gilberto aponta que o ribeirãopretano gosta de vinhos tintos e de espumantesSuperando as adversidades econômicas que o país enfrenta, as vendas da Vinícola Batalha Vinha e Vinhos cresceu 20% em Ribeirão Preto. Localizada no município de Candiota, na região da Campanha, no Rio Grande do Sul, produz em uma área de 17 hectares de vinhedos, 45 mil garrafas anuais, com projeção de chegar a 120 mil nos próximos cinco anos. Atuando na cidade desde o início do projeto, em 2008, Gilberto Pozzan, sócio-diretor da vinícola, revela que o volume vendido vem crescendo, chegando a 10% de toda a produção da Batalha. 

De acordo com o empresário, apesar do calor de Ribeirão Preto, o consumo dos tintos é expressivo no município, juntamente com os espumantes. As bebidas produzidas com as varietais Cabernet Sauivignon, Merlot e Tannat são as mais consumidos. “Entre os espumantes, os rótulos mais doces vêm perdendo espaço para os menos doces, evidenciando os meio secos, secos e nature”, pontua Gilberto, lembrando que, no Brasil, 1,3 litro consumido por pessoa é de vinho comum e apenas 0,7 litro de fino. Produtor e agente comercial da marca, o empresário consome uma taça todos os dias e, quando se reúne com os amigos, toma, pelo menos, meia garrafa. Gilberto bebe em média 1,5 garrafa por semana.

O empresário reconhece que o brasileiro está aprendendo a tomar vinho e revela que os iniciantes começam com os meio secos, mudam para os secos e evoluem para os mais encorpados. Para ele, o acesso à informação, em especial, por causa da internet, tem contribuído para popularizar os vinhos e o acesso às melhores marcas. “Sites especializados, blogueiros e enófilos costumam divulgar novidades importantes sobre o mundo dos vinhos. Os rótulos harmonizam com comidas, mas combinam muito mais com romantismo, descontração e amigos. Se pode beber sozinho, mas ele fica muito melhor com uma boa companhia”, completa Gilberto. 

Acesso on-line

Massimo Leoncini, sommelier executivo da Grand Cru, ressalta que o mercado de vinhos on-line tem crescido de forma expressiva nos últimos anos. Em 2016, o setor movimentou mais de R$ 600 milhões. Para 2017, espera-se uma taxa de crescimento superior a 10%. Segundo o sommelier, mesmo com a digitalização das vendas, etapas do “ritual” de compra do vinho, como a curadoria a recomendação, foram mantidas no meio virtual. Ao navegar nos principais e-commerces especializados, o consumidor encontrará a seleção da bebida das principais vinícolas do mundo de acordo com especialistas da área. De um jeito ou de outro, Massimo revela que o maior consumo está nas capitais, principalmente, nas regiões Sul e Sudeste, porém, pelo crescimento das importações regionais, percebe um crescimento importante em Minas Gerais e em diversos estados do Nordeste. O sommelier registra, ainda, um grande interesse do público feminino pela bebida, o que não acontecia anos atrás. “Isso indica que as mulheres estão consumindo mais. A alta no consumo elevou também o interesse das pessoas em conhecer mais a fundo os vinhos. Os consumidores participam de cursos, feiras, degustações. São cada vez mais preparados e mais curiosos”, reconhece Massimo.

sempre presente

A paixão da publicitária Marilia Elis de Almeida pelos vinhos veio de um hábito familiar aos finais de semana e de reuniões com os amigos, em que a bebida estava sempre presente. Sua curiosidade e seu interesse pelos rótulos cresceram com as viagens, as aulas de gastronomia e os estudos sobre vinhos. “Foram, e ainda são, momentos que aceleram o coração e deixam tudo com um gosto diferente, um sabor muito melhor”, confidencia Marilia, que, desde 2015, divide-se profissionalmente entre a publicidade e a gastronomia.
Marilia já se surpreendeu com vinhos que jamais imaginaria. Entre aquilo que já provou, prefere os persistentes e com bom equilíbrio, como os Riesling, os Chardonnay  e os Sauvignon Blanc. Recentemente, descobriu os rosés e jamais se distanciou da elegância que um blend pode trazer. “As variedades de uva, os locais, clima e o ano onde são produzidos tornam infinitas as possibilidades. Todos esses fatores e muitos outros afetam o gosto que percebemos em um gole de vinho. Algumas escolhas são bem pessoais, mas o vinho bom é aquele do qual você gosta”, reforça.

Fotos: Julio Sian

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