Novos contornos da Sevandija

Novos contornos da Sevandija

Morte de um dos principais elos da investigação do Gaeco e da Polícia Federal dá novos rumos à Operação Sevandija

A morte do empresário Marcelo Plastino, na noite de 25 de novembro, abriu um novo capítulo da Operação Sevandija, realizada pela Polícia Federal e pelo Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco), do Ministério Público Nos últimos dias, empresário demonstrou abatimento e depressãoEstadual. Além da carta encontrada no apartamento do empresário após ele ter cometido suicídio, os investigadores recolheram materiais para análise que podem conter novas evidências.

Conforme apuração da Revide, novos nomes podem ser acrescentados à investigação, além daqueles já analisados pelos promotores. Os novos envolvidos são citados em documentos apreendidos e guardados pelo Ministério Público no dia seguinte à morte de Plastino, no sábado, 26. Também foi encaminhado aos agentes do Gaeco um celular, um aparelho de MP4, um notebook e uma pasta com documentos e recortes de reportagens.

O promotor de justiça, Marcus Túlio Nicolino, que esteve no apartamento do empresário acompanhado do também promotor Luiz Henrique Pacini, disse que em alguns documentos apreendidos, que teriam sido ditados por Plastino, incluiriam menções a novos envolvidos. “O material apreendido vai ter seu conteúdo analisado minuciosamente pelo Gaeco e pela Polícia Federal. A investigação é uma responsabilidade deles, e por isso, tudo será averiguado. Estivemos no local apenas para o recolhimento do material que deve ser utilizado como prova”, informou Marcus Túlio.

Além dos documentos apreendidos, havia uma carta deixada por Plastino, em que o empresário teria indicado a prefeita Dárcy Vera (PSD) como a principal peça do esquema de desvio de recursos e fraudes de licitações investigados na Sevandija, conforme veiculado na imprensa durante a semana. A defesa da prefeita não comentou a informação, pelo fato de Dárcy estar respondendo a depoimentos da Procuradoria-Geral de Justiça por ter foro privilegiado, o que, portanto, seria assunto sigiloso.

O Gaeco e a Polícia Federal informaram que os documentos apreendidos no apartamento de Marcelo Plastino estão em análise, e que, por isso, não se manifestarão sobre o assunto até o momento em que todo o material for contabilizado, e que “novas manifestações por parte das instituições envolvidas na Operação Sevandija ocorrerão apenas após a cabal análise de citados documentos, o que não tem data para ocorrer”. Além disso, os promotores responsáveis pelo caso informaram que pretendem respeitar o momento de luto da família do empresário.

Sexta-feira longa

“O homem que sabia demais”. Pelo menos, este era o peso que Marcelo Plastino acreditava ter sobre as costas e, por isso, a opção pelo suicídio foi executada na noite de sexta-feira, 25. Encontrado no banheiro de seu apartamento, em um edifício no Jardim Botânico, Zona Sul de Ribeirão Preto, a notícia de sua morte fez aquela noite se prolongar, mesmo sem equinócio, levando milhares de compartilhamentos sobreMorte de Plastino, em apartamento na zona sul, surpreendeu a cidade a informação nas redes sociais. Também houve uma corrida de veículos de imprensa para o local para a checagem da informação. A Polícia Militar e o Corpo de Bombeiros já haviam sido solicitadas.

Isso porque Plastino já havia anunciado intenção de se matar à namorada, Alexandra Martins Ferreira, também um dos nomes da Sevandija. Tanto, que, naquela noite, de acordo com o depoimento da namorada no Boletim de Ocorrência registrado pela Polícia Civil, o empresário estava depressivo em decorrência dos problemas judiciais enfrentados, e não teria mais vontade de viver.

No registro da Polícia, Alexandra diz que, ao tentar acalmar o namorado, foi posta para fora do apartamento. No momento em que tentou conversar com a família dele, com o advogado e com o psiquiatra que o acompanhava para demovê-lo da ideia, ele teria se trancado no banheiro. Ela ainda chamou os Bombeiros para abrir a porta, mas, ao entrar no local, já encontrou o empresário caído, com o tiro na cabeça. De acordo com o delegado Haroldo Chaud, que atendeu à ocorrência, o caso apresenta evidências de suicídio, embora a investigação da perícia continue. 

De acordo com o então advogado de Plastino, Alamiro Velludo Netto, o empresário tinha a sensação de já ter sido condenado pela opinião pública a partir das notícias veiculadas pela imprensa. O advogado disse que “houve uma pressão muito forte sobre ele por parte da opinião pública em tom acusatório”. Velludo continua na defesa de Alexandra e de Paulo Roberto de Abreu Júnior, gerente da Atmosphera, também investigado na Sevandija. 

“Fiquei muito surpreso e triste com a situação. Não era algo que esperávamos. Também teremos de buscar conhecimento do que foi apreendido pelos investigadores do Ministério Público e vamos ver o que ele pode representar para as investigações. Essa possibilidade (suicídio) nunca havia sido cogitada”, completou o advogado, que apontou que em razão do abalo na família, não teve muito contato com eles, e que as medidas tomadas pela defesa a partir de agora ainda serão delineadas.

Velludo afirma que passou a semana se inteirando sobre o caso e sobre as possíveis novas provas, além de aguardar a análise do material apreendido por parte do Gaeco para preparar a defesa da Alexandra e de Paulo Roberto, já que ainda espera pela denúncia na promotoria.

Atmosphera, empresa de Plastino, foi beneficiada nas licitaçõesNo dia 1º de setembro, quando foi deflagrada a Operação Sevandija, em Ribeirão Preto, os promotores do Gaeco e os agentes da Polícia Federal já haviam passado pelo apartamento de Plastino. Na ocasião, foi apreendido um cofre onde foram encontradas cinco cédulas de R$ 2,00 em que estariam anotados nomes de políticos que deveriam receber recursos para apoiar matérias de interesse da Prefeitura de Ribeirão Preto na Câmara Municipal, e também os interesses da Atmosphera. Além disso, foi encontrada no cofre uma pistola 380 e munição, arma do mesmo modelo que teria sido utilizado pelo empresário para se matar.

O promotor Marcus Túlio Nicolino afirma se tratarem de armas distintas e que ele teve acesso a esse novo armamento após ter deixado a prisão, no Centro de Detenção Provisória de Serra Azul, no dia 6 de outubro. “Anteriormente, ela teria sido recolhida pelos agentes da investigação, como ocorreu naquela ocasião”, informou Nicolino.

Sucessão de fatos

Plastino foi detido pela Polícia Federal no Aeroporto de Cumbica, em Guarulhos, no dia 3 de setembro — dois dias após a deflagração da Sevandija —, após retornar do exterior. Ele era apontado pelo Gaeco por, supostamente, ter cometido os crimes de fraudes em licitações e corrupção ativa, por ter se encontrado com vereadores, marcando um café, na maioria dos casos, para acertar os pagamentos de acordos com os parlamentares para aprovarem na Câmara Municipal projetos de interesse da administração da prefeita Dárcy Vera (PSD).

No dia 5 de outubro, o empresário conseguiu, no Superior Tribunal de Justiça (STJ), o habeas corpus da prisão preventiva, autorizado pelo ministro Sebastião dos Reis Júnior, que considerou que, em razão dos contratos terem sido suspensos ou rescindidos, além da Atmosphera estar sob intervenção judicial, e do afastamento dos vereadores, não haveria risco de reiteração. “A organização tida por criminosa foi exposta”, escreveu o ministro em Os promotores de justiça, Marcus Túlio Nicolino e Luiz Henrique Pacini estiveram no apartamento de Plastino e apreenderam documentossua decisão, naquela ocasião.

Tanto a namorada de Plastino, Alexandra Ferreira Martins, quanto o gerente da Atmosphera, Paulo Roberto de Abreu Júnior, foram apontados pelo Gaeco como autores de crimes de participação em organização criminosa, fraude em licitação e corrupção ativa.

A Atmosphera é apontada pelos promotores como beneficiada em licitações para a contratação de mão de obra terceirizada para a Companhia de Desenvolvimento Econômico de Ribeirão Preto (Coderp). Segundo o que foi apurado pelo Gaeco, a empresa teria recebido do município além dos serviços prestados. Seus contratos forma renovados mediante o pagamento de propina.

As suspeitas em torno do empresário não são recentes. A Atmosphera foi apontada por uma Comissão Especial de Estudos (CEE) da Câmara Municipal de Ribeirão Preto, em 2005, como recebedora de privilégios em licitações. Em vídeo gravado naquela ocasião, Plastino alegava ter influência sobre a fiscalização das obras, podendo “afrouxar” ou “apertar” a fiscalização, de acordo com a conveniência, sugerindo, com isso, que tornaria a vida da empresa no canteiro de obras um verdadeiro “inferno”. Isso, caso não houvesse a cooperação das empresas habilitadas em participar de uma licitação, da qual a Atmosphera também foi concorrente, pressionando os representantes de outras empresas a desistirem do processo licitatório. 

Texto: Leonardo Santos
Foto de capa: Sérgio Masson

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