Tudo por elas

Tudo por elas

Os papais de meninas mostram que entre os segredos para exercer a paternidade rodeados por laços e fitas está o ato de se despir de preconceitos e de machismos

Ter ou não filhos não é uma decisão fácil de ser tomada — isso, quando a chegada dos pequenos é planejada. De uma maneira ou de outra, a função exige total dedicação e significa assumir a responsabilidade de conduzir uma nova vida rumo à independência, apontando os caminhos que devem ser seguidos e estruturando a consciência daquela pessoa de maneira que ela chegue ao momento de fazer as próprias escolhas de forma acertada. Mais do que isso, significa assumir o desafio de viver um amor sublime que, ao mesmo tempo em que preenche o coração, traz uma imensa carga de preocupações difíceis de lidar. A visão acima é apenas uma versão possível sobre a maternidade e a paternidade, graças à subjetividade do assunto, e serve como ponto de partida para uma justa homenagem que se aproxima.

O próximo dia 9 de agosto será de muitas comemorações para os papais, que exercem um papel importantíssimo na vida familiar. Dos primeiros banhos à vida adulta, tudo fica mais fácil com a ajuda e a participação deles. Desde o primeiro instante, são eles as primeiras referências masculinas dos bebês que, por imitação ou diferenciação, vão se descobrindo a cada dia. “É com os pais — entenda mães e pais — que o bebê experimenta as primeiras sensações de amor, de dor, de alegria, de frustração, e com essas primitivas experiências vai tecendo o conhecimento de si”, explica a psicanalista Guiomar Papa de Morais, membro efetivo da Sociedade Brasileira de Psicanálise de Ribeirão Preto. Portanto, o reconhecimento de quem se é, da própria existência, do potencial, seus recursos e limites, ou seja, da sua identidade, é fruto da internalização e da elaboração das experiências vividas desde o nascimento com os próprios pais e de sua identificação com eles.

Quando bebês, dá para afirmar que essas relações se estabelecem simultaneamente com o pai e a mãe, não fazendo diferença ser menino ou menina. Muito mais do que isso valem as relações vivenciadas pelos pais ao longo de sua trajetória, principalmente, com os próprios progenitores. “São os conflitos que cada um vive em relação ao seu papel de pai que terão uma ligação direta com o próprio desenvolvimento dessa conexão pai-filho (a)”, continua a psicanalista. Segundo ela, é interessante que o homem parta do princípio de que, agora, deve exercer a função paterna, que é mais do que a soma de comportamentos adequados. Constitui-se em uma relação afetiva longa, profunda e eterna, de acertos e erros, encontros e desencontros, expectativas frustradas e satisfações inesperadas. “O aprender com tudo o que compõe esta relação pai-filha ou filho é o que de fato importa e faz a diferença para ambos”, afirma Guiomar.

Ainda assim, parece haver um consenso sobre a proximidade entre pais e filhas. Sem a pretensão de desvendar as teorias do pai da psicanálise, Sigmund Freud, na prática, os progenitores costumam aproveitar todos os frutos do jeito carinhoso e os encantos que marcam o sexo feminino, enquanto elas buscam proteção e aconchego no colo dos pais. “E eles tendem a proteger e cuidar da segurança das filhas, pois é fato que a violência é uma realidade no nosso país e que as mulheres — não só, mas principalmente — são alvos mais vulneráveis”, opina a psicanalista, que acrescenta que o nascimento de uma filha é, para o homem, mais uma oportunidade de reedição e elaboração da própria capacidade de se relacionar com o universo feminino e se expandir na expressão da emoção e dos sentimentos que, no universo masculino, é algo tão controverso.

APRENDER DIARIAMENTE

Esta é a missão que o empresário Fábio Malerba Iazetta está encarando desde o dia 3 de janeiro de 2015, e em dose dubla. A data marca a chegada das gêmeas Bárbara e Lara em sua vida. “A chegada delas não foi planejada, aliás, a Vanessa e eu estávamos começando a namorar quando tudo aconteceu. Apesar do susto, contamos com total apoio da nossa família desde a descoberta da gravidez e aproveitamos a oportunidade para fortalecer nossa relação como um casal”, afirma Fábio, que levou um susto maior ainda quando confirmou que seriam duas! “Lembro que, desse dia em diante, não consegui mais tirar o sorriso abobalhado do rosto, preenchido por uma sensação de orgulho pessoal”, acrescenta o empresário.

Organizar tudo em tempo para a chegada das meninas foi uma verdadeira corrida contra o relógio. “Tivemos que encontrar casa, mobiliá-la, fazer o enxoval e tudo mais! Contamos bastante com a ajuda da família para isso. Através de livros, amigos, parentes e da internet, mergulhamos de cabeça nesse universo das meninas e, especialmente, gêmeas”, completa Fábio. Essa foi a parte fácil.

Desde janeiro, o empresário vive intensamente o mundo cor de rosa de Bárbara e Lara: faz todos os esforços possíveis para estar em casa em tempo de acompanhar as principais atividades das meninas, como banho e papinha. Além disso, tornou-se, desde a viagem para a compra do enxoval, especialista em vestidinhos, laços e babados — claro que, isso, sempre com a assessoria da mulher. Essas novidades são só as primeiras na gama que ele terá que encarar tendo uma casa cheia de meninas. Mas Fábio garante que não teme as próximas fases. “Sinceramente, a única coisa que me assusta em relação ao futuro é o mundo que elas encontrarão para viver. O que vemos é cada dia mais intolerância e inversão de valores. Só com uma base familiar muito sólida, voltada à educação e à fé, elas terão condições de buscar a felicidade. Por isso, pretendo ser uma referência para elas”, pontua o papai orgulhoso, que quer ter mais filhos e não se incomodaria se mais meninas chegassem para ocupar a casa.

SEM PRECONCEITOS E MACHISMOS

Para o advogado André Hentz, a paternidade também chegou de forma inesperada, aos 24 anos. Quando Isabella nasceu, a felicidade e a apreensão não se separavam por nada, pois tudo era novidade na vida do papai. “Como referencial, tinha apenas a criação que havia recebido dos meus pais e, como tenho apenas um irmão mais novo, não tive a oportunidade de vivenciar o desenvolvimento de uma menina”, relata. Para André, essa inexperiência foi, na verdade, positiva, pois permitiu a ele compreender o universo cor de rosa sem preconceitos, livre de machismos e disposto a aprender o máximo possível para ser um ótimo pai. Os desafios foram aqueles enfrentados por todo papai de primeira viagem, inclusive, para não mimar e proteger demais a primogênita, o que sempre acaba acontecendo.

Mas a chegada da Manuela, quatro anos depois, parece ter provado que o aprendizado anterior valeu a pena. “Além de desfrutar do carinho e da meiguice natural das meninas, que conquistam qualquer pai, percebi que eu também podia inserir minhas filhas no meu universo. Esse intercâmbio tem se mostrado bastante enriquecedor para os dois lados”, garante o advogado. Hoje, passados alguns anos, André constatou que o fato de ter tido duas meninas facilitou, e muito, a comunicação e a criação dentro de casa. “Sem contar que, por terem interesses comuns, a amizade e o companheirismo entre a Isabella e a Manuela se fortalecem dia após dia”, comemora o pai.

Para deixar o diálogo sempre aberto, procura participar ativamente da rotina das meninas, buscando na escola, indo a todas as reuniões, fazendo juntos as refeições, assistindo a filmes — o programa preferido delas com o papai —, entre outas atividades. “Busco conversar bastante quando tenho a chance de falar no meio de todas elas”, brinca. Ao lado da esposa Fernanda, André tenta ser referência para Isabella e Manuela, hoje com 11 e 8 anos, respectivamente, especialmente por reconhecer que o mundo atual é pautado pelo individualismo e pelo consumismo. “Insisto diariamente com as minhas filhas que é mais importante ‘ser’ do que ‘ter’. Em relação ao futuro delas, o que mais me preocupa é o desrespeito que a sociedade brasileira de um modo geral ainda tem pelas mulheres, o que se observa, por exemplo, na falta de tratamento igualitário em relação aos homens”, alerta o advogado.

Preparando-se para viver a adolescência de Isabella, André diz que está tendo que se adaptar para entender melhor os desejos e as necessidades da filha, buscando evitar, na medida do possível, os conflitos. “Mas creio que os valores fundamentais já foram plantados na primeira infância e cultivados constantemente. Agora chegou a hora de dar um pouco mais de liberdade para a Isabella e de monitorá-la para verificar se ela a está exercendo com responsabilidade”, ressalta ele, que não pretende ter mais filhos, mas curte intensamente a relação com os quatro sobrinhos homens.

BENDITO FRUTO

Na casa do empresário Marcelo Marzola, elas dominam o ambiente há mais de duas décadas. Suas três filhas — Gabriela, Jéssica e Rebecca — já estão com 26, 23 e 21 anos, respectivamente e, por isso, ele já aprendeu algumas lições importantes. “Já sei, por exemplo, que é impossível chegar pontualmente a um evento familiar com quatro mulheres em casa para se arrumar. Também não é muito simples encontrar espaço para falar, por isso, me aperfeiçoei em ouvir”, brinca o empresário, que, desde a expectativa pela primeira filha, sentia que seria pai apenas de meninas. Isso, para quem cresceu em uma casa só de homens, certamente seria um grande desafio, que Marcelo encarou e curtiu bastante. Desde o nascimento da primeira menina, só não tem saudade das noites sem dormir, mas garante que aproveitou cada fase. “Além de falantes, elas são mais carinhosas e companheiras”, revela Marcelo.

Na condução de suas meninas, o empresário ressalta que a experiência de uma para a outra vai tornando o processo mais tranquilo, mas que não dá para repetir ou ensinar fórmulas prontas porque é a personalidade de cada uma que mais vale. “A Gabriella é mais parecida comigo e também seguiu minha profissão; a Jéssica é a mais questionadora e falante; já a Rebecca foi quem teve a adolescência mais trabalhosa”, lista o pai, garantindo que, no saldo final, todas foram, e continuam sendo, muito tranquilas. Até mesmo em relação aos namoros, frisa que não se considera um pai ciumento, estimulando a convivência saudável com os genros. A filha do meio, inclusive, está de casamento marcado para o próximo mês e Marcelo fez questão de participar de todos os preparativos.

Os programas em família, aliás, são constantes e o cinema é um dos favoritos. “Também fazemos questão de almoçar sempre juntos e transmitir exemplo de afeto e bom comportamento. Nesse sentido, levo uma certa vantagem, pois não gosto de beber e adoro praticar esportes”, revela Marcelo, mas ressalta que a veia esportiva não foi transmitida no DNA. Para os futuros papais de meninas, Marcelo tem apenas uma recomendação. “Curtam bastante cada fase das meninas e terão muitas alegrias”, finaliza.

Texto: Luiza Meirelles
Fotos: Julio Sian
Produção: Marcela Versiani
Modelos: Gabriel Cândido da Silva e Ana Elisa Boldrin Silva (firstagencymodels.com.br – tel.: 16 3021-1211)
Agradecimentos: Baby Center (tel.: 16 3911.4664) e Full Store (tel.: 16 3421.5998)

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