Ribeirão Preto vira destino de mão-de-obra europeia

Ribeirão Preto vira destino de mão-de-obra europeia

Desemprego na Europa torna o Brasil destino de muitos estrangeiros, mesmo com País passando por crise econômica

O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divulgou nesta sexta-feira, dia 29, a redução de 0,2% do Produto Interno Bruto (PIB), no primeiro trimestre do ano. Em relação ao mesmo período de 2015, a queda foi de 1,6%.

O arquiteto espanhol Álvaro Prieto Daniel não entende o porquê dessa “pequena” recessão que o Brasil vem passando,  e que se estende desde o ano passado, assustar tanto os brasileiros, ao nível de as empresas diminuírem o número de funcionários e os gastos.

Álvaro veio para Ribeirão Preto acompanhado da esposa brasileira, em busca de emprego na área em que é formado e que ostenta o título de mestre. Mas nos seis meses que está na cidade, ainda não encontrou nenhuma oportunidade no setor.

Ele acredita que o Brasil tenha fortes “álibis” para transpor a atual situação financeira, já que comparado com o país natal dele, a situação ainda está bem tranquila, e ainda por cima não sofre com o forte desemprego como na Espanha, que registrou desemprego de 23,7% no começo deste ano, e entre os jovens com menos de 25 anos, caso de Álvaro, este índice alcança 51%, de acordo com o Instituto Nacional do Emprego da Espanha.

Aqui a taxa está bem longe, em 6,4%, segundo o IBGE. Mesmo assim, o percentual é o maior desde 2011, quando era de 6,5%. O arquiteto acredita que estamos muito apavorados, e que temos de olhar para os lados positivos.

“Ribeirão Preto é uma cidade rica, com PIB de locais em países desenvolvidos, penso que precisa usar esse momento a favor para continuar crescendo, e não permanecer estagnado. Aqui ainda é diferente de Rio de Janeiro e São Paulo no quesito de cidade. A violência é menor, e não enfrenta o trânsito terrível desses lugares, embora os automóveis sejam um problema no mundo inteiro”, acredita o arquiteto.

Rota de estrangeiros

Na região de Ribeirão Preto existem aproximadamente 1.200 cidadãos nascidos na Espanha e mais da metade deles vivem no município, segundo o Vice-Cônsul Honorário em Ribeirão Preto, Jacobo de Cal y Alonso.

Ele acredita que a maioria dessas pessoas ainda seja de imigrantes que chegaram entre as décadas de 1920 e 1940, período que o país da península Ibérica passou por uma violenta Guerra Civil, que levou ao governo o ditador fascista Francisco Franco.

Embora Cal y Alonso afirme que houve uma imigração de pequenos e médios empresários recentemente, devido à crise financeira que a Espanha enfrenta desde 2008. Mesmo com casos como o de Álvaro, que ainda não conseguiu um emprego na área na qual é formado, o período complicado que a economia brasileira vem passando não tem atrapalhado muito a estada dessa mão de obra estrangeira.

“Isso é interessante. Primeiro pelo tamanho das empresas, que são as de menor porte, não somente as grandes multinacionais, como Telefónica e Repsol, por exemplo. E segundo, porque estão vindo para o interior de São Paulo, não para a capital do estado ou para o Rio de Janeiro”, disse.

Essa movimentação de espanhóis no interior de São Paulo tem chamado a atenção de um grupo de empresários da região para a reabertura da Casa da Espanha em Ribeirão Preto, fechado desde a metade do século passado.

Por isso, eles estão realizando visitas a Catanduva, onde existe uma Casa da Espanha, a mais antiga da região, fundada em 1926, para conhecer como funciona a organização do local, para que possa ser aplicado um sistema parecido em Ribeirão Preto. A ideia da “Casa” é reunir espanhóis e admiradores da cultura espanhola. “Para que nós não percamos nossas raízes, a fluência de nosso idioma”, explica o vice-cônsul.

Holandês


Além dos espanhóis, pessoas de outras nacionalidades, como o holandês Dennys De Jong, que há quatro meses veio morar em Sertãozinho com o companheiro. Ele mantém o hábito dos Países Baixos de usar a bicicleta para se locomover para qualquer lugar, como para dar aulas de inglês e para o emprego em um buffet.

Ele acha estranho que aqui esse costume não seja tão comum, embora teorize algumas possibilidades. “Sou de Amsterdam. E se ando de carro duas horas ao norte da cidade, chego na fronteira com a Alemanha, duas horas ao sul, chego na Bélgica. Aqui não. Com as distâncias maiores, talvez os brasileiros fortaleçam essa ideia pelo carro”, acredita.

Dennys pretende ficar morando no Brasil, muito por causa do calor, que ele diz não incomodar tanto, da comida e da beleza dos grandes prédios da vizinha Ribeirão Preto, como os shoppings “bem ao estilo norte-americano”.

Ele aponta que os problemas enfrentados aqui, como a própria crise econômica e as realidades sociais distintas, sejam muito parecidos com os do país dele, embora lá, esses desafios sejam superados por haver um entendimento que para superá-los tenha que se transpor as diferenças dentro da própria nação.

Romena

Já a romena Mihaela Simnicea Frazon veio para Ribeirão Preto para viver com o marido que conheceu pela internet, e isso já faz mais de cinco anos. Aqui ela trabalha de cuidadora, embora seja formada em fisioterapia.

Neste período na cidade, ela já se acostumou tanto com o português que se sente mais à vontade de conversar no nosso idioma do que a língua mater dela. “O romeno reservo para conversar com a minha família”.

Mihaela também está terminando um curso técnico na Etec e, assim como Dennys, é apaixonada pela comida brasileira, principalmente o churrasco e o açaí. “Se deixarem eu como todos os dias”, aponta.

Mas como o espanhol Álvaro, mais do que a crise econômica que o País esteja passando, ela se sente incomodada mais com as diferenças sociais, bem antagônicas no município. “Tem lugares muito ricos, de repente você vê muita pobreza. Dá a impressão que isso tira o cuidado das pessoas com a cidade”, finaliza Mihaela.

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Leonardo Santos (colaborador)
Foto: Bruno Silva e Leonardo Santos

 

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