Gestão participativa

Gestão participativa

No encontro com Duarte Nogueira, o presidente da Associação de Engenharia, Arquitetura e Agronomia de Ribeirão Preto (AEAARP), Carlos Alencastre revela novos projetos

Os anos 1940 e 1950 marcaram a transição do Brasil entre o rural e o urbano. Naquele tempo, surgiram no país as associações de classe e os sindicatos, tornando democrática e participativa as relações sociais. A Associação de Engenharia, Arquitetura e Agronomia de Ribeirão Preto (AEAARP) é uma das mais antigas do país nascida nesse movimento de democratização. Fundada no dia 8 de abril de 1948, a instituição atravessou as últimas sete décadas propondo inovações nas relações de trabalho de algumas das áreas mais sensíveis da economia, as da construção, da agricultura e da indústria. Além disso, também tem participado ativamente dos debates que marcaram o desenvolvimento econômico e social da cidade.

O engenheiro Carlos Alencastre é o presidente da entidade há dois anos e considera que, hoje, com dois mil associados, o desafio é manter a Associação conectada às necessidades do mercado e atenta aos debates que Alencastre e Nogueira buscam o desenvolvimento sustentável para Ribeirão Pretocolaboram com a cidade, além de fortalecer a atuação de engenheiros, arquitetos e agrônomos. Um dos associados mais ativos é o prefeito de Ribeirão Preto, Antônio Duarte Nogueira Júnior, que aponta a relevância dessas atividades para o perfil econômico da cidade. Destino para agricultores e pecuaristas vindos de Minas Gerais, Ribeirão Preto converteu-se em importante polo prestador de serviços e protagonista de ciclos de grande riqueza, com o café e a cana-de-açúcar.

Alencastre e Nogueira concordam que Ribeirão Preto deve retomar o eixo de desenvolvimento e de geração de empregos. Neste sentido, as atividades na indústria, na construção civil e na agricultura são alavancas importantes, e a participação da sociedade civil organizada é essencial para unir esforços na reconstrução. Na entrevista, concedida à Nogueira e acompanhada pela jornalista Rose Rubini, Alencastre fala sobre a AEAARP e as contribuições que a entidade pode dar para o aprimoramento dos profissionais em suas áreas de atuação, bem como na melhoria da qualidade de vida da comunidade ribeirãopretana. 

Nogueira: Qual a filosofia da sua gestão?
Alencastre:
Eu tenho uma forma de ser extremamente horizontal. Não sou um presidencialista e prefiro decidir as questões com uma troca entre os diretores, ouvindo conselhos e trocando opiniões. O regime presidencialista acaba dando marcas pessoais que considero já superado. Por isso, procuro envolver o máximo de pessoas daqui e da comunidade para termos rumos mais democráticos. Insistir em um personalismo forte não é nosso objetivo.

Nogueira: Perto de completar 70 anos, a Associação tem uma história com a cidade. Na época, a entidade pretendia ser o que é hoje ou sua visão é diferente da gênese do pensamento inicial?
Alencastre:
No momento da fundação, havia um interesse muito grande do associativismo de profissionais que se formavam no pós-guerra. Eles sentiam grande necessidade de conversar e trocar ideias sobre Engenharia. Hoje, a visão é totalmente diferente. Existem muitos profissionais no mercado e a associação busca, sem perder sua essência, ter uma parceria profissional, mas também uma vida dentro da comunidade. É preciso conhecer as questões técnicas para isso, envolver a juventude e os recém-formados, que hoje têm outras prioridades.

Nogueira: Quais seriam essas necessidades?
Alencastre:
Nessa era digital, os jovens profissionais, de todas as áreas, têm necessidades muito diferentes daqueles do pós-guerra. Hoje, buscam intercâmbios, parcerias, enfim, vivemos um tempo que a troca de experiências vai além do que o associativismo proporcionou até pouco tempo. Nesse sentido, a AEAARP acompanha as mudanças, como já fez várias vezes nas últimas sete décadas, mantendo a essência da valorização profissional e do fortalecimento da atuação de engenheiros, arquitetos e agrônomos no mercado.

Nogueira: Como ocorre a interação da AEAARP com a sociedade?
Alencastre:
A questão técnica de uma comunidade permeia todos os temas. Por exemplo, ao pensar a educação, é preciso lembrar que se deve construir uma escola com arquitetura adequada, além de ter todos os quesitos para que os conhecimentos sejam transmitidos da melhor forma possível. Devemos levar em conta a arborização, o paisagismo, o sistema viário, o transporte, entre outros temas. Tudo isso tem uma questão técnica e que envolve toda comunidade. A Associação se insere, praticamente, em todos os assuntos da comunidade. A AEAARP tem grande histórico de participação nesses debates e está cada vez mais disposta a opinar, colaborar, discutir, ouvir e ser ouvida em questões técnicas que impactam a qualidade de vida na cidade.

Encontro foi acompanhado pela jornalista Rose RubiniNogueira: Quais são as iniciativas para o futuro da AEAARP?
Alencastre:
Fizemos uma radiografia recente que demonstrou uma série de necessidades relativas a organização, gestão e comunicação, especialmente, para estarmos sempre conectados às necessidades do mercado. Dentro de alguns meses, entrará no ar um novo portal, que vai proporcionar interação entre os profissionais e fornecerá as informações que necessitam para o cotidiano de sua atividade. Ao completar 70 anos, em 2018, a AEAARP será mais digital, respondendo mais uma vez às demandas e às necessidades do mercado. 

Nogueira: Qual o tamanho hoje do quadro associativo, da área geográfica de abrangência e quais as interferências da Associação?
Alencastre:
Somos hoje cerca 2.000 associados, entre engenheiros de todas as categorias, geólogos, arquitetos e agrônomos. A entidade foi criada para atuar em Ribeirão Preto, mas, com a instalação da Região Metropolitana, temos que pensar como uma instituição mais regionalizada, no sentido de colaborarmos nesse planejamento regional. Também precisamos ver o município como um importante centro de pensamento tecnológico.

Nogueira: Como a Associação se guia para o futuro e quais outras atribuições ela pretende se ocupar?
Alencastre:
Pretendemos aprofundar nossa atuação junto ao poder público municipal, ao legislativo e a todas as instâncias que atuam junto à Administração Municipal, ou outros que nos procurem, no sentido de contribuir para a troca de informações ou a elaboração de projetos técnicos em diversas áreas. Hoje, já trabalhamos e acolhemos em nossas instalações o Conselho Municipal de Urbanismo (Comur), participamos dos comitês das bacias hidrográficas dos rios Pardo e Grande, do Conppac, do Condema, entre outros conselhos. Pretendemos continuar nessa linha, visando sempre ao bem-estar e ao desenvolvimento sustentável do município. Outra iniciativa da Associação é o Fórum Ribeirão Preto do Futuro, grupo de estudos que pauta temas que influenciam na qualidade de vida da cidade, como trânsito, transporte, plano diretor, entre outros.

Nogueira: Como a Associação se prepara para atrair o jovem profissional?
Alencastre:
Este é um público extremamente exigente e, nos últimos meses, aprofundamos ações que ampliam a oferta de serviços, como convênios com instituições de ensino, de línguas e de saúde. Estamos nos preparamos para firmar parcerias em âmbito nacional e internacional. A Associação tem de ser o trampolim para a realização de sonhos, além do espaço de fortalecimento das relações de trabalho. A AEAARP será cada vez mais digital, porque a vida demanda tempo e porque, assim como aquele grupo de profissionais encontrou naquele modelo de associativismo a forma de conversar com os seus pares, hoje, nós temos de atender outras necessidades, com outras ferramentas, mas com o objetivo comum desses dois tempos: fortalecer a atuação profissional de engenheiros, arquitetos e agrônomos. 

Nogueira: Em sua visão, o que mudou nas relações de trabalho e nas sociais?
Alencastre:
Há na AEAARP certa inquietação nesse sentido. A representatividade e o papel das entidades de classe mudaram. Continuam importantes, mas é necessário buscar novas formas de diálogo e de atração de profissionais para atender às mudanças de perfis, tanto do mercado quanto das gerações atuais e futuras. Neste sentido, propomos um novo modelo de associativismo, dinâmico, digital e conectado às necessidades da “Minhas decisões são sempre compartilhadas com os demais diretores”, afirma Alencastresociedade. Entendo que, inserida na sociedade, a Associação valoriza os profissionais que representa ao demonstrar o quanto são essenciais para a segurança, a qualidade de vida etc. 

Nogueira: Como é o envolvimento da Associação com as unidades formadoras destes profissionais?
Alencastre:
É intensa, principalmente no que se refere à oferta de conhecimento. Durante todo o ano, nossa agenda de eventos busca ofertar experiências e vivências tecnológicas e de mercado, possibilitando ao jovem profissional a absorção de experiências que proporcionam oportunidades. Para os profissionais do sistema Conselhos Federal e Regional de Engenharia e Agronomia (CONFEA/CREA) e o Conselho de Arquitetura e Urbanismo do Brasil (CAU), empreendedorismo é algo natural, por exemplo. Em alguma medida, todos nós fomos profissionais liberais, sem vínculos formais de trabalho. A AEAARP oferece esse suporte, tanto do ponto de vista do conhecimento quanto de estrutura. Na sede, por exemplo, temos uma sala que todo associado pode usar, gratuitamente, para reuniões de negócios. É um importante apoio para quem já está no mercado e para quem está começando a vida. Além disso, abrigamos, por meio de convênios e parcerias, cursos de pós-graduação, extensão universitária e cursos livres, todos com condições especiais para os associados.

Nogueira: De que forma a AEAARP poderia contribuir para deixar a cidade mais arrojada?
Alencastre:
Tudo o que se refere aos temas da área tecnológica, a AEAARP está disposta a colaborar, o que, aliás, já faz sete há décadas. Neste momento, entretanto, estamos dispostos a liderar um movimento que reúna esforços dos profissionais experientes com aqueles que estão começando a vida e, portanto, estão cheios de energia, novas ideias e visão de mundo. É também nossa responsabilidade colaborar nos debates acerca do trânsito, transporte, plano diretor, arborização urbana, drenagem, saneamento, entre outros, tanto quando somos convidados ou provocados. A cidade precisa traçar um plano estratégico para voltar a crescer de forma sustentável e desenvolver ações para melhorar a qualidade de vida da comunidade. É isso que eu vislumbro para a Associação que sempre esteve comprometida com a comunidade. 

Nogueira: Como Ribeirão Preto deve se comportar para servir de exemplo aos demais municípios?
Alencastre:
Esse é um desafio extremamente grande. A aptidão da cidade é a prestação de serviços, mas se desponta também com o desenvolvimento de indústrias de base tecnológica, como o desenvolvimento de softwares, equipamentos médico e odontológico. É preciso investir na geração de empregos e na capacitação de mão de obra para atender a essas necessidades. A Associação pode ajudar nesse planejamento, apontando algumas ações que levem a um desenvolvimento sustentável. Além disso, a área tecnológica deve ser bastante implementada, com indústrias que tragam tecnologias de ponta e gente habilitada para desenvolver esse mercado de trabalho.

Nogueira: O que a Associação já tem feito para contribuir com essa questão?
Alencastre:
Geração e difusão de conhecimento. Nosso cronograma de eventos, com palestras, simpósios e ciclo de debates com especialistas em vários assuntos, objetivam produzir conhecimento e retê-lo na cidade. Com isso, desenvolvemos um ambiente de busca por essa nova tecnologia e novo modelo de relação de trabalho para que possamos transformar Ribeirão Preto em uma cidade mais tecnológica. 

Prazer em compartilhar

“Como colega, engenheiro, membro da Associação presidida pelo Carlos Alencastre e adicionando a componente de também, neste momento, exercer o cargo de prefeito municipal é, de minha parte extremamente significativo participar como repórter nessa entrevista feita pela Revide. Assim, ao mesmo tempo, representar cada um dos cidadãos ribeirãopretanos no sentido de obter do nosso presidente toda importância e essência histórica e das mudanças para o futuro que a nossa Associação de Engenharia, Arquitetura e Agronomia vêm fazendo e sua importância no contexto do desenvolvimento econômico e social de Ribeirão Preto. Foi realmente um prazer compartilhar, com o excelente profissional e líder, esse período de grandes transformações da AEAARP.”
Duarte Nogueira, prefeito de Ribeirão Preto.

Texto: Rose Rubini
Fotos: Luiz Cervi

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