A nova identidade digital

A nova identidade digital

Em entrevista à fotógrafa Fabiola Medeiros, a publicitária Carol Moré, fundadora do site Follow the Colours, mostra uma nova maneira de se comunicar com o público on-line

Agradecimento: Senac Ribeirão Preto

Com o “boom” das redes sociais, nos anos 2000, aconteceram muitas mudanças. As perspectivas dos jovens sobre o mercado de trabalho, a construção familiar, a socialização e até a economia — afinal, o mundo digital é uma fonte de renda — ganharam novos caminhos. Hoje, a internet traz uma infinidade de oportunidades construídas de acordo com a personalidade de cada usuário. Nunca se falou tanto em marketing digital, produtor de conteúdo, blogueiro, youtuber e os novos queridinhos: os digital influencers. Além de conquistarem fãs e likes, os influenciadores digitais ganharam marcas, poder aquisitivo e, como o nome sugere, influência suficiente para sair do universo on-line e estampar revistas, outdoors e programas de televisão. 

Para desmistificar o termo, que é designado a pessoas bem relacionadas no mundo virtual alcançando milhões de usuários das mídias digitais, a publicitária Carol Moré, fundadora do Follow the Colours, apresenta esse novo nicho do mercado atuante nas redes sociais. Internet, tendências, design, inovação e arte são alguns dos assuntos nos quais Carol vem se aprofundando desde que deixou a carreira sólida, em uma agência de publicidade, para se aventurar apenas no site. Considerada uma das 99 mulheres essenciais no Twitter brasileiro e na lista das mulheres mais inspiradoras pela Think Olga — uma ONG dedicada ao empoderamento feminino por meio de informação —, a publicitária conhece de perto a vida de um influenciador digital. 

Assim como Carol, a fotógrafa Fabiola Medeiros deixou a carreira como advogada para se dedicar à fotografia. Com a nova profissão, Fabiola conheceu as facilidades do mundo virtual e as aliou às necessidades de amigas. Com isso, criou o Clube da Borboleta, um grupo no Facebook que iniciou com 70 membros e hoje conta com mais de 143 mil mulheres. Na entrevista a seguir, elas mergulham no universo on-line, descobrindo novos espaços e criando uma nova relação entre consumidores e empresas. 
 

Fabiola: Como você começou sua trajetória profissional?
Carol: Trabalhei quase oito anos em agências com planejamento estratégico/digital e, há quatro anos, passei a dedicar meu tempo integralmente ao Follow The Colours (FTC), um site que traz conteúdo informativo e criativo sobre arte, design, cultura, decoração, tecnologia, gastronomia e viagens e também curadoria de conteúdo para marcas e blogs. Já lidei com marcas como Tintas Coral, Shutterstock, Elo7, Lipton, Canon, Ford, LG e Oi. Nesse período, adquiri muita experiência. Também trabalhei com marcas internacionais, quando participei da campanha #lovecapetown, feita pela Secretaria de Turismo da Cidade do Cabo, na África do Sul, incentivando o turismo e o design na cidade. Além do blog, hoje participo do Twin, rede da Trendwatching.com coolhunting, contribuindo com tendências de consumo e insights sobre inovação, e da Hark, no Reino Unido. Uma das frentes que mais gosto é a parceria que o FTC tem com o Pinterest. Somos considerados um dos maiores perfis do Brasil. 
 

Fabiola: Você é formada em publicidade. Como aconteceu essa transição na sua carreira, principalmente por sair de um trabalho fixo para se dedicar ao Follow the Colours?
Carol: Acostumei com a rotina de agência e, quando saí, tive medo da falta de algo “seguro”, mas chegou uma hora em que eu realmente não conseguia mais desenvolver os dois trabalhos, então, decidi arriscar. Claro que tudo tem seus prós e contras, mas fazer o que eu acredito e ser a dona do próprio tempo, apesar de parecer um clichê, é realmente satisfatório e compensador. 
 

Fabiola: Como surgiu a ideia de criar o Follow the Colours?
Carol: O FTC começou em 2009. Eu e uma amiga trabalhávamos juntas em uma agência e decidimos compartilhar inspirações do dia a dia e outras ideias legais que encontrávamos pela web, como hobby. Era bem no começo das redes sociais, sites e blogs. Depois de um tempo, ela acabou mudando para São Paulo para trabalhar em uma grande empresa. Eu continuei tocando o blog sozinha e, com o passar dos anos, o que era hobby, virou trabalho. Hoje, o site tem cerca de 20 colaboradores espalhados pelo Brasil e por outros países, um diretor de arte e um programador. Todo mundo trabalha on-line e remoto. 
 

Fabiola: O FTC é um site que chama a atenção, principalmente, pela parte criativa. O que o diferencia dos demais?
Carol: Acredito que a nossa curadoria, a transparência com os leitores, a linguagem e a informação fora do “mainstream” (corrente principal) são os diferenciais mais marcantes. Nos preocupamos muito, também, com a qualidade da parte visual: layout, navegação, entre outros itens. 

 
Fabiola: Você pretende ampliar o projeto do site?
Carol: Espero que ele continue crescendo cada vez mais, inspirando e informando as pessoas. No finalzinho de 2016, lancei a primeira marca derivada do FTC, a FTC Adorn, uma coleção de colares com design contemporâneos. Ainda este ano teremos mais novidades. 
 

Fabiola: O site apresenta muitas informações sobre as cores. Por que trabalhar com a temática das tonalidades?
Carol: Desde criança, sou fascinada pelas cores, mas, como muita gente, nunca havia parado para pensar na psicologia por trás de um tom ou no que uma cor significa em uma cultura e porque é diferente em outra. Depois de várias pesquisas e leituras, decidi criar um conteúdo original relacionado a isso. Surgiu um projeto exclusivo dedicado ao assunto, o Gotas de Cor, que, hoje, está disponível para pesquisa e visualização no instagram (@gotasdecor). Ele ainda continua, só que com menor intensidade, no próprio FTC. 
 

Fabiola: Com o avanço da tecnologia e, mais especificamente, das redes sociais, muitas pessoas passaram a gerar conteúdo. Como esse material pode se sobressair?
Carol: Pessoas gostam de conversar com pessoas. A voz humana é a coisa mais valiosa que um “creator” pode entregar. Sendo assim, conteúdos que criam valor e conversas com a audiência, de maneira autêntica, acabam sempre se sobressaindo. Vale ressaltar que esse excesso de conteúdo, atualmente, gera uma baixa qualidade na informação. Como as redes sociais imprimiram uma velocidade muito grande às notícias, a preocupação em ser o primeiro se tornou mais importante do que a qualidade e a veracidade da notícia, portanto, acredito que o essencial é não se preocupar tanto em ser o primeiro e sim aquele que fornece bom conteúdo. 
 

Fabiola: Após falarmos tanto sobre blogueiros, aparece em nosso meio o termo influenciador digital. Como você o define?
Carol: No sentido literal, é aquela pessoa que influencia alguém através de um meio digital. Não é, necessariamente, uma celebridade e vice-versa. Influencia com sua opinião ou fazendo propaganda de algo. Essa pessoa tem credibilidade com o público. É uma fonte confiável em recomendações sobre os mais diversos assuntos e até sobre o que comprar na internet. 
 

Fabiola: Qual o papel do influenciador no cenário atual?
Carol: O influenciador comunica aquilo que a marca talvez não entregue ao consumidor/leitor: relevância na mensagem, maior afinidade, alcance e, mais uma vez, credibilidade, já que a maioria dos profissionais é transparente e trabalha somente com marcas que acredita e que gosta. O influenciador faz um tipo de comunicação mais orgânica. É uma tendência mundial. O público já está desgastado com o formato tradicional de propaganda. Como o influenciador pode simplesmente pegar o seu smartphone e mostrar um produto ou serviço ali, na hora, com relativa qualidade, atestando que provou e aprovou aquilo, essa fórmula acaba proporcionando a sensação de proximidade e conforto.
 

Fabiola: Na sua opinião, os influenciadores de hoje podem ser comparados a que segmento no passado? Em que se diferem e em que se parecem?
Carol: Não acho que se assemelham, já que é algo totalmente novo. Os influenciadores são formadores de opinião para um seleto grupo de seguidores. As redes sociais também vêm sendo utilizadas como forma de veículo, principalmente, de propaganda. Essas pessoas ainda estão pavimentando o seu caminho na nova mídia. 
 

Fabiola: Quais os erros mais comuns que levam ao fracasso de quem se aventura por esse segmento? Dê uma dica ao novo influenciador digital para lidar com os “haters” (praticantes de “bulling virtual”). 
Carol: Na maioria das vezes, a internet é o espelho da vida real, mas, estar por trás de uma tela e de um teclado, facilita que muitos “haters” falem o que pensam, achando que isso não terá consequências. Quanto a lidar com eles, depende muito do seu posicionamento como “creator” na internet. Alguns respondem na mesma moeda, outros ignoram as mensagens, focando nas positivas. Então, acho que é só imaginar como seria o melhor jeito de lidar off-line, que, com certeza, será bom on-line, também.
 

Fabiola: A pesquisa youPIX Influencers Market 2016, mostra que, no Instagram, os perfis que possuem cerca de 1 milhão de seguidores costumam ter 1,8% de taxa de engajamento, enquanto os perfis que possuem somente entre 400 e 500 mil seguidores chegam a 7,8% de engajamento. Você concorda que, se pensarmos dessa forma, quanto menor a audiência mais segmentado e engajado se torna o perfil?
Carol: Como algumas das principais redes sociais começaram direcionando seus esforços para a quantidade de seguidores e de likes, surgiram muitos meios pagos e duvidosos como forma de aumentá-los, porém, isso vem caindo. Uma das grandes tendências dentro da área, agora, é pensar em microinfluenciadores, ou seja, aqueles que têm mais poder de persuasão dentro de um nicho, que escrevem em seus blogs ou utilizam as mídias sociais mostrando sua paixão e autenticidade sobre determinado assunto e que acabam sendo considerados especialistas. Se pensarmos bem, realmente faz mais sentido colaborar com 100 microinfluenciadores, cujos seguidores estão realmente interessados no assunto, do que em um que é considerado uma webcelebridade, por exemplo. O conteúdo vai ter um desempenho melhor pela afinidade e pelo interesse real daqueles seguidores. Fica um alerta: dentro das redes, um conteúdo valioso não precisa passar na mão de um único ponto com milhares de conexões. Ele pode ser distribuído a partir de vários pontos menores, mas cada um deles influente dentro de uma determinada comunidade. Somados, eles representam, igualmente, uma audiência gigante.
 

Fabiola: Existem plataformas com AirStrip e Stikingue que vasculham todas as plataformas sociais e fazem a mineração dos dados para identificar influenciadores dentro do seu nicho de interesse. Com a popularização de ferramentas como essas, veremos a publicidade deixar um pouco de lado as celebridades para trabalhar com “pessoas comuns”, que se encaixam no público-alvo que possuem nas redes uma influência considerável entre seus pares. Na sua opinião, são esses, os até então desconhecidos, mas tão almejados, influenciadores digitais? 
Carol: São essas pessoas consideradas pelo público influenciadores digitais, os que têm uma competência reconhecida no setor ao qual pertencem, mesmo não tendo um número de seguidores tão alto quanto os macroinfluenciadores ou as webcelebridades. Essa é uma comunicação extremamente segmentada, mas a consequência é a conquista da relevância. Eles podem ser considerados pequenos do ponto de vista da comunicação de massa, mas possuem um número de conexões que se destaca dentro dos seus respectivos grupos sociais. Então, acredito que a propaganda no meio digital será bem sucedida sempre que for bem direcionada. 
 

Fabiola: Qual o seu conselho para quem está começando no mundo digital?
Carol: Converse nas redes sociais, blogs e sites sobre produtos, assuntos, temas e marcas que você gosta por mera paixão. Seja fiel a isso e aos seus princípios. Suas ações não devem ser motivadas, inicialmente, por uma compensação financeira, até porque, para gerar um bom dinheiro com isso, é necessário muito trabalho. 


Do virtual para o real

“Descobri mais sobre o trabalho da Carol ‘fuçando’ na internet e, ao ter a oportunidade de estarmos juntas, conseguimos trocar experiências e vislumbrar novos horizontes no mundo digital, que é sempre uma caixinha de surpresas. Foi uma experiência ótima, que precisamos repetir. As novas redes sociais permitem uma nova maneira de participação da sociedade, com espaço para todos os interessados interagirem e, mais do que isso, são uma janela para as mudanças da nossa cidade e do mundo. A internet é um espaço altamente democrático, que nos permite alçar inúmeros voos, tudo em um mínimo espaço de tempo, tudo muito rápido, em apenas um clique. Entretanto, como toda novidade, é preciso cautela para que todos tenham acesso a informações reais em um mundo virtual”.
Fabiola Medeiros, fotógrafa e idealizadora do Clube da Borboleta

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