Promessa de austeridade e de pulso firme

Promessa de austeridade e de pulso firme

Depois de estrear na política concorrendo a prefeito pelo PT, o juiz aposentado João Gandini mudou de partido e agora concorre novamente pelo PSB, prometendo uma administração austera, com pulso firme

Qual a sua avaliação e o seu posicionamento em relação aos oito de governo da Prefeita Dárcy Vera?
O atual governo é péssimo. Todo mundo vê, mas quem vai conseguir resolver? Não basta mostrar o buraco. O primeiro problema é o loteamento da Prefeitura de Ribeirão Preto, essa política viciada de distribuição de cargos, que ninguém aceita mais.  Secretarias, autarquias, empresas municipais não estão a serviço da sociedade e dos cidadãos, mas de enormes coligações de partidos, dos caciques e dos coronéis.  Esqueceram-se do bem comum. Essa é a causa da incompetência, da falta de planejamento e da irresponsabilidade financeira da Prefeitura. O prefeito precisa ter muita vontade de acertar, de fazer história e não só de fazer carreira. Necessita ter experiência e conhecer a cidade. Não pode ser arrogante, nem ausente. Qualquer governo existe para ajudar o povo a ser feliz, para trazer segurança, esperança e confiança. No Brasil e na nossa cidade, os governos causam medo, revolta e indignação, prejudicam os negócios, trazem desconfiança e conflito.

Precisamos recuperar a ideia básica da política. Ela só existe para criar uma comunidade feliz e justa. Temos direitos e deveres. A sociedade existe para nos ajudar, e nós devemos ajudar a sociedade. Quando os políticos só se preocupam com seus próprios interesses — em enriquecer, em obter poder para si mesmo e para seus filhos e aliados — eles atrapalham o direito dos outros. A politicagem gera os buracos na rua, a falta de médico, a violência na escola, o trânsito caótico, a demora do ônibus, a insegurança, a miséria nas ruas, a falta de moradia, animais indefesos e desprotegidos, pessoas com deficiência esquecidas em suas necessidades especiais, desemprego... Ela impede que a maioria das pessoas viva bem, sem medo, com esperança.

Segundo o Observatório Social de Ribeirão Preto, o déficit primário projetado para o ano que vem é de R$ 1 bilhão. Caso seja eleito, como pretende administrar a cidade com essa dívida?
Ao que se ouve, a dívida é muito maior, podendo chegar a um bilhão e meio. Há uma dívida enorme com fornecedores: cerca de 280 milhões. Muitas empresas fecharam as portas devido a esse atraso; muitas aumentam espertamente os valores dos contratos.

O primeiro passo será mostrar que há um governo novo, muito sério, que não desperdiça o dinheiro público, que não admite desvios e não faz contratos para favorecer amigos e aliados. Um governo que só paga por serviços comprovadamente prestados, que fiscaliza e deixa fiscalizar. Em primeiro lugar, será preciso fechar os ralos. Além disso, será um governo que respeitará os fornecedores, que pagará em dia, cumprindo a lei e os contratos, com justiça. Vamos equacionar a dívida, planejar o pagamento, negociar e cumprir o combinado, abrindo espaço para investimentos e novos projetos.

Cerca de 90% da receita está comprometida com o pagamento de pessoal e as despesas de custeio. Em contrapartida, a cidade necessita de investimentos em várias áreas. Como equacionar essa questão?
Valorizando o funcionário concursado e reduzindo drasticamente as despesas com os comissionados e terceirizados. Centenas ou milhares deles, hoje, são apenas apadrinhados ou filhos de políticos. Não existirá mais isso na Prefeitura de Ribeirão Preto. Só receberá quem trabalha, reduziremos a despesa. Também economizaremos no custeio. Vamos diminuir o número de secretarias, simplificar, enxugar, economizar, desburocratizar e informatizar. Gastar menos e melhor na máquina para investir nas ruas, nas escolas, nos hospitais e postos, nos parques e nas praças, no esporte, na reabilitação das pessoas em situação de rua, na cultura, na arte e na segurança, na iluminação e na proteção dos animais... Teremos equipes competentes para captar recursos, elaborar bons projetos, aproveitar oportunidades e criar muitas mais. Faremos parcerias com o setor privado para desenvolver a infraestrutura, a moradia, a mobilidade, o equilíbrio do meio ambiente, a economia, o turismo, a cultura, gerando recursos para a cidade, empregos para o povo e bons negócios para os empreendedores. A corrupção, conforme divulgado pela mídia e pelos especialistas, consome uma parte substancial dos orçamentos públicos. Estancar já seria um enorme avanço: sobraria dinheiro público para investimento em setores essenciais à sociedade. Tão grave quanto à corrupção é a ineficiência da administração pública, viciada, burocrática demais, não transparente, refém de apadrinhamentos e feudos políticos. O excesso de cargos de confiança também sangra os cofres públicos. É preciso ter coragem para mexer nesse vespeiro. Um político profissional fará isso; se vive à caça de votos para a próxima eleição? Não, não fará. Ele tem o olhar voltado para o voto e não para a História. Nós, que temos visão de Estado, faremos isso! Teremos pulso firme. A sociedade espera isso.

A lei de 2012, que estabeleceu novos valores para o IPTU, definiu que a atualização da Planta Genérica de Valores deve ser atualizada em todas as gestões. O senhor fará essa atualização?
Acima das leis, está a Constituição, que manda que a tributação seja justa. Em parceria com a Câmara de Vereadores, mudaremos a legislação do Imposto Predial e Territorial Urbano (IPTU) para que ele seja mais justo e coerente com o desenvolvimento da cidade. Não se pode repetir os erros do passado. É preciso melhorar a eficiência da máquina arrecadadora, sem aumentar impostos. A sociedade não aguenta mais a carga tributária escorchante. A eficiência da administração fará sobrar mais dinheiro para investir no atendimento das necessidades da população e na melhoria dos serviços públicos. 

Um dos problemas que a população mais reclama atualmente é dos buracos e da manutenção das vias públicas. Como pretende resolver essa questão em curto prazo?
A Prefeitura gasta muito dinheiro com a manutenção das vias. Buracos dão dinheiro — para alguns — que o povo paga. A manutenção será feita com planejamento e com os materiais e as técnicas corretos para que o buraco não volte após a primeira chuva. Para o serviço render, mas não só nas ruas: precisamos cuidar das calçadas, dos parques, das praças e das áreas verdes. A cidade precisa voltar a ser um lugar agradável e seguro. Cuidar da cidade é cuidar das pessoas, das crianças, dos idosos, de quem está indo e voltando do trabalho e do lazer. No próximo ano, sob o nosso governo, em poucos meses, após as chuvas, a questão dos buracos deverá estar resolvida e nós poderemos andar pelas nossas ruas, a pé, de carro, de moto, de bicicleta, sem riscos e sem danos. Pessoas estão se ferindo e até morrendo nas ruas esburacadas; há muitas ações contra a Prefeitura para reparação dos danos causados pelos buracos. Isso precisa acabar de vez, com competência e compromisso com a população.

Ribeirão Preto gasta, anualmente, cerca de R$ 500 milhões com a saúde, mas, apesar desse grande investimento, a população reclama muito da qualidade do atendimento. Como melhorar o serviço se os recursos estão cada vez mais escassos?
Temos que acabar com as filas e melhorar o atendimento. O investimento não pode diminuir. A saúde é o direito mais básico. Sem saúde, não temos mais nada.  Como juiz, estudei muito o assunto, fiz parcerias e sentenças que melhoraram a saúde de Ribeirão Preto. Nosso sistema público de saúde vai melhorar se aprimorarmos a gestão, a administração. Veja o fracasso total no combate ao mosquito. É puro descaso. Nós resolveremos. Eu não conseguirei dormir se souber que alguém morreu de dengue por incompetência da Prefeitura. Temos que investir na atenção básica, que deve cumprir o seu papel, merecer a confiança da população. Só assim o especialista, os exames e os medicamentos mais caros estarão disponíveis para quem precisa. Isso deve ocorrer. Hoje, infelizmente, investe-se mais em doença do que em saúde, pois não se deu importância à promoção da saúde, à prevenção da doença, para se investir no tratamento do doente. Essa é uma inversão inaceitável de valores. Primeiro se deve investir na promoção da saúde e na prevenção da doença (o ideal é que as pessoas não fiquem doentes). Num último passo, deve-se investir na cura do doente. Hoje, ao contrário do que ensinam os especialistas, investe-se no atendimento mais caro — que dá lucros para alguns — e se deixa de investir na periferia da cidade, onde estão os que mais precisam. Nossos postos de saúde devem ser ampliados e reformados; novas equipes do serviço de saúde da família devem ser criadas; o tempo de espera para consulta pode e deve ser diminuído; o atendimento médico deve ser mais humanizado. Afinal, quem está doente está mais frágil, precisa de mais atenção e de mais respeito!

O senhor considera prioritário equilibrar as finanças do município ou realizar novas obras? 
Antes de tudo, temos que equilibrar as finanças, mas também há necessidade de fazer as coisas de que a cidade realmente precisa, pensando no futuro. Precisamos de visão de Estado (em curto, em médio e em longo prazos); não podemos ser imediatistas. Investiremos muito na reorganização da educação e da saúde.  As famílias precisam e merecem que a escola e a saúde sejam excelentes. Não só na zona sul, mas também na periferia, em toda a cidade. A transparência afasta a corrupção. A eficiência elimina desperdícios. A administração moderna tem menos burocracia e mais competência, melhorando arrecadação e investimentos. Os últimos governos só reagiram depois que os problemas apareceram. A cidade precisa ser pensada, estudada, planejada, com visão de Estado, visando ao futuro das próximas gerações, com políticas públicas transversais, amarradas para evitar desperdício de energia e de dinheiro do povo.

Existem áreas da administração municipal que podem ser terceirizadas, como o Daerp, a área azul e os serviços de saúde, ou não há necessidade de implementar essa medida? 
Os serviços têm que funcionar bem. Discutiremos tudo de forma transparente, com a sociedade e os especialistas, para fazer a coisa certa. O Departamento de Água e Esgoto de Ribeirão Preto, se bem administrado, pode prestar serviço excelente. Mas, não se continuar sendo administrado por políticos despreparados, como cabide de emprego. A área azul da cidade, por outro lado, é medieval, já existem modos muito mais modernos de prestação desse serviço, com aplicativos em celular, por exemplo. Hoje, a Área Azul prejudica os comerciantes, os consumidores, os visitantes da cidade e a arrecadação. Um sistema moderno virá já no primeiro ano de nosso governo. Nossos comerciantes e a população verão como é possível melhorar a vida daqueles que vivem, trabalham e consomem no centro da cidade.

Quais são as suas propostas para a educação? 
A educação me salvou da miséria. A escola pública me trouxe da favela ao cargo de juiz. Quando for prefeito, a educação (e também a cultura) será a nossa maior prioridade. Para muitas crianças e jovens, a escola é o lugar do fracasso, da revolta. Somos nós, os adultos, que fracassamos quando uma criança não aprende. Nossa proposta é a escola integral, com merenda, prédios, instalações, equipamentos, métodos e organização de primeiro mundo. Nossos professores serão os grandes parceiros. Vamos valorizar a categoria, oferecer tecnologia, apoio, liberdade e segurança para trabalhar. Estabeleceremos metas concretas e ambiciosas para a rede de ensino, com os pais, a Câmara Municipal, os professores e os diretores. O Programa Cidades Sustentáveis traz inúmeros caminhos para que a educação seja o começo de uma verdadeira revolução nos costumes e uma forma de prestigiar os que ensinam e os que querem aprender.

Quais são as suas propostas para melhorar a gestão do transporte coletivo?
Trabalharemos para que o transporte fique mais barato, seguro, confortável e rápido. Tentaremos trazer o VLT (Veículo Leve sobre Trilhos), o BRT (Bus Rapid Transit), instalar corredores exclusivos para ônibus e táxis ocupados e combinar os modais diferentes. Como juiz, homologuei o sistema que está sendo implantado no município e que pode melhorar muito. Andei de ônibus lotado durante quase 20 anos. Sei como é o sofrimento de quem depende do transporte público.

O que pretende fazer para melhorar a segurança da cidade?
Teremos um gabinete de segurança no gabinete do prefeito. Acompanharemos os índices de violência semanalmente. Faremos parcerias com as autoridades e com a sociedade civil e cobraremos. Apoiaremos as polícias. Faremos a nossa parte e exigiremos que o Estado e a União façam a deles. Iluminaremos a cidade, multiplicaremos as câmeras e integraremos as ações. Teremos um plano especial para a segurança do centro. Fui juiz criminal por muitos anos e conheço de perto o assunto. Sei como reduzir a insegurança das pessoas. Lideraremos uma luta nesse sentido. A responsabilidade para cuidar da segurança é do Governo do Estado, mas o prefeito, se entender do assunto e tiver vontade e liderança, pode fazer muito. Tenho compromisso com essa mudança!

Quais os projetos que pretende implementar para melhorar a qualidade de vida em Ribeirão Preto?
São muitos os projetos para Ribeirão Preto. Não dá para listar todos. Falta espaço, mas vou dar alguns exemplos: levar bibliotecas, orquestras, eventos, cinema e teatro, aulas de música e artes para toda a cidade, para a periferia. Formar e apoiar os jovens atletas, incentivando os esportes e combatendo as drogas — em parceria com quem entende. Reorganizar a assistência social, apoiando as entidades que cuidam dos carentes. Ampliar as vagas em creches, por convênios com a iniciativa privada e pela ampliação da nossa rede. Apoiar o artesanato e a economia solidária. Apoiar e ouvir as associações e entidades que ajudam a cuidar da cidade. Fortalecer os conselhos, valorizando o controle social, respeitando o espaço da sociedade civil. Cuidar do Aquífero Guarani. Criar sistema municipal de saúde e bem-estar animal efetivo, em parceria com os cuidadores. Apoiar o cooperativismo. Trazer e criar festivais de cultura e arte, música, cinema, teatro, gastronomia, negócios, moda, educação e tecnologia. Impulsionar o turismo e a economia. Criar sistemas de combate permanente à corrupção. Descentralizar a administração, criando novas estruturas, enxutas e eficientes, no centro e nos bairros da cidade, como Campos Elíseos, Vila Tibério, Vila Virgínia, Ipiranga, Ribeirão Verde e outros. Tornar a região metropolitana realidade, com vantagens para nós e para a região. Resolver a falta de moradia e, assim, as invasões, combinando construção de casas com outras formas de garantia do direito à moradia. Cuidar da qualidade do ar. Tornar Ribeirão Preto uma cidade verde, sustentável. Implantar sistema de ciclovias ligando todos os bairros. Fomentar o crescimento, apoiando empreendedorismo e novas empresas com oferta de microcrédito e trazendo empresas que ofereçam bons empregos. Instalar um Poupatempo municipal no centro. Criar um Poupatempo para as empresas — menos burocracia, mais diálogo. Investir no trabalhador, com treinamento, sobretudo dos jovens. Prevemos muito trabalho, mas temos muita energia, que vem da esperança, da fé na honestidade e no bem. Agradeço a Deus, aos 60 anos, por tudo que já fiz na vida, por tudo que aprendi, pelos amigos, família, alunos, prêmios, pelos livros que escrevi, pelas pessoas que ajudei. Lembro sempre com carinho, por exemplo, do Moradia Legal, quando fizemos casas para milhares de famílias. Prometo que o Gandini prefeito vai trabalhar ainda muito mais. Venceremos a eleição se o dinheiro e o poder político não falarem mais alto. Trabalharei todos os dias por Ribeirão Preto, com garra, com minha equipe. A política, com amor e com honestidade, é uma forma muito nobre de ajudar as pessoas. Com ajuda de Deus, serei o prefeito de todos, para todos, com todos! 

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