A bichectomia está em alta
Realizada nos Estados Unidos desde a década de 1980, essa cirurgia cada vez mais se integra à estética brasileira
Um procedimento cirúrgico tem ganhando cada vez mais adeptos, apesar de pouca gente conhecer o nome. Trata-se da bichectomia, cirurgia que reduz as bochechas por meio da extração da “bola de Bichat”, bolsa adiposa que dá um formato arredondado à face. O procedimento se tornou mais conhecido pela mudança estética realizada em rostos de estrelas como Megan Fox, Angelina Jolie e Kim Kardashian, que dispensam apresentações e justificam o aumento de popularidade da técnica.
Engana-se quem pensa que os benefícios estéticos do procedimento têm seduzido apenas mulheres que desejam ter um rosto mais harmônico. Homens também tem se submetido à cirurgia e, agora, já desfilam com as maçãs faciais delineadas e o rosto mais fino, de acordo com o cirurgião plástico Vinícius Basile (CRM 131154). O especialista ressalta que a queixa mais frequente dos pacientes que procuram a bichectomia é que o volume arredondado causado pela proeminência da “bola de Bichat” dá a impressão de que estão mais gordos do que realmente são. “O procedimento é bastante realizado nos Estados Unidos e, como caiu no gosto de muitas celebridades por lá, tem conquistado rapidamente as brasileiras”, comenta
o médico. A afirmação é respaldada pelo aumento da procura por parte dos pacientes: conforme a Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica (SBCP), em 2015, foram realizadas quatro vezes mais bichectomias do que no ano anterior.
A procura tem sido muito grande, segundo Vinicius. “A cirurgia é feita com anestesia local, ou local com sedação, através de uma pequena incisão por dentro da boca e, portanto, não deixa cicatriz aparente. Apesar de ser uma cirurgia simples, deve-se sempre buscar um cirurgião plástico com experiência para efetuar o procedimento, uma vez que estruturas nobres da face, como nervos e glândulas, passam perto da região operada”, adverte o especialista. O cirurgião plástico ressalta, ainda, que o procedimento é feito em ambiente hospitalar, de forma segura e bastante confortável, graças às novas técnicas de anestesia. “O paciente pode optar por permanecer acordado ou dormir durante a cirurgia, mas, de uma forma ou de outra, não sente dor alguma”, enfatiza o cirurgião.
O médico conta que, no dia seguinte, o paciente já pode dirigir e retornar ao trabalho. O inchaço decorrente do procedimento varia de um indivíduo para o outro, mas dura em torno de três dias. Além de não haver restrições alimentares, em poucos dias, o paciente pode retornar às atividades físicas habituais.
Fernando Salgueiro, também cirurgião plástico (CRM 131.569), aponta que alguns pacientes procuram a bichectomia por morderem frequentemente a mucosa oral — parte interior da bochecha —, mas, em quase 100% dos casos, a cirurgia é buscada por razões estéticas. “A maçã do rosto não se sobressai e, mesmo o paciente estando magro, aparenta estar acima do peso, pois o rosto fica redondo e sem definição”, comenta o médico.
O cirurgião relata que, por ser um procedimento rápido, a bichectomia pode ser associada a outras cirurgias. “É feita, por dentro da boca, uma incisão pequena de um centímetro, por onde se retira a ‘bola de Bichat’. Os pontos são absorvíveis e a recuperação ocorre em poucos dias. Pode ficar um pouco inchado por um período de sete a 14 dias, mas não impede o retorno ao trabalho. Recomendo aos pacientes somente alimentos leves e mais gelados para reduzir o inchaço”, comenta Fernando. Apesar de muito conhecido nos Estados Unidos, o procedimento é considerado relativamente novo, que está em voga agora graças à fama adquirida por atrizes que o realizou. O médico destaca, porém, que o número de cirurgias feitas — de duas a três ao mês — não chega nem perto das cirurgias de prótese de silicone e lipoaspiração.
Não é apenas nas clínicas de cirurgias plásticas que o procedimento é procurado. Nos consultórios odontológicos, tem aumentado o número de pacientes com essa demanda, nos últimos anos, de acordo com a cirurgiã dentista Zulene Alves Ferreira. Segundo a especialista, a maioria dos pacientes procura a bichectomia por estética. “Os casos funcionais, em que em que os pacientes mordem constantemente as bochechas são, geralmente, indicados pelos dentistas. A lesão repetida da parte interna da bochecha pode causar uma proliferação de bactérias que gera o mau hálito e doenças da cavidade oral e da gengiva”, explica Zulene.
A cirurgiã dentista revela que o pós-operatório da bichectomia se assemelha ao da cirurgia para a remoção dos sisos e que são necessários alguns cuidados específicos para maior conforto no período pós-cirúrgico. Ela concorda que o aumento da procura que tem ocorrido nos consultórios médicos tem se refletido também nas clínicas odontológicas. “Não consigo precisar o aumento na realização das bichectomias em meu consultório, mas de 2015 para 2016 o número de cirurgias já dobrou”, comenta Zulene, ressaltando que como as 
“bolas de Bichat” não têm um papel importante na constituição corporal, a sua remoção pode ser feita sem qualquer consequência.
Lígia Castro, também cirurgiã dentista, ressalta que a procura pela cirurgia aumentou substancialmente nos dois últimos anos, inclusive, em virtude da facilidade de comunicação. “Os veículos de comunicação e as redes sociais são instrumentos muito eficientes na propagação da informação, porém é preciso lembrar que dúvidas a respeito de qualquer procedimento devem ser dirimidas diretamente com o profissional”, observa a especialista.
Ao que tudo indica, a procura pela bichectomia deve aumentar, tendo em vista os resultados que a técnica proporciona. Lígia comenta que, para a satisfação do paciente, ele deve ser orientado corretamente sobre os benefícios que a cirurgia pode proporcionar no sentido de ganho estético. “É bom lembrar que a bichectomia é um dos vários recursos que utilizamos na estética orofacial. Muitas vezes, associamos outras técnicas a essa cirurgia, como o posterior uso de toxina botulínica e o Plasma Rico em Plaquetas (PRP). A bichectomia proporciona resultados bastante satisfatórios, pois o rosto fica mais definido e afilado, com as maçãs do rosto mais evidentes”, conclui a especialista.
