A grande minoria do poder

A grande minoria do poder

Apesar de já terem quebrado muitas barreiras, ainda é longo o percurso das mulheres rumo aos cargos de poder

As mulheres têm que participar da política em todos os momentos, e não serem chamadas para participar apenas na época das eleições”, é o que afirma a vereadora Gláucia Berenice (PSDB), única parlamentar na Câmara Municipal de Ribeirão Preto, que lamenta a diminuição no número das mulheres na Casa, já que na última legislação eram duas, e na anterior, três.

Gláucia, que chegou a assumir a Prefeitura de Ribeirão Preto em dezembro de 2016, para que o mandato da ex-prefeita Dárcy Vera fosse concluído, aponta que as mulheres precisam ter uma vida política, que vá além dos convites para participarem das eleições apenas para cumprirem a cota que a legislação eleitoral exige. “A participação política deve ser durante os quatro anos, nas ações dos partidos”, analisa a vereadora, que diz que as siglas devem oferecer ações para integrar as mulheres e capacitá-las. A vereadora ainda aponta que a baixa adesão da mulher na política é um reflexo das dificuldades que os próprios partidos políticos têm para atraí-las para suas fileiras, porém, um caminho a ser trilhado, que deve ser repensado.

Esta é a mesma conclusão da professora universitária Cleusa Colluci, única mulher a integrar uma chapa para a prefeitura ribeirãopretana, em 2016, entre nove candidaturas, junto com o ex-juiz aposentado, João Gandini, pelo PSB. Cleusa aponta que a saída para solucionar este problema é o esclarecimento das mulheres sobre a sua importância nos rumos da sociedade, e quais os benefícios que isso traz. “Não só para as mulheres, mas para os jovens também. Quando as coisas não vão bem, esses são os primeiros grupos a irem para as ruas. Temos que ver algo sério, ir à Câmara, participar dos movimentos sociais. Isso tem que ser falado”, destacou.

Embora ela aponte que obstáculos, como o preconceito, os vícios da política, a falta de apoio da família e até exemplos do cotidiano devem ser superados. “No último ano, para nós em Ribeirão Preto, existiam duas referências na política. Uma era a prefeita Dárcy Vera, e a outra era a presidente Dilma Rousseff. Nenhuma das duas cumpriram seus mandatos por estarem envolvidas em escândalos. As pessoas nas ruas nos questionam sobre isso, porque esses são os exemplos delas, mesmo com a quantidade de políticos homens envolvidos em casos de corrupção sendo muito maior”, frisou a professora.

Cleusa, que mesmo derrotada nas eleições, garante que permanecerá na política por ter “gosto pelo contato com as pessoas e pelo desafio”, diz que a política também precisa mudar, pois ainda é muito enraizado o paternalismo, já que muitos eleitores acham que a política é uma oportunidade para pedir algo em troca para o político, sem pensar nas necessidades do coletivo.

Para a historiadora Michelle Borges, a baixa representação da mulher na política é devida ao fato das mesmas serem repelidas do espaço público. Michelle aponta que este é um ambiente masculino desde a sua criação, e que chegando à política, a mulher precisa adotar trejeitos masculinos para ser aceita. 

A historiadora diz que a mudança ocorrerá quando cultura política no Brasil mudar. Para ela, a sociedade precisa entender que, no meio público, a mulher tem que se representar como mulher, e não fazer uma representação similar a dos homens. “As mulheres precisam ser reconhecidas entre nós, e serem reconhecidas por nós, não comparadas com homens em suas respectivas funções”, enfatiza.

Elas são maioria na educação

Além do baixo número de mulheres na Câmara, o secretariado em Ribeirão Preto passa por situação parecida. Das 14 secretarias municipais, a única mulher é Suely Villela, na Educação, pasta que tem grande participação feminina (outras quatro chefiam superintendências). No município, 92% dos professores da rede pública municipal são mulheres; na secretaria, 79% dos funcionários também são do sexo feminino.

Apesar disso, a baixa adesão da mulher aos cargos de poder permanece. Suely, que foi a primeira e única a assumir a reitoria da Universidade de São Paulo (USP), acredita que, mesmo com a evolução positiva na participação feminina neste espaço, desde a concessão do direito ao voto feminino, ainda nos anos 1930, esta caminhada é lenta, o que não é um defeito apenas da política, mas de outros setores, e mesmo fora do Brasil. “Em 80 anos da Universidade de São Paulo, fui a primeira reitora e também a única pró-reitora de pós-gradução. Como pesquisadora, já fui a diversos congressos internacionais e lá vi que a presença das mulheres ainda é muito pequena”, alerta Suely, para quem isso se deve à dificuldade que a mulher tem em dividir suas funções, já que sua presença em casa ainda é muito maior, mesmo tendo nível de qualificação igual ou até superior ao masculino.

“No setor privado, nos deparamos com situação semelhante. Na universidade, o número de alunos na graduação é praticamente meio a meio; já na pós, a participação feminina chega a ser maior. Mesmo assim, os números mostram que, nas pesquisas científicas, os líderes dos estudos ainda são os homens, mesmo com suas equipes formadas por mulheres totalmente engajadas”, analisa a secretária.

Para ela, essas mudanças devem ocorrer. “O século XXI é o século das transformações”, afirma Suely. Isso é preponderante para inserir as mulheres nas principais tomadas de decisões. “Acredito que a capacidade das relações interpessoais da mulher, é maior do que do homem. A mulher pensa de forma técnica e estratégica, mas tem uma visão muito maior e mais capacidade de articulação do que a do homem, o que na política é essencial, mas ainda é preciso coragem para que possa ser inserida com mais frequência”, disse Suely.

Problema nacional

Entre nove chapas concorrentes, Cleusa Colluci foi a única mulher, candidata a vice-prefeita ao lado de João GandiniNo Brasil, apenas uma governadora cumpre mandato atualmente nos 27 estados da União: Suely Campos (PP), governadora de Roraima. Já as vice-governadoras são cinco: Margarete de Castro Coelho (PP), no Piauí; Cida Borghetti (PP), no Paraná; Lígia Feliciano (PDT), na Paraíba; Rose Modesto (PSDB), no Mato Grosso do Sul; e Izolda Cela (PROS), no Ceará. Enquanto isso, apenas 13, dos 81 senadores são mulheres, e na Câmara Federal estão 45 mulheres, ante 468 homens, nas 513 cadeiras no parlamento.

A situação nas prefeituras não é diferente. Em 2016, foram eleitas 641 mulheres, representando 11,5% dos municípios do País. O número apresentou queda em relação ao pleito de 2012, quando elas somavam 659 prefeitas eleitas, enquanto 4.898 candidatos foram eleitos.

De acordo com o Tribunal Superior Eleitoral (TSE), dos 5.668 municípios brasileiros, 2.963 possuem maioria feminina no eleitorado. No entanto, em apenas 24 municípios as mulheres são maioria nas câmaras dos vereadores. Em 1.286 dos 5.568 municípios brasileiros, todos os vereadores são do sexo masculino.

Para efeito de comparação, na Argentina, país onde também existem leis para que as mulheres tenham representação na política, desde 1991, quando foram promulgadas, o número de mulheres aumentou em seis vezes. Ao todo, 36% das cadeiras na câmara dos deputados argentinos são de mulheres, e, no senado, a representação feminina chega a 38%.

A ONU Mulheres, órgão das Nações Unidas (ONU), que defende a participação feminina equitativa, em todos os aspectos da sociedade, aponta que as mulheres enfrentam obstáculos na incursão à participação na vida política. Para a organização, as mulheres sofrem mais com estereótipos de gênero e que, por muito tempo, ficaram à margem de leis discriminatórias que construíram essa imagem.

“O imaginário determina lacunas de capacidade que significam que as mulheres, diferente dos homens tem menos probabilidades de ter a educação, os contatos e os recursos necessários para se tornarem líderes eficazes. Muitas vezes como resultado de leis discriminatórias, práticas, atitudes e estereótipos de gênero, baixos níveis de educação, falta de acesso à saúde e também pelo efeito desproporcional da pobreza entre as mulheres”, destaca a Resolução de 2011, sobre a participação política das mulheres da Assembleia Geral da ONU.

Partido da Mulher?

No último dia 16 de fevereiro, o Tribunal Regional Eleitoral de Minas Gerais (TRE-MG) cassou as inserções na televisão do Partido da Mulher Brasileira (PMB) por não ter cumprido a determinação da 13.165/2015, a Lei dos Partidos que prevê que ao menos 10% do tempo da propaganda devam ser para a divulgação da participação feminina na política.

O tribunal levou como base as inserções na televisão veiculadas pelo partido no primeiro semestre de 2016. A decisão do TRE-MG aponta que a legenda levou ao ar, em Minas Gerais, um programa que promoveu a exaltação de líderes da legenda, com destaques dos seus feitos, em detrimento dos projetos e ideologias do próprio PMB. 
Na ocasião, o partido afirmou que foi pego de surpresa com a punição e informou que as inserções nacionais cumprem a lei e dá destaque às questões de interesse das mulheres. Segundo o PMB, a inclusão feminina é uma prioridade e faz parte do programa partidário. 

Gláucia Berenice é a única integrante da Câmara dos Vereadores de Ribeirão PretoElas no legislativo municipal

Este ano, Gláucia Berenice é a única representante feminina na Câmara dos Vereadores; no mandato anterior, a vereadora contava, também, com a colega Viviane Alexandre; o número era o mesmo da gestão entre 2009 e 2011.

Mulheres na política nacional
Confira quantas são elas em todo o Brasil

1 governadora: Suely Campos (PP), de Roraima
5 vice-governadoras: Margarete de Castro Coelho (PP), no Piauí, Cida Borghetti (PP), no Paraná, Lígia Feliciano (PDT), na Paraíba, Rose Modesto (PSDB), no Mato Grosso do Sul, e Izolda Cela (PROS), no Ceará
13 senadoras, das 81 cadeiras
45 deputadas federais, das 513 cadeiras
641 mulheres eleitas para o posto mais alto dos municípios (11,5% das cidades)
24 câmaras de vereadores possuem maioria feminina

Mulheres na política ribeirãopretana
Entre 14 secretarias, apenas uma é ocupada por uma mulher; outras cinco mulheres compõem o primeiro escalão do prefeito Duarte Nogueira.

Secretaria de Educação: Suely Vilela Sampaio
Coderp: Guatabi Bernardes Costa Bortolin
Fundação Dom Pedro II: Mariana Jábali
Fundo Social da Solidariedade: Samanta Pineda
Guarda Civil Municipal/Defesa Civil: Mônica da Costa Nocioli
IPM/Sassom: Maria Regina Ricardo



Texto: Leonardo Santos

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