Visita presidencial

Visita presidencial

O presidente da República, Michel Temer, anunciou créditos de R$ 12 bilhões para produtores rurais, comentou a Lava Jato e a crise nos presídios, antes de receber a notícia da morte de Teori Zavascki

A quinta-feira, 19 de janeiro, foi um dia que poderia ser dividido em dois para o presidente da República, Michel Temer (PMDB). Um deles seria até a confirmação da morte do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Teori Zavascki, em decorrência de um acidente aéreo em Angra dos Reis, no litoral do Estado do Rio de Janeiro. Nessa parte do dia, ele fez a primeira visita a Ribeirão Preto desde que assumiu o governo federal, em maio de 2016.

Temer esteve na cidade para anunciar a liberação do crédito de R$ 12 bilhões para o pré-custeio da safra agrícola 2017/2018, pelo Banco do Brasil, R$ 2 bilhões a mais do disponibilizado em 2016, pelo governo de Dilma Rousseff. Temer estava ao lado do governador do Estado de São Paulo, Geraldo Alckmin (PSDB), que, na passagem pela cidade, pronunciou-se pouco, além do ministro interino da Agricultura, Eumar Novacki, e do presidente do Banco do Brasil, Paulo Rogério Caffarelli, que apresentaram para uma plateia de mais de 500 pessoas, entre convidados do Banco e políticos da região, sobre as vantagens do financiamento. O evento também contou com a presença do prefeito Duarte Nogueira (PSDB) e do secretário estadual de Agricultura e Abastecimento, Arnaldo Jardim (PPS).


Além do Presidente da República, anúncio de crédito de Pré-Custeio da Safra, contou com as presenças do governador Geraldo Alckmin, do presidente do Banco do Brasil, Paulo Caffarelli, do ministro interino da Agricultura, Eumar Novacki, além do prefeito Duarte Nogueira


A intenção do presidente é descentralizar a agenda política para que possa ir às cidades do interior do país e melhorar a popularidade, já que, de acordo com o Instituto Datafolha, em pesquisa divulgada no último mês de dezembro, apenas 10% da população brasileira considera seu governo bom ou ótimo. “É muito oportuno o Temer vir até aqui, porque ele deve ir onde tem geração de renda. Esse pessoal foi abandonado em governos anteriores e precisa de mais estímulo, porque sem geração de renda não tem distribuição de recursos. Nesta sala, está a geração de boa parte do Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil”, comentou o professor da Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade, da Universidade de São Paulo (FEA/RP), Marcos Fava Neves. 

A visita do presidente foi comemorada por diretores do Banco do Brasil, presentes no evento, que conseguiram, de última hora, mudar os planos do Governo, já que o anúncio do crédito estava programado para ocorrer no Mato Grosso. O presidente, por sua vez, ressaltou a importância da visita, salientando que Ribeirão Preto é conhecida pelo empreendedorismo e, no seu discurso, remontou aos tempos de Santos Dumont. “Ele deve ter sonhado em voar pela primeira vez olhando para o céu desta cidade”, comentou. Temer também aproveitou para defender a reforma na Previdência Social e a reforma trabalhista como pilares para a recuperação da crise econômica, que, de acordo com ele, já superou a primeira fase, em razão do controle da inflação dentro da meta, em 6,2%, de acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), no cálculo do Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), registrado ao longo de 2016. “Essas são reformas expressivas para o país e conseguimos realizá-las em menos de oito meses. Isso significa que o diálogo funciona. O governo teve coragem e ousadia. Estamos cuidando das ações indispensáveis para o país com agilidade”, afirmou Temer. Para o presidente, o próximo desafio é a realização da reforma tributária.

 

Em defesa dos agricultores

O governador Geraldo Alckmin não se estendeu no discurso. Limitou-se a destacar a antecedência com que foi anunciado o pré-custeio da safra, que, geralmente, ocorre na primeira semana de fevereiro, analisando que isso significa que o agronegócio brasileiro está sendo visto como prioritário para a superação da crise. Alckmin também defendeu os agricultores de acusações de serem agressivos. “O Brasil tem o agronegócio mais sustentável do mundo e somos vocacionados a sermos campeões na produção de alimentos”, afirmou ao governador, reforçando que o país está sob os holofotes do mundo. 


Em visita a Ribeirão Preto, presidente Michel Temer minimizou processo de delações na Lava Jato e apontou as soluções adotadas pelo governo para conter a crise prisional

Já o ministro interino da Agricultura, Eumar Novacki, presente no evento em substituição ao titular, Blairo Maggi, que estava em viagem ao Fórum Econômico de Davos, na Suíça, foi mais contundente. Novacki comentou o decreto do Ministério da Justiça no Diário Oficial da União, de quarta-feira, 18, que cria um grupo de estudos para revisão da demarcação de terras indígenas. O ministro interino justificou a medida, lembrando que as leis ambientais do Brasil são as mais rigorosas do mundo e defendeu que a agricultura merece ter ainda mais investimentos. “Não aceitaremos que nos digam que produzimos o mal e não respeitamos o meio ambiente. Nós não aceitamos o financiamento de obras fora de nossas fronteiras. Esse legado deixou 12 milhões de desempregados, mas mudaremos essa situação. O setor produtivo terá participação nessa mudança”, anunciou. 


Protesto, Lava Jato e crise prisional

Mesmo com a escolha de um local afastado do centro da cidade para o anúncio do crédito, o presidente Michel Temer não ficou alheio aos protestos. Um grupo de manifestantes conseguiu entrar no recinto em que ocorreu a solenidade, o Centro de Cana, do Instituto Agronômico (IAC). O forte aparato de segurança começava ainda na estrada, sobre um viaduto que dá acesso ao local, e foi intensificado na porta do Centro de Cana. Ali, alguns manifestantes foram barrados pela Polícia Militar. “Nunca vi um esquema de segurança desse tamanho. Tem mais policial do que gente participando do evento. Nós fomos parados só porque estamos com a camiseta do partido. Que tipo de democracia é essa em que você sequer pode se manifestar?”, questionou o bancário Estevan Campos, barrado na entrada do local.


No encontro com o prefeito de Ribeirão Preto, Duarte Nogueira, Temer anunciou que pretende se aproximar das cidades do interior


O presidente chegou e saiu pelos fundos, quando fez uma breve parada para atender aos jornalistas, interessados em abordar outras crises que o país enfrenta, como a do sistema carcerário e da Lava Jato. Temer minimizou as homologações das delações premiadas de Marcelo Odebrecht — anunciadas pelo então ministro Teori Zavascki —, dizendo que a permanência ou não de algum político ocupando alguma pasta vai depender do teor das delações e do caminho que a denúncia percorrerá até chegar ao juiz Sérgio Moro, da 13ª Vara Federal de Curitiba, responsável pelo processo. “Depende do teor das delações, em primeiro lugar. Delação também significa que uma pessoa está falando de outra e isso pressupõe uma investigação. Portanto, o andamento dependerá da área administrativa, depois da área judicial e da denúncia recebida ou não pelo Poder Judiciário, então, tem um longo caminho pela frente. Vamos esperar as delações”, sugeriu Temer.


Sobre as delações da Lava Jato, Temer declarou que é preciso aguardar a decisão do Judiciário

Quanto à crise nos presídios, o presidente destacou como ações principais os esforços do Governo Federal, como o direcionamento das Forças Armadas para inspeções nas cadeias, e os investimentos realizados, como a proposta para a construção de 30 penitenciárias no país, abrindo 30 mil vagas para detentos. “A União Federal está fazendo tudo que lhe cabe. No tocante à detecção dos celulares, investimos mais de R$ 150 milhões, como destinamos R$ 80 milhões nos scanners, e outros tantos valores exatamente para proteger os presídios, mas tudo isso depende de uma junção de esforços dos estados federados. O governador Geraldo Alckmin toma todas as cautelas em relação a isso e colabora enormemente com essa atividade. Depende muito dessa conexão e de vários outros fatores”, afirmou Temer, lembrando que essa é uma questão que demanda longo prazo para ser resolvida.

Depois disso, o presidente, junto com o governador Alckmin, saiu de Ribeirão Preto em direção a Brasília, que, naquela tarde reservaria mais uma surpresa: a morte do ministro do Supremos Tribunal Federal (STF), Teori Zavascki. 

Fotos: Larissa Batistetti e Beto Barata/PR 

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