Combate ao Aedes no nascimento do problema

Combate ao Aedes no nascimento do problema

Engenheiros defendem que se deva pensar as doenças transmitidas pelo Aedes aegypti desde a construção do imóvel

O Prêmio Plitzker, o “Nobel da Arquitetura”, consagrou, em janeiro deste ano, o arquiteto chileno Alejandro Aravena pela concepção dele sobre como a arquitetura pode refletir e fazer parte da sociedade.

Um dos principais projetos de Aravena foi a construção de casas populares nas quais os moradores pudessem acrescentar ao próprio imóvel o que possa suprir suas necessidades e que também se integrem com a sociedade ao redor, trazendo soluções e não problemas.

Hoje, com notícias de que o Governo dos Estados Unidos investirá mais de US$ 1 bilhão em pesquisas de combate a doenças como Zika. Isso em razão da preocupação de que essa doença, além da dengue e chikungunya, se espalhe pelo planeta – e principalmente chegue aos EUA - durante os Jogos Olímpicos, além do medo de transmissão global do vírus, nota-se que esse é um problema universal.

Então, por que não pensar a arquitetura e a construção civil como o início da prevenção contra o surgimento de criadouros do Aedes aegypti, como sugeriu o secretário da Saúde de Ribeirão Preto, Stênio Miranda, em debate “Combate ao Mosquito Aedes”, promovido pela Revide no fim de janeiro?

A intenção de Stênio é fomentar a discussão com arquitetos e engenheiros – a construção civil em geral – para aplicar novos conceitos de edifícios e decoração, que façam a água escorrer de maneira mais rápida, evitando a concentração em determinados pontos, que podem virar criadouro do mosquito Aedes aegypti.

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O mesmo propõe o Sindicato da Indústria da Construção Civil do Estado de São Paulo (SindusCon-SP), que começou uma campanha de conscientização de seus associados e de capacitação com os técnicos de segurança do trabalho, que deverão oferecer orientações para funcionários de construtoras visando a detecção de focos do mosquito nos canteiros.

O sindicato também pede que nas construções seja redobrada a fiscalização do acúmulo de água em lajes, tonéis, carrinhos de mão, betoneiras e fossos de elevador, além do armazenamento adequado de sacos de cimento e de lonas.

A arquiteta Regiane Do Bem acredita que meio ambiente em que vive o ser humano é determinante pra sua saúde, por isso a sua qualidade física e espacial, é fundamental, e que se o projeto arquitetônico contar as condições básicas de saneamento e drenagem, bem como sua manutenção e cuidado pelos seus usuários já garante, por exemplo, o não surgimento de focos de mosquitos. Porém, para ela, o problema em questão vai além.

“Acredito que seja necessária uma grande mudança nas políticas públicas de habitação e infraestrutura urbana, embasadas em projetos Arquitetônicos que garantam o mínimo de qualidade de vida e salubridade; bem como projetos Urbanos, onde o arquiteto e urbanista em conjunto com outros profissionais, tais como engenheiros civis”, analisa Regiane.

O diretor da Associação de Engenharia, Arquitetura e Agronomia de Ribeirão Preto (AEAARP), José Aníbal Laguna, defende até que seja definido um sistema que permita que exista fiscalização em construções, justamente para evitar a proliferação do mosquito. Além disso, ele cita como preocupantes, no processo de construção, outros locais de proliferação, como piscinas inativas.

“Em Ribeirão Preto existem 10 mil construções em andamento. Isso é sempre. Então, é o caso de nós, da associação, tentarmos questionar os construtores a este respeito, afinal, ajudará proteger os próprios envolvidos na obra”, afirma Laguna, que defende que deva existir um papel de articulação de toda a sociedade civil, aliada a autoridades públicas, e segmentos da sociedade civil.

Entretanto, ele também acredita que isso não seja o suficiente, já que os projetos seguem determinações de segurança e qualidade, que procuram evitar os “possíveis criadouros”. “Não acredito que essa seja a solução de todos os problemas, porém acho prudente que se crie algo, como um selo ou certificado, e que também se discuta outras soluções”, completa.

Arquitetura x Aedes

Ponto para o Aedes – Em alguns municípios, os cemitérios mais tradicionais costumam conter muitas capelas e suntuosas criptas. Em 2015, o cemitério de Assis – na região de Bauru – começou a identificar criadouro do mosquito em pequenas canaletas das capelas, além dos vasos de flores, comuns na maioria dos lugares.

Ponto para o Aedes – Em Rio Branco, no Acre, foram detectados muitos criadouros do Aedes a partir das caixas d’água, já que os moradores deixavam as caixas sem tampa para armazenar água no período das chuvas, que na região Amazônica ocorrem principalmente no verão.

Ponto para Arquitetura – O diretor da AEAARP, José Anibal Laguna, lembra que hoje em dia os construtores já optam pela concepção de imóveis com produtos que dificultam o acúmulo de água, como tijolos sem furos, por exemplo, e que determinações técnicas também visam combater possíveis criadouros do Aedes aegypt.


Foto: Marcelo Camargo/ Agência Brasil e divulgação

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