Brasil ainda é racista, afirmam pesquisadores

Brasil ainda é racista, afirmam pesquisadores

Secretaria de Políticas de Promoção da Igualdade Racial registrou 570 casos de racismo somente em 2015

Em pleno século XXI, brasileiros ainda presenciam e são vítimas de injúria racial e racismo. Segundo dados da Secretária de Políticas de Promoção da Igualdade Racial do Governo Federal, nos dez primeiros meses deste ano foram registradas 570 denúncias de racismo pela Ouvidoria Nacional da Igualdade Racial. Desde 2011, quando a ouvidoria recebeu 219 denúncias, o número de registros não para de crescer. Em 2012 foram 413, um aumento de aproximadamente 50%. Em 2013 este número chegou a 425 e no ano passado foram 567.

Na opinião da Secretaria de Políticas de Promoção da Igualdade Racial, o aumento no número de registros sobre o racismo, tem efeito na consciência das pessoas sobre os seus direitos.

Sobre os casos de racismos no Brasil, o pesquisador do Centro Estudos Latino-Americanos sobre Cultura e Comunicação (CELLAC), Silas Nogueira explica que a justificativa ideológica para a solidificação do racismo teve início durante o Brasil Colonial que, como ele cita, centrava-se na afirmação de que os povos não europeus ocidentais eram bárbaros. “Assim, consolidaram profundamente o racismo na sociedade brasileira, obtendo lucros nas formas de exploração e de exclusão que atravessam os séculos e chegam aos nossos dias”, explica.

Em outubro a Faculdade de Direito da USP Ribeirão Preto foi palco de injúria racial, quando foram pichadas mensagens de cunho racista em um dos banheiros da unidade.

Na opinião do professor Dagoberto José Fonseca, livre Docente em Antropologia Brasileira pela Faculdade de Ciências e Letras da UNESP de Araraquara, o racismo ainda existe de maneira intensa e em diversos níveis da sociedade brasileira, apresentando um cenário complexo e diversas variáveis. “O racismo está presente em todas as instituições. As universidades podem até posar de 'ilhas de inteligência', mas são lugares que também não estão livres desta realidade”, afirma Fonseca.

Reconhecimento

No dia 25 de novembro, o antropólogo receberá o Prêmio Benedicto Galvão, na Seção São Paulo da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), por meio da Comissão de Igualdade Racial e do Departamento de Cultura e Eventos. O evento premia as pessoas que lutam contra o racismo e o preconceito.

Nas diversas variáveis de racismo citados pelo professor, Fonseca destaca os casos de xenofobia à estrangeiros negros. Na opinião dele, os brasileiros ainda têm dificuldades de absorver estes imigrantes. “E são pessoas que apresentam características semelhantes à dos brasileiros”, reforça.

Luta

Brasília recebeu nesta quarta-feira, dia 18, 30 mil pessoas durante a Marcha das Mulheres Negras. Na ocasião, manifestantes ligados a grupos pró-impeachment da presidente Dilma Rousseff (PT) demonstraram a intolerância racial citada pelos pesquisadores.

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Dagoberto José Fonseca destaca que o Brasil passa por um momento de luta de diferentes grupos em busca da hegemonia. Contudo, ele avalia, o objeto final desta disputa ainda não está claro. “Já não se trata mais da disputa entre direita e esquerda. O fato é que os negros sempre estiveram na luta, seja contra a escravidão ou contra a ditadura por direitos civis e nos dias atuais não será diferente”, completa.

Para o pesquisador Silas Nogueira a busca do povo negro no Brasil é pela implementação de políticas afirmativas. O que ele destacou como um conjunto de práticas pautadas em políticas culturais e ideológicas, como as cotas étnico-culturais. “Mas as ações não se esgotam nelas, há o combate ininterrupto ao racismo inclusive na sua forma institucional utilizando, além de outras ações pontuais, a busca pela implementação da Lei 10.639 que obriga escolas a proporcionar o ensino da história da África e conhecimentos sobre a cultura negra no Brasil”, destaca.

Esta luta constante por direitos igualitários, segundo Nogueira, coloca os negros em permanente estado de luta e de movimentação política. “Uma movimentação que é criativa na medida que analisa constantemente suas práticas em congressos, em coletivos, em conferências nacionais e mesmo dentro das instituições governamentais, criando instrumentos e condições de luta que se renovam, sempre na perspectiva de superação do racismo e de outras formas de opressão e desigualdade”, conclui.

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Bruno Silva

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