Empreender: 80% dos jovens já vivem do próprio negócio

Empreender: 80% dos jovens já vivem do próprio negócio

Estudo aponta que seis em cada dez jovens empreendedores não abririam mão do seu negócio por um emprego formal

O jovem empreendedor brasileiro é autoconfiante, valoriza a independência profissional e não pensa em abrir mão da própria empresa pela estabilidade de um emprego com carteira assinada. É o que revela a pesquisa “Perfil do Empreendedor Jovem e do seu Negócio”, realizada pelo Serviço de Proteção ao Crédito (SPC Brasil) e pela Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas (CNDL).

Divulgado nesta terça-feira, 26, o estudo traça o perfil dos jovens empreendedores brasileiros e ouviu 788 residentes de todas as regiões brasileiras, com idade entre 18 e 34 anos, de ambos os sexos, e que possuem um negócio próprio.

Liberdade profissional

Segundo a pesquisa, 81,1% dos entrevistados não possuem um trabalho paralelo, ao passo que 8,9% têm um emprego formal e 5,4% trabalham de modo informal para outra empresa. 

Seis em cada dez (57,7%) empreendedores ouvidos pelo estudo afirmaram ainda que não aceitariam trocar a atividade que desempenham em suas empresas por um emprego formal que pagasse um salário compatível com o mercado, somado aos demais benefícios previstos pela CLT. 

“Não abriria mão do meu empreendimento. Na minha empresa eu tenho a liberdade de trabalhar no que acredito ser importante e da forma que eu acho correta. Alguns empregos formais podem proporcionar isso, mas pelo que escuto essa é a exceção e não a regra”, explica o ribeirãopretano Victor Morandini Stabile diretor da holding Sanca Ventures, de São Carlos.

Ele recorda que decidiu empreender durante a faculdade de Engenharia, na Universidade Federal de São Carlos, no ramo de educação, oferecendo aulas de idioma pela internet. “Há seis anos existia pouco incentivo e informação sobre empreendedorismo nas faculdades. Só se falava de processos seletivos e eu nunca tinha ouvido a palavra ‘startup’. Comecei a empreender naturalmente, tive uma ideia e quis colocar ela em prática”, afirma Stabile.

Atualmente ele gerencia projetos nas áreas de games, mídia, e-commerce e inteligência artificial. E conta que no começo enfrentou dificuldades, chegando a trabalhar um ano sem receber salário, pois toda a receita da empresa precisava ser reinvestida no negócio. “O lado bom é que comecei quando ainda era estudante, então conseguia viver com pouco e a pressão era menor”, revela o empreendedor que atua ao lado de sete sócios, entre investidores e empreendedores.

Dos jovens que foram ouvidos pelo estudo, 23% afirmara que até aceitariam uma proposta de emprego, mas tentariam conciliar com a sua empresa. A minoria, apenas 3,7%. concordaria em abandonar a vida de empreendedor.

Sonho

Até mesmo entre os empreendedores que mantêm outras atividades profissionais, há um explícito desejo de dedicar-se exclusivamente ao próprio negócio. A pesquisa revela que seis em cada dez (59,9%) jovens empreendedores que exercem uma profissão paralela querem se dedicar de modo integral aos negócios. 

Exemplo disso é Thomas Cosin, designer de Ibitinga (145 quilômetros de Ribeirão Preto) e que atualmente vive em Maringá (PR). Há pouco mais de um ano lançou a marca de camisetas Mistura. 

A estreia foi com três estampas de camisetas para venda on-line. Thomas Cosin conta que a ideia era usar as artes das camisetas como laboratório, um portfólio que pudesse levar seu trabalho a lugares onde o “trabalho formal” não conseguisse chegar. 

Com uma proposta de marca que prestasse homenagem ao Brasil e sua cultura, a Mistura, com sede em Maringá, conta hoje com mais de dez estampas e prepara o lançamento da nova coleção – prevista para os próximos quarenta dias com o tema “Sertão”. “O sonho é viver dessa marca. Ainda não lucramos com ela, mas a Mistura já consegue se manter. Inclusive alugamos um escritório para ser a nossa sede e realizar as reuniões criativas”, conta Cosin, que na empresa é responsável pelo setor de Pesquisa e Desenvolvimento em Marketing e ainda desempenha a função de diretor de arte para outras agências.   

Sociedade

Segundo a pesquisa, a maior parte dos jovens empreendedores – aproximadamente 47% –  admite que o desejo de viver do próprio empreendimento só poderá se concretizar quando houver um faturamento que possibilite ganho igual ou maior ao que possuem atualmente. 

Outro dado da pesquisa mostra que 10,7% das empresas comandadas por jovens empreendedores não sobrevivem de maneira independente e ainda precisam de aportes financeiros de outras fontes como sócios, amigos, ou investimentos pessoais para se manter em atividade.

A empresa criada pelo designer conta hoje com mais três sócios Miline Redondo, responsável pelo setor de Relacionamento e Gabriel Doro, setor Financeiro e Administrativo. “A Mistura ainda é uma marca em construção. O nosso foco é trabalhar até se tornar uma marca consolidada com amadurecimento e evolução criativa. Somos os funcionários da própria marca. Em empreendimento ou você investe com dinheiro ou com trabalho e comprometimento, no nosso caso investimos com nossa mão de obra”, explica Cosin.

O aluno de mestrado em Administração na Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo (FEA-USP), Afonso Bazilio, toca paralelamente aos estudos um empreendimento de distribuição de produtos de perfumaria, cosméticos e bem-estar. Bazilio acumula ainda a função de diretor de projetos do Núcleo de Empreendedores.

Por conta dos estudos, o jovem empreendedor conta que ainda não tem planos concretos. “Pretendo levar os meus projetos em paralelo por pelo menos dois anos”, revela.

Sobre deixar o emprego formal para montar o próprio negócio, Bazilio conta que há uma margem considerada segura, mas, que varia entre cada empreendimento. “Estima-se que, para trocar o emprego formal por seu empreendimento, o empreendedor deve ter aproximadamente um ganho de 10 vezes superior aos gastos mensais”, conclui.

Compartilhar: