Melatonina também pode agir contra Doença de Chagas

Melatonina também pode agir contra Doença de Chagas

Pesquisa é pioneira na fase crônica da doença; Uso do hormônio mostra uma ação anti-inflamatória e protetora na infecção

A melatonina, hormônio do sono fabricado na glândula pineal, localizada no cérebro humano, possui uma amplitude de ações no corpo humano, entre elas melhorar alguns distúrbios do sono. Mas sua magnitude tem se superado a cada dia, e vem mostrando que o hormônio vai além de ajudar a dormir.

É como indica a recente pesquisa da equipe do laboratório de parasitologia da Faculdade de Ciências Farmacêuticas de Ribeirão Preto (FCFRP), USP, que demonstrou que o uso do hormônio na doença de Chagas mostra uma ação anti-inflamatória e protetora na fase crônica da infecção.

A pesquisa, que é liderada pelo professor José Clóvis do Prado Júnior, também apresenta potencial antioxidante, por mostrar uma diminuição do estresse oxidativo e controle do processo de morte celular.

De acordo com a pesquisadora da equipe e principal responsável pelo estudo com a infecção crônica, Vânia Brazão, os estudos foram conduzidos em animais infectados pelo parasita Trypanosoma cruzi, em que os pesquisadores administravam todos os dias, durante 60 dias, a melatonina sintética – idêntica à produzida pelo o organismo humano – nos ratos wistar, usados exclusivamente em pesquisas. “Todos os dias, no período da manhã, nós procuramos administrar o hormônio sintético no mesmo horário nos animais, em razão do ritmo circadiano, durante 60 dias, então a dose dissolvida em água era dada via oral, por meio de um procedimento chamado de gavachi, seringa que é colocada na boca do animal”, explica Vânia.

Não existe uma previsão para o estudo ser aplicado em humanos, porém a pesquisa vem sendo estudada há anos, e o resultado apresentado recentemente é considerado algo extremamente positivo, pois o único medicamento utilizado no Brasil, o Benzonidazol, funciona na fase aguda e é ineficaz na fase crônica da doença. “Esse medicamento apresenta eficácia terapêutica limitada no tratamento de pacientes com infecção crônica”, ressalta o professor Prado Júnior.

Com os animais sendo tratados na fase crônica da doença de Chagas, a equipe conseguiu confirmar as ações antioxidantes da melatonina, reduzindo o estresse oxidativo e inflamação. Além disso, o professor ainda explica que foi demonstrada outra característica importante da molécula de melatonina, sua capacidade de regular o processo de morte celular.

As informações inéditas foram publicadas em duas importantes revistas cientificas internacionais, a Immunobiology e o Journal of Pineal Research.

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A pesquisa continua

De acordo com Vânia os resultados inéditos do estudo apresentam um grande valor para a comunidade científica, pois a doença ainda representa um grave problema de saúde pública sem solução. “Os mecanismos imunológicos envolvidos na infecção por Trypanosoma cruzi, seja na proteção ou no avanço da doença no organismo do hospedeiro ainda não estão completamente esclarecidos”, explica a pesquisadora.

Mas os avanços não param, e o trabalho continua no laboratório de parasitologia da FCFRP. Agora a pesquisadora tenta entender as alterações das funções imunológicas dos animais idosos e chagásicos, em tratamento com o hormônio. Os pesquisadores ressaltam que a melatonina não apresenta propriedade de cura perante a doença de Chagas.


Fotos: Gabriela Maulim 

 

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