Em estado de emergência

Em estado de emergência

Com 3.993 casos de dengue confirmados até dezembro de 2015, Ribeirão Preto luta para acabar com os focos do mosquito Aedes aegypti

Com mais de 998% de alta no número de casos de dengue confirmados, Ribeirão Preto registrou, até 9 de dezembro de 2015, 3.993 casos, contra 400 durante 2014. De acordo com o secretário municipal da Saúde, Stenio Miranda, a tendência se dá em função do clima chuvoso e quente registrado nos últimos meses. Com 1126 casos, abril teve a maior incidência da doença, seguido pelo mês de maio, com 1104 diagnósticos positivos. Na cidade, a maior infestação está na região oeste, com 1326 casos em 2015.

No dia 6 de janeiro, a prefeita Dárcy Vera decretou estado de emergência na cidade por causa do aumento no número de infectados e irá solicitar ao Judiciário que os agentes de controle de vetores entrem nas residências desocupadas com possíveis criadouros do mosquito. As medidas, anunciadas em entrevista coletiva no dia 6 de janeiro, estão sendo adotadas em função do aumento do número de atendimento de suspeitas de dengue nos cinco primeiros dias do ano.

Segundo o secretário da Saúde, a alta foi de 16,7%, com média diária de 120 pessoas. Darcy anunciou, ainda, que irá treinar três funcionários de cada unidade da rede municipal de ensino para que atuem como agentes de controle de vetores, já que faltam profissionais para o trabalho efetivo. Também convidará os prefeitos da região para um esforço coletivo de combate à doença.

O município também contabiliza oito suspeitas de zika vírus, cinco casos de microcefalia, sendo um suspeito de estar relacionado ao zica vírus e dois casos confirmados de febre chikungunya. Em 2015, a dengue matou duas pessoas, uma em janeiro e outra em junho. Além de Ribeirão Preto, Pontal, Sales Oliveira e São Joaquim da Barra estão em estado de alerta para epidemias das doenças em 2016, segundo levantamento divulgado pelo Ministério da Saúde. No ano passado, a Prefeitura de Ribeirão Preto intensificou várias ações para conscientizar a população sobre a importância de eliminar os criadouros do Aedes.

São feitos bloqueios de casos suspeitos e confirmados de dengue, zika e chikungunya, realizando outras medidas para atividades de controle de criadouros e nebulização, quando indicado. São realizados, também, arrastões e controle de criadouros específicos, conforme indicação do Levantamento de Índices Larvários; visitas quinzenais em pontos estratégicos em conjunto com a Vigilância Sanitária, além de visitas bimestrais em imóveis especiais. Todas as atividades são avaliadas em reuniões quinzenais pelo grupo de monitoramento das ações de controle de dengue, zika e chikungunya. A administração também cobra os responsáveis pelas empresas privadas sobre o estado dos imóveis com relação aos possíveis criadouros do mosquito. 

Na primeira quinzena de dezembro, a Secretaria da Saúde, por meio da Divisão de Vigilância Sanitária, realizou reuniões com proprietários, responsáveis ou representantes das empresas privadas para discutir o estado dos imóveis com criadouros do mosquito Aedes aegpyti. Segundo a coordenadora do setor de Informação, Educação e Comunicação e do Programa de Vetores e Animais Peçonhentos, Lucia Taveira, os imóveis especiais estão cadastrados na Divisão de Vigilância Ambiental em Saúde, pois possuem grande fluxo diário de pessoas. São empresas como supermercados, escolas, hospitais, clubes, hotéis, indústrias, comércio, bancos e até igrejas, que recebem vistorias bimestrais dos agentes de combate às endemias.

Entre os principais recipientes encontrados com larvas do Aedes estão pneus, garrafas retornáveis, pratos e vasos de plantas, ralos internos e externos, latas, copo e sacolas plásticas e tampinhas de garrafas. No dia 19 de dezembro, o Departamento de Vigilância Ambiental em Saúde realizou mais um arrastão de combate ao transmissor da dengue no Jardim Jandaia. Na ação, cerca de 150 funcionários recolheram aproximadamente dez caminhões de recipientes que acumulam água, incluindo pneus.

 

CARACTERÍSTICAS
Muito parecido com um pernilongo, o Aedes aegypti possui listras brancas e pretas nas patas, na cabeça e no corpo. Silencioso, costuma picar nas primeiras horas da manhã ou no fim da tarde. De voo rasteiro, preferem as pernas, os tornozelos ou os pés. Mede 0,5 cm e seu ciclo de vida é divido em quatro fases: ovo, larva, pupa e mosquito. A fêmea adulta deposita seus ovos na água parada. Em cerca de 30 minutos, transformam-se em larvas, que viram pupa após sete dias e mosquito depois de outros dois dias. Muito resistentes, os ovos sobrevivem por cerca de um ano em local seco, que, ao ser molhado, dá início ao processo de evolução do transmissor, que leva até dez dias para se desenvolver. O Aedes vive aproximadamente 30 dias.

 

AÇÕES PLANEJADAS
O secretário da Saúde observa que as ações são planejadas e executadas durante o ano de acordo com o cenário epidemiológico e a distribuição de criadouros no território urbano. Na fase atual, de aumento do número de casos de dengue, as atividades de controle são direcionadas à contenção de casos secundários, ou seja, a bloqueios para evitar que uma pessoa com a doença seja fonte de infecção para outras pessoas. “Foi como trabalhamos em 2014 e 2015, com resultados satisfatórios, já que não tivemos epidemia, enquanto o Estado de São Paulo viveu dois grandes surtos, com 500 mil casos em 2015, e mais de 450 óbitos”, compara Stenio Miranda.

Os mutirões têm surtido efeito. Um exemplo recente é o do Jardim Aeroporto, onde houve um aumento de casos em outubro e novembro, seguido de diminuição após a intervenção. Stenio explica que o ano, em relação à dengue, é contado de julho a junho do ano seguinte. “Para 2015/2016 temos, até novembro/2015, 588 casos confirmados”, aponta. Os dados são atualizados mensalmente, por boletim publicado todo dia 15, com fechamento até o último dia do mês anterior. No dia 15 de janeiro, um novo boletim, com os dados consolidados até 31 de dezembro, será divulgado.

A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) aprovou o registro da primeira vacina contra a dengue no Brasil: a Dengvaxia, da francesa Sanofi Pasteur. A vacina é indicada para pessoas entre 9 e 45 anos e protege contra os quatro tipos do vírus da dengue. O medicamento deve começar a ser vendido no país no primeiro semestre de 2016 e a capacidade de produção do laboratório é de 100 milhões de doses por ano. Outra vacina contra a dengue está sendo desenvolvida pelo Instituto Butantã e deve entrar na última fase de pesquisa em breve. A Agência também aprovou o uso de um larvicida biológico, o Biovech, capaz de matar as larvas e os mosquitos em apenas 24 horas, sem deixar resíduos tóxicos que agridam o meio ambiente. 

Compartilhar: