Mau uso de smartphones é problema no crescimento infantil

Mau uso de smartphones é problema no crescimento infantil

Confira dicas e cuidados de especialistas para os pais na prevenção contra o mau uso da tecnologia na vida das meninas

Uma pesquisa realizada por uma empresa de comunicação no Estado de São Paulo afirma que 83% da população jovem feminina possue smartphones. A pesquisa é composta de dois levantamentos — o primeiro, quantitativo, entrevistou 4.747 adolescentes entre 14 e 17 anos. Já o segundo, qualitativo, consistiu em visitas aos quartos de 101 adolescentes, presencialmente e por transmissão online.

A região de Ribeirão Preto ocupa hoje o quarto lugar de maior quantidade de pessoas por metro quadrado no Estado de São Paulo. Grande parte desta população são as mulheres de todas as faixas etárias, adultas, adolescentes e crianças. E os 80% desta população feminina possui pelo menos um aparelho celular. Segundo a pesquisa, 100% das entrevistadas, algumas do interior, têm conexão no quarto e a grande maioria, 83%, tem um smartphone, enquanto 48% têm um computador só delas.

A difusão das plataformas mobile e das redes sociais é a principal raiz de um traço marcante entre as adolescentes de hoje. É na comodidade de seus quartos, e não em ambientes externos, que elas desenvolvem a sociabilidade e constroem uma identidade.

O amante de tecnologia e pai Claudio Bonomi diz permitir que a filha utilize da tecnologia sem problemas. A ressalva é para o controle que deve ser importo sobre o conteúdo de acesso da garota. “É sempre importante ter um adulto que supervisione e intenda as informações e materiais utilizados por uma criança ou adolescentes nas redes sociais e smartphones”, diz.

O pós-doutor em educação Mauricio Matos indica algumas dicas que devem ser observadas pelos pais no controle da tecnologia na vida infantil.  Matos conta que é importantes que o responsável mostre interesse por aquilo que seu filho se interessa.

“Possuir uma noção mínima sobre as tecnologias utilizadas pelos filhos, incentivar as adolescentes a experienciarem outras atividades prazerosas que não dependam necessariamente do uso de tecnologias emergentes, ampliando e diversificando o repertório de atividades desenvolvidas pela criança e conceber a tecnologia como uma forma de ampliar as possibilidades de interação entre pais e filhos e não como uma ferramenta que restrinja esta interação ou a substitua pela interatividade, promovendo o distanciamento entre pais e filhos são fatos importantíssimos no desenvolvimento feminino ao lado do mundo tecnológico”, afirma.

Existem plataformas que possuem um grande acesso de pessoas menores de 18 anos e estas por sua vez contribuem com 70% do conteúdo consumido por uma adolescente. Para o especialista em tecnologia Marcos Danilo Chiodi Martins, pais ou responsáveis devem sim acompanhar com frequência o que o filho acessa. “As crianças precisam de um conteúdo criado para elas. Acredito que há outras plataformas de web que deveriam ser utilizadas com supervisão. Por exemplo, o YouTube possui vídeos bem interessantes sobre educação, e até uma seção dedicada especialmente ao tema, chamado de YoutubeEDU. Há vídeos e canais como o Manual do Mundo que possuem uma pegada direcionada para as crianças. Há muitos canais de música e etc. Contudo, no próprio Youtube, há canais que não considero apropriados para as crianças, como por exemplo, o canal do Porta dos Fundos, que muito embora tenha o seu valor como entretenimento adulto, certamente não foi criado e pensado para o mundo infantil. Neste caso acredito que a supervisão seja necessária, tanto para as meninas quanto meninos", afirma.

Entender a tecnologia e seus impactos de forma completa é um caminho que os pais devem seguir para que haja interação com os menores. Confira a entrevista realizada pelo Portal Revide com a mestre em infância e adolescência Myrna Coelho Matos, para poder então oferecer o que é bom para as crianças e descartar o que pode ser perigoso

Portal Revide: As crianças que ficam dentro de casa conectadas o tempo inteiro, como isto pode atrapalhar no crescimento psicológico das mesmas?

Myrna:
A tecnologia não é neutra, ela influencia na forma como fazemos muitas coisas no dia a dia e com a criança não é diferente.  A criança precisa de diferentes tipos de experiências para se desenvolver de forma saudável, envolvendo relacionamentos com amigos e familiares, atividades físicas, artísticas, manuais, intelectuais, entre outras. A variabilidade de ações faz com que a criança desenvolva sua criatividade, seus talentos, suas habilidades interpessoais e tenha uma infância mais feliz.  Não podemos confundir interatividade com interação. A interação precisa ser a prioridade.

Portal Revide: Até que ponto é saudável o contato infantil com as redes sociais e os dispositivos móveis?

Myrna:
Quando é temperado no tempo e no uso. O problema é quando há o uso indevido e o uso excessivo. São diferentes, mas igualmente maléficos, cada um destes prejudica à sua maneira. Vejamos um exemplo simples, pais cuidadosos procuram controlar os lugares que seus filhos frequentam, não? Então, a internet abre as portas para os mais diferentes “ambientes” para o filho entrar e frequentar. A não regulação do uso, tanto indevido como excessivo, deixa as portas abertas e livres para o filho ir onde quiser e ficar quanto tempo quiser. Isso não combina com um processo educacional saudável. Criança não tem maturidade para selecionar conteúdos adequados para sua idade, discernir pessoas mal-intencionadas nas redes sociais etc. Internet abre portas saudáveis, tais como: portas para pesquisas, diversão saudável, para o aprendizado escolar, entre outras. Mas não podemos ignorar que também abre portas para pornografia, auto exposição, bulliyng, pedofilia, entre outros.

Portal Revide:  Existe alguma maneira de os pais prevenirem as pequenas para fugir de supostos criminosos virtuais?

Myrna:
Os pais precisam dar orientações para as filhas e conversar bastante. Algumas orientações são: Jamais marque encontro sem conhecimento dos pais e se for conhecer alguém, nunca envie foto ou qualquer imagem pela rede sem o conhecimento dos pais, conte para os pais se encontrar qualquer conteúdo que a deixe confusa ou sem jeito, jamais passe informações pessoais, endereço, número de telefone, escola etc. Discuta sobre os riscos de se fazer isso.

As crianças precisam ter conhecimentos dos riscos, em uma linguagem que seja protetora e não aterrorizadora. Elas precisam ser alertadas sobre os perigos e mesmo assim o adulto deve fiscalizar, pois as crianças podem ser enganadas por pessoas mais experientes.

Portal Revide - Antes todos brincavam nas ruas, no entanto, com o perigo constante atual, os pais permitem que desde bem cedo o contato extremo com a tecnologia exista. Existem regras que beneficiem o convívio entre tecnologia e criança de forma saudável?

Myrna:
Antes de mais nada existem várias possibilidades de brincadeiras que não envolvem tecnologia, mesmo em casa. Crianças, se possível, devem interagir com outras crianças nos condomínios dos prédios ou das casas. Os pais devem estimular o filho a trazer amiguinhos para brincar em casa, devem leva-los a parques e praças seguras, andar de bicicleta com eles. Comprar jogos (físicos) para serem jogados em família, estimular a leitura dando exemplo e lendo com a criança. Não tem outra forma, precisa haver investimento de tempo dos pais para que os filhos aprendam a se divertir de diferentes maneiras. O alerta é: existem pais que fazem uso inadequado dos equipamentos tecnológicos, temos muitos adultos totalmente controlados pela tecnologia, tendo problemas no casamento pelo uso indevido ou excessivo. Quero ressaltar que tudo começa no exemplo. O filho aprende mais com o que vê dos pais do que com o que escuta deles.

Revide Online
Pedro Gomes
Fotos: Divulgação e Arquivo Revide

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