Vereador quer proibir pedintes nos semáforos de Ribeirão Preto
Vereador quer proibir pedintes nos semáforos de Ribeirão Preto

Vereador quer proibir pedintes nos semáforos de Ribeirão Preto

Lincoln Fernandes (PDT) quer lei para afastar “pessoas mal intencionadas” dos espaços públicos de Ribeirão e nega que seja política higienista

Pedir dinheiro nos cruzamentos de Ribeirão Preto pode virar crime. Pelo menos é o que propõe o vereador Lincoln Fernandes (PDT), que apresenta uma lei na sessão da Câmara Municipal desta quinta-feira, 23, para evitar pessoas que poderiam estar “mal intencionadas” de explorarem as ruas, levando insegurança para a população, de acordo com ele.

Segundo Lincoln, os semáforos são uma fonte de renda para pessoas que estariam mal intencionadas, inclusive algumas estariam até loteando alguns cruzamentos, com exploração de menores. O vereador diz que conseguiu levantar que existem pessoas que conseguem até R$ 60 por dia, apenas pedindo nas ruas.

“Hoje, a banalização deste tipo de situação promove a vadiagem. O nosso povo é muito generoso, mas a reclamação sobre pessoas mal intencionadas pedindo dinheiro na rua é geral. Tem que fazer essas pessoas encontrarem caminhos que não sejam na rua pedindo”, disse Lincoln, que ainda alega que existe perigo constante de acidentes e atropelamentos no trânsito em situações de pessoas perambulando entre os carros.

Na proposta do vereador, “pedágios beneficentes” como o que arrecadou recursos para a campanha AME Joaquim nos últimos finais de semana, artistas de rua e entregadores de panfletos deveriam ser liberados mediante cadastro realizado junto à prefeitura, que Lincoln diz ser uma coisa “simples” e que não atrapalharia esses movimentos.

“A partir do momento que regulamentar essa situação, pode permitir até a liberação de espaço para esses ‘pedágios do bem’ aconteçam com segurança. O que não podemos permitir é a falta de segurança, e temos que mostrar que aqui tem lei, até para afastar oportunistas”, defendeu Lincoln, que disse que a situação não é higienista, já que de acordo com ele, é necessário separar as pessoas que vivem o drama de não ter onde morar, e a pessoa, que segundo ele, “está mal intencionada, o cara que não quer trabalhar".

O professor de sociologia Wlaumir Souza acredita que não seja necessária uma lei nova, e sim o cumprimento das que já existem, além do reforço dos atendimentos do serviço social. “Mais do que leis novas, precisamos do cumprimento das que já existem no campo do serviço social, que é muito bem elaborado e que pode ser colocado em ação com maestria pelas profissionais da área da prefeitura e parceria com a rede social de apoio. Para tanto, é preciso que se faça dotação orçamentária para que as assistentes sociais possam fazer o trabalho delas com independência”, comentou o sociólogo.

Já os artistas acreditam que podem ser criados mais empecilhos ao trabalho, pois mesmo com a proposta de se criar um cadastro para que eles possam continuar se apresentando, aqueles que vivem em outros locais, como de outras cidades, estados e até de países diferentes sofreriam com a repressão por falta de conhecimento da determinação.

“Vai ficar mais difícil de trabalhar. Se sem cadastro já sofremos bastante, imagina com essa determinação? Vai ter uma hora que quem faz arte vai desistir de vir para Ribeirão. Pode se tornar uma cidade desagregada, que só vai vir grandes artistas”, lamentou o rapper Deivis Fernandes.

Ele acredita que a cultura de rua existe para entreter o povo e  mostrar meios para que os mais jovens não sigam “caminhos errados”, como alertou. “Eu já sou mais velho, tenho outra profissão, mas tem bastante garoto que começa a vida fazendo arte na rua, fazendo artesanato. Vai tirar isso deles?”, que ainda comentou que embora em Ribeirão Preto seja menor referência do que cidades como Campinas e São Paulo, por exemplo, o município atrai muita gente de fora para esta finalidade.

“Aqui tem muito artista de rua, mas eles ficam acuados porque não têm espaço. Não tem nada dos bairros para fazer um trabalho bacana, e, às vezes, muitos ensinamentos se perdem porque não tem como se organizar para ensinar outras pessoas. É um retrocesso, porque a arte na rua é de vanguarda e podemos perder isso afastando os artistas”, completou o rapper, que acredita que um benefício para os artistas seria a opção de fazer o poder público permitir que se eles usem a estrutura dos espaços onde ocorrem as apresentações, como a energia elétrica em praças, por exemplo, para melhorar a qualidade das apresentações.


Foto: Pedro Gomes

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