Inimigo ou adversário?

Inimigo ou adversário?

O primeiro jogo da fase de quartas de finais da Copa Libertadores da América, onde o São Paulo venceu o Atlético Mineiro por 1 a 0, no Estádio do Morumbi, teve uma qualidade técnica inferior ao que se esperava das duas equipes. Isso porque, os times, se preocuparam tanto com a marcação que se esqueceram de jogar o jogo.

Antes de qualquer análise do desempenho das duas equipes, registre-se que, desde o primeiro minuto do jogo, o objetivo dos times era demarcar o território, evitando que o adversário se aproximasse do sistema defensivo.  Atuando com muita intensidade na tentativa de conter as chances de gols da outra equipe.

Fala-se muito a respeito das partidas que os clubes brasileiros fazem na disputa deste torneio continental. Indicam uma especial atenção para estas disputas, sempre recheadas da tradicional malandragem esportiva, onde pequenos empurrões, desequilíbrios e falsas simulações são costumeiros e usuais.

Nestes relatos, os jogadores brasileiros estão citados como se fossem marionetes, bobos da corte ou incapazes de suportar o peso natural dos jogos. Eu, particularmente, não compreendo desta forma.

Os times brasileiros já conquistaram 17 títulos sul-americanos, divididos entre 10 clubes. Utilizando um sem-número de atletas, comprovando, desta forma, as ótimas condições de jogo dos jogadores brasileiros para suportar a pressão do referido torneio.

No jogo de ontem, por exemplo, foram dois clubes do Brasil que se enfrentaram. Pareciam  dois lutadores que entram no octógono para tentar “matar” seu adversário, eliminando-o da competição de qualquer forma, usando, para tanto, todas as armas possíveis.

Coincidentemente, os dois clubes são comandados por treinadores estrangeiros. No São Paulo, o já Bicampeão da Libertadores, um ex-atleta argentino, Eduardo Bauza, também conhecido por “El Paton”; no Atlético de Minas, Diego Aguirre, é um ex-atleta uruguaio quem dá as cartas. Não acredito que os dois utilizaram, como modelo de jogo, dentro de um planejamento tático, a proposta de jogar com violência, agindo de forma temerária e utilizando força excessiva na disputa da bola.

O que ficou claro é que, os atletas dos dois clubes, jogaram como que no esporte só a vitória importasse.  Se esquecendo, porém, que o futebol é um jogo de oposição, assim como o futsal, o basquetebol e o handebol, e que, pra se fazer um gol, a equipe com posse da bola deverá invadir a área defendida pelo opositor sem a posse da bola. Quando um time está atacando, o outro está defendendo e vice-versa.

“Sendo o futebol um jogo de oposição, uma das equipes detém a posse da bola, procurando passar a equipe contrária no sentido de progredir no terreno em direcção á baliza, acabando por rematar e marcar o golo. No sentido oposto, a equipa sem posse da bola procura impedir a progressão no terreno da equipa adversária e os remates que esta pode realizar, estando sempre com o objetivo de recuperar a posse da bola para poder atacar.”

(Wade, 1978; Cit In Garganta, 1977).

Neste sentido, a tal invasão é a única maneira de se chegar ao alvo ou objetivo, ultrapassando o adversário que se encontra na condição de “dono” deste espaço, defendido por ele, com unha e dentes.

A sensação que tivemos foi que ambas as equipes travaram uma guerra corporal, na certeza que do outro lado do campo encontrava-se um inimigo e não um adversário.

Teorias á parte, com o placar positivo e a vantagem conquistada, o São Paulo poderá, no jogo de volta, contar com o regulamento “de baixo” do braço, sabendo que, se fizer um gol, lá nas Minas Gerais, estará a um passo da semifinal.

O tricolor tem mais chances.

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