A cultura do intraempreendedorismo e inovação

A cultura do intraempreendedorismo e inovação

Uma cultura de aprendizagem contínua, onde a inovação é incentivada, semeando riquezas e oportunidades.

 

“Não faz sentido contratar pessoas inteligentes e dizer a elas o que elas devem fazer; nós contratamos pessoas inteligentes para que elas possam nos dizer o que fazer” (Steve Jobs)

 

As ideias são nascentes de novos negócios, tendo como fonte a inovação e o intelecto humano.

 

Contudo, os terrenos secos representados pelas dificuldades burocráticas e estruturais inerentes à abertura de empresa são entraves aos seus frutos.

 

Não obstante, empreender não se resume apenas a criar um CNPJ. Você, leitor, com certeza, já se viu como um empreendedor dentro da empresa em que trabalha!

 

No cenário atual, de transformação acelerada dos negócios, o intraempreendedorismo se destaca como uma ferramenta de alto potencial para promover a inovação, seja qual for o segmento de sua empresa.

 

"Intraempreendedorismo" refere-se à prática de empreendedorismo dentro de uma organização existente, em contraste com o empreendedorismo tradicional, que envolve a criação de novas empresas. O termo é muitas vezes utilizado para descrever a promoção da inovação e do espírito empreendedor entre os funcionários dentro de uma empresa já estabelecida.

 

Por sua vez, a inovação empresarial é um produto ou processo de negócios novo ou aprimorado (ou uma combinação disso) que difere significativamente dos produtos ou processos de negócios anteriores da empresa e que tenha sido introduzido no mercado ou colocado em uso pela empresa.

 

Noutros termos, a inovação surge com a melhoria de um produto, processo ou serviço já existente ou a criação de algo novo (forma) que seja absorvido pelo mercado e gere negócio.

 

Nesse contexto, Peter Drucker[1] define inovação como o:

 

 “ato de atribuir novas capacidades aos recursos (pessoas e processos) existentes na empresa para gerar riqueza”

 

Os intraempreendedores são indivíduos dentro da organização que adotam uma abordagem empreendedora para identificar oportunidades, desenvolver ideias e implementar inovações dentro do ambiente corporativo. Eles podem buscar novas maneiras de melhorar processos, identificar nichos e desenvolver novos produtos ou serviços e criar soluções para desafios específicos da empresa.

 

Algumas características-chave do intraempreendedorismo incluem:

 

Inovação Interna: Os intraempreendedores buscam inovar dentro da estrutura existente da organização, em vez de criar algo completamente novo fora dela.

 

Risco Calculado: Assim como os empreendedores tradicionais, os intraempreendedores estão dispostos a assumir riscos, mas geralmente fazem isso dentro dos limites e diretrizes da empresa.

 

Cultura Empreendedora: Empresas que incentivam o intraempreendedorismo promovem uma cultura que valoriza a criatividade, a experimentação e a aceitação de falhas como parte do processo de aprendizado. É uma questão de atitude, comportamental e proativa em favor da prosperidade e da excelência na condução dos negócios.

 

Destaca-se, nesse contexto, a prototipagem, enquanto etapa do processo de desenvolvimento que consiste em fazer um protótipo do que se está criando. Em termos práticos, prototipar é criar uma versão modelo do produto final de um projeto voltado para a etapa de aprovação e validação.

 

É tirar a ideia da cabeça colocando no: papel, lego, storyboard, massinha, roteiro, rascunho, desenho, sketchup e colagem.

 

Prototipar é "pensar com as mãos". Tal etapa é considerada importante porque permite: falhar antes do lançamento e aprender lições preciosas com os erros.

 

Recursos Internos: Os intraempreendedores podem utilizar os recursos da empresa, como financiamento, expertise técnica e infraestrutura, para implementar suas ideias.

 

Foco no Crescimento: O intraempreendedorismo muitas vezes está alinhado com o crescimento e a expansão da empresa, ajudando-a a se adaptar a mudanças no mercado e a se manter competitiva.

 

Promover o intraempreendedorismo pode ser benéfico para as organizações, uma vez que estimula a inovação interna, melhora a eficiência e a competitividade, e mantém os funcionários engajados e motivados, propiciando maior capacitação profissional, por meio do diálogo com outras áreas, como design thinking, marketing, finanças, dentre outros.

 

Para os colaboradores, idem, visando ao progresso intelectual/técnico de suas aptidões e vantagem competitiva no mercado.

 

Um programa de intraempreendedorismo combina engajamento e desenvolvimento de talentos que agregam valor ao negócio.

 

Os intraempreendedores edificam as organizações a um novo patamar – faturamento e lucros, por óbvio, importam, mas são os desafios técnicos/mercadológicos, e a possibilidade de deixar um legado, a sua verdadeira motriz, em busca da prosperidade e perpetuidade dos negócios.  

 

Como as empresas podem avaliar e financiar ideias dos colaboradores? O aporte de recursos e expertise por meio de fundos e consultorias especializadas, mostra-se uma alternativa sustentável[2].

 

Atualmente, várias organizações estão em movimento, procurando pessoas com perfil empreendedor, capazes de aplicar novas ideias e com coragem para transformar a realidade.

 

O desafio está no pensamento errôneo de que esse perfil deve ser encontrado apenas em cargos de diretoria.

 

Ao contrário, seja qual for a sua área de atuação, há sempre a oportunidade de inovar no âmbito da organização.

 

A título ilustrativo, nas modernas organizações, a secretária ocupa espaços estratégicos, como gestoras na execução de rotinas corporativas, planejadora, organizadora e mantenedora de dados, intermediadora de acontecimentos, negociadora, facilitadora, agente de marketing e endomarketing, entre outras, em contraposição a ideia retrógrada de ser apenas atendente de telefone ou mensageira de recados.

 

Como bem salientado pelo empreendedor Elon Musk[3], a inovação não precisa ser disruptiva, ela pode ser pontual: “apenas torne seu produto melhor. Isso é o que realmente importa", complementa ele.

 

Há também o aspecto social em seu torno. O intraempreendedorismo é uma ferramenta poderosa para combater o etarismo, permitindo que os profissionais experientes mostrem seu valor e sua capacidade de inovar, além de promover um ambiente de trabalho inclusivo, colaborativo e encorajador, contribuindo para o sucesso da organização.

 

Otavio Ribeiro Valle[4], sócio da Fanstore, elucida o tema, além de erigir uma provocação para discussão:

 

“É necessária a postura persistente e generalista para enfrentar as nuances da vida empreendedora e investir no conhecimento técnico aprofundado: marketing, negócios, inovação e os ramos de atividade e nichos de mercado que se tenha a oportunidade de observar e atuar.

 

Por falar em experiência, vale também passar pelo etarismo. Sem o acúmulo de tempo, a que nomeamos idade, não se acumula conhecimento (não, não somos feitos de IA) e hoje em dia empreender parece privilégio das novas gerações. Será?”

 

Levando em consideração esses aspectos, o intraempreendedorismo enaltece as virtudes da autoestima, autonomia de vontade, inclusão social, colaboração mútua e do aperfeiçoamento contínuo, enquanto espírito empreendedor, afinal de contas, como nos ensina Ayn Rand[5], “o mundo que você anseia pode ser conquistado. Existe, é real, é possível, é seu”.

 

Notas

 

[1] DRUCKER, Peter F. Inovação e Espírito Empreendedor: Prática e Princípios. Editora Cengage. 2016.

 

[2] A consultoria Inno-Pact foi responsável pelo programa de intraempreendedorismo da Swisscom, onde validou mais de 600 ideias e criou uma comunidade de 2.500 intraempreendedores. In. Intraempreendedorismo: especialistas debatem como avaliar e financiar as ideias dos colaboradores. Redação. 06/06/2023. Época: Negócios/empresas. Disponível em: https://epocanegocios.globo.com/empresas/noticia/2023/06/intraempreendedorismo-especialistas-debatem-como-avaliar-e-financiar-as-ideias-dos-colaboradores.ghtml. Capturado em 13/02/24.

 

[3] In. Época Negócios. 18/01/2021. Dispoível em: https://epocanegocios.globo.com/Tecnologia/noticia/2021/01/elon-musk-afirma-que-qualquer-pessoa-pode-aprender-inovar-fazendo-tres-perguntas-simples.html. Capturado em 13/02/24.

 

[4] Otávio Ribeiro Valle é sócio da Fanstore, empresa de branded gifts as a service e da consultoria Craft Marketing. Disponível em: https://www.projetodraft.com/entendi-que-sem-esse-acumulo-de-tempo-que-chamamos-de-idade-ninguem-acumula-conhecimento-suficiente-para-empreender/ Capturado em 13/02/24.

 

[5] RAND, Ayn. In: A revolta de atlas [Atlas Shrugged], 1957. Editora Sextante. 2010.Volume III, Capítulo 07.Pág. 394, com adaptações. 

 

Referências Bibliográficas

 

CHRISTENSEN, Clayton M. O dilema da inovação. Editora M. Books. 2011.

 

KIM. W. Chan. Et al. A estratégia do oceano azul: Como criar novos mercados e tornar a concorrência irrelevante. Editora Sextante. 2019.

 

RIES, ERIC. A startup enxuta: Como usar a inovação contínua para criar negócios radicalmente bem-sucedidos. Editora Sextante. 2019.

 

SINEK, Simon. Comece pelo porquê: Como grandes líderes inspiram pessoas e equipes a agir. Editora Sextante. 2018.

 

*Foto:  Free-Photos por Flickr (Imagem ilustrativa).

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