A mente empreendedora e a “virtude do egoísmo”

A mente empreendedora e a “virtude do egoísmo”

No mês das vocações, o homem deve escolher suas ações, valores e objetivos a fim de alcançar, manter, satisfazer e usufruir esse valor último, esse fim em si mesmo, que é sua própria vida.

 

“Todos nascemos originais, mas muitos morrem fotocópias” (Beato Carlo Acutis)

 

 

O elemento indispensável para a prosperidade e desenvolvimento econômico de um país é a atividade privada, como meio de propiciar trocas voluntária de bens e serviços.

 

O estado não é fonte de riqueza. As relações econômicas se desenvolvem com a interação de demanda e serviços mútuos ocorridos e desenvolvidos no âmbito da sociedade, cuja complexidade não pode ser planificada pelo legislador.

 

A causa determinante para a riqueza e a prosperidade econômica de um país é o que ele produz, e não a massa de moeda que circula. O padrão de vida de um país depende de sua capacidade de produzir bens e serviços.

 

Neste compasso, é de salutar importância à defesa da propriedade privada e da livre iniciativa, associada à qualificação técnica do empreendedor e ao acesso a melhor tecnologia disponível para a geração de riquezas.

 

O dinheiro e a propriedade privada surgiram da necessidade do ser humano de encontrar um meio de troca que fosse universalmente aceito, possibilitando o protagonismo dos indivíduos em produzir e gerar renda, por intermédio do mercado.  

 

Por sua vez, a liberdade sempre foi atemporal e muitas vezes solitária, contando com poucos amigos verdadeiros, porém, ilustres: a informação, o conhecimento, a riqueza e a criatividade.

 

A nossa solitária personagem sempre vagou pelo tempo, muitas vezes perseguida, outrora aclamada. Você pode citá-la, discordar dela, glorificá-la ou difamá-la. Mas a única coisa que você não pode fazer é ignorá-la.

 

São notáveis a sua prole, quais sejam: as ideias e as discussões, enquanto fomento ao desenvolvimento da personalidade humana e para a consecução de um propósito de vida, prosperidade e felicidade.

 

Neste contexto, o dinheiro é apenas um meio, para atingir este fim. Há reinos maiores como o dos valores, das liberdades individuais e do intelecto, em detrimento daqueles que preconizam apenas promessas e ilusões, tendo como arquitetos os populistas, conterrâneos da liberdade, porém, inimigos.

 

Para os populistas, a verdade é sempre relativa, não um valor absoluto, e, portanto, deve ser sempre moldada conforme os seus interesses e conveniências, sem preocupação com o próximo. Não são, portanto, altruístas. São um vírus que contamina a liberdade.

 

A vacina representada pelo conhecimento desempenha um relevante vetor de desenvolvimento econômico, responsável por criar empregos, renda e soluções para os problemas sociais. Afinal de contas, a realidade é mais forte do que a percepção dos fatos.

 

O populismo, ao contrário, culmina na destruição das instituições para ter o personalismo do poder. Valores e princípios são mais importantes que ideologias. As ineficiências geram oportunidades para empreendedores construírem negócios grandes, sólidos e que vão transformar o país. Conforme leciona o brilhante Professor Mankiw [1]:

 

“O comércio permite que cada pessoa se especialize nas atividades em que é mais apta, seja na agricultura, na confecção de roupas ou na construção. Comerciando com outras, as pessoas podem comprar uma maior variedade de bens e serviços a um custo menor”

 

Levando em consideração estes aspectos, o que é empreender? Significa investir o seu tempo, dinheiro e intelecto e/ou uma habilidade específica em um empreendimento qualquer, assumindo os riscos desta ação, podendo fazer uso da inovação, isto é, a capacidade de criar uma nova forma de utilização dos recursos disponíveis, muitas vezes diferente do seu emprego habitual.

 

Uma das premissas do empreendedorismo, qual seja, o individualismo considera o homem como uma entidade independente e soberana que possui um direito inalienável à sua própria vida, um direito derivado de sua natureza como ser racional.

 

Como diria Adam Smith [2], a melhor face do capitalismo está nas famílias alimentadas pelo egoísmo de um padeiro. O egoísmo com fins lucrativos pode ser um grande parceiro do interesse coletivo.

 

Na obra “A virtude do egoismo” [3] a escritora Ayn Rand explica que a sociedade criou o conceito negativo do uso da palavra ‘egoísmo’, ou seja, acredita-se que uma pessoa egoísta é um indivíduo essencialmente ruim: aquele que busca tirar proveito do sofrimento alheio.

 

Todavia, para a filósofa há um erro quanto a sua premissa, porquanto o seu conceito é distorcido e prejudicial - para ela, uma pessoa egoísta é aquela que valoriza a si mesmo acima de tudo ao passo em que ela jamais prejudique o outro.

 

Conforme os primados de sua tese, ora denominada de princípio racional da ética objetivista, por ser justamente uma ética egoísta, qualquer coisa que uma pessoa tome posse deve vir única e exclusivamente do trabalho e da produtividade daquele indivíduo.

 

Sobre o tema, disserta o jornalista Lucas Berlanza [4] :

 

“Por racionalidade, os objetivistas entendem “o reconhecimento e aceitação da razão como sua única fonte de conhecimento, seu único juízo de valores e seu único guia de ação”. À racionalidade, se somariam a independência (“aceitação da responsabilidade de formar seus próprios julgamentos e de viver pelo trabalho de sua própria mente”); a integridade (“nunca sacrificar suas convicções às opiniões ou desejos de outros”); a honestidade (“nunca deve tentar falsear a realidade de qualquer forma”); a justiça (“nunca deve procurar ou conceder o que não obteve ou mereceu, seja em matéria ou em espírito”); a produtividade (“reconhecimento do fato de que o trabalho produtivo é o processo pelo qual a mente humana sustenta a sua vida, o processo que liberta o homem da necessidade de ajustar-se ao seu ambiente”) e o orgulho (“um indivíduo deve conquistar o direito de considerar a si próprio como seu valor mais elevado por meio da realização de sua própria perfeição moral, que é conquistada ao, jamais, aceitar códigos de virtudes irracionais impossíveis de praticar e nunca deixando de praticar as virtudes reconhecidamente racionais”).”

 

Em resumo, para essa corrente o homem deve se importar com o seu destino e também com o da sociedade a que pertence.

 

Sob este contexto, o empreendedorismo, enquanto manifestação da “virtude do egoísmo” é a grande alavanca para o desenvolvimento do Brasil.

 

Em tempos sombrios de polarização e demagogias é necessário transformar em carisma o que era estigma, como é caso do termo egoísmo, compreendida de forma pejorativa no meio social.

 

Com amparo neste novo paradigma, a criminalização e aversão ao lucro acaba sendo um freio na vocação empreendedora da base da pirâmide social.

 

Deste modo, surge um novo conceito - o quarto setor -, que se propõe a transformar as favelas do Brasil em comunidades que entreguem educação, cidadania e renda para seus moradores, valorizando-se as suas vocações, identidades e individualidades.

 

Como exemplos destas iniciativas citamos: (i) a Favela Holding [5] - conjunto de empresas que tem como objetivo central o desenvolvimento de favelas e de seus moradores. A FHolding nasce atuante junto a empreendedores comunitários, fomentando e promovendo novas oportunidades de negócios, empreendedorismo e empregabilidade; (ii) o Gerando Falcões [6] - organização social, que atua dentro de estratégia de rede, em periferias e favelas, cujos projetos estão focados em esporte e cultura para crianças e adolescentes e qualificação profissional para jovens e adultos, sendo um motor de geração de renda para famílias, inclusive egressos do sistema penitenciário.

 

Ideias e discussões importam. São essenciais para que os seres humanos possam ser bem-sucedidos enquanto ferramentas de inclusão social. Você tem uma responsabilidade moral em pensar o que é certo e o que é errado para você, enfim, deter o discernimento e o protagonismo para conduzir a sua própria história, conforme os seus laços de origens, crenças e etc, amparada pela “virtude do egoísmo”, de modo racional, produtivo e com responsabilidade social, perante a comunidade a que pertence.

 

Retomando as lições da autora Ayn Rand, “a menor minoria na Terra é o indivíduo. Aqueles que negam os direitos individuais não podem se dizer defensores das minorias”. O empoderamento comunitário promove a conquista dos direitos de cidadania. Mais do que programas sociais, elas precisam de liderança, espírito empreendedor, capacitação profissional e infraestrutura necessária para gerar riquezas e oportunidades, consolidando a economia da favela, como nova fonte de mobilidade social e carisma.  

 

Notas:

 

[1] MANKIW, N. Gregory. Introdução à economia: princípios de micro e macroeconomia. Do original: Principles of Economics – Second Edition, The Dryden Press – Harcourt Brace College Publishers. Tradução: Maria José Cyhlar Monteiro. Rio de Janeiro: Editora Campus, 2. ed., 2001. Pág. 09.

[2] SMITH, Adam. A Riqueza das Nações, volume I, Nova Cultural, 1988, Coleção "Os Economistas", pág. 17-54.

[3] RAND, Ayn. A virtude do egoísmo. Editora Ortiz. 1ª Edição. São Paulo, 1991.  

[4] BERLANZA, Lucas. “A Virtude do Egoísmo”: Ayn Rand e o Objetivismo. In: Instituto Liberal. 24/02/2021. Disponível em: https://www.institutoliberal.org.br/blog/a-virtude-do-egoismo-ayn-rand-o-objetivismo/. Capturado em: 09/08/2022.

[5] Para maiores informações, acessar o site: https://www.fholding.com.br/

[6] Para maiores informações, acessar o site: https://gerandofalcoes.com/.

 

*Foto: Free-Photos por Flickr (Imagem ilustrativa)

 

 

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