Adversidades e enfrentamentos em tempos de pandemia
“Não é o mais forte que sobrevive, nem o mais inteligente, mas o que melhor se adapta às mudanças” (Charles Darwin)
Tempos estranhos são os nossos. De repente, ficamos confinados em nossas casas, em razão de um indesejado e “imprevisível” intruso, sob a forma de vírus, cuja ação provocou mudanças em nosso cotidiano e trabalho, sem olvidar dos efeitos nefastos a economia.
Estamos sob a égide de um estado de exceção, onde foram suprimidos muitos dos nossos direitos individuais, como o direito de ir e vir, em regiões afetadas pelo lockdown e/ou com sérias restrições, como se vê pela exigência de uso de máscaras e proibições de aglomerações, nas ruas e comércios de nossas cidades.
A atividade econômica foi fortemente afetada, ocasionando quedas vertiginosas de faturamento, mormente nas pequenas e médias empresas, não agraciadas pela possibilidade de trabalho remoto.
Por outro lado, nas empresas onde o trabalho é realizado a distância, a sensação de esgotamento e falta de engajamento de funcionários, passaram a ser motivos de preocupações entre os gestores de recursos humanos no cotidiano corporativo.
No âmbito das famílias, a situação não é diferente. Crianças ansiosas e entediadas por não frequentarem a escola, parques e afastadas do convívio social, em um ciclo de confinamento, imersas em telas de mídias digitais.
Quando voltaremos ao normal? Haverá um “novo” normal pós-covid-19? De certo modo, esta situação de excepcionalidade deixou sequelas, algumas serão permanentes em nossa sociedade, demandando das pessoas comportamentos reativos para enfrentá-las, como maior proatividade, maturidade, disciplina, resiliência e solidariedade no âmbito social.
O modelo híbrido de trabalho e de ensino veio para ficar. Os seus benefícios como a redução de distâncias e consequente facilidade para atrair novos talentos, com maior possibilidade de circulação de riquezas e disseminação de conhecimento, associado a menores custos, experimentados nessa época de pandemia, serviram como laboratório e consequente aprovação pelo mercado e comunidade acadêmica.
No âmbito societário, foi regulamentada a tecnologia da videoconferência para a realização das assembleias gerais para a deliberação sobre matéria de interesses sociais [1], como meio de simplificação dos atos societários e contenção de dispêndios. De forma concomitante, oferece condições ao incremento da participação dos seus envolvidos.
E, quanto à gestão de recursos humanos? A seleção de novos colaboradores por meio de inteligência artificial (IA) pode ser uma alternativa?
Toda mudança demanda maior maturidade e tempo para absorção e contemplação. A avaliação de colaboradores não deve ser pautada exclusivamente pelo período que esteve à disposição da empresa em mensageiros eletrônicos e sim, no quanto ele é inovador, criativo e satisfatório as necessidades do cliente.
Compete ao líder estabelecer o empenhamento afetivo de seus colaboradores, visto como vínculo emocional, a identificação e seu envolvimento na organização [2].
A disciplina é outro desafio à nova realidade para fins de estabelecer o equilíbrio entre a vida pessoal e a de trabalho, delimitando-se os seus intervalos, ora necessários à saúde mental e física dos colaboradores.
No tocante ao processo de seleção de novos colaboradores a IA é um meio facilitador como filtro de recrutamento, para encontrar candidatos a cargos técnicos que dependam de certificados profissionais, ampliando, deste modo, o universo de opções.
Contudo, a participação humana, mormente na etapa decisória do certame é imprescindível, como forma de garantir a diversidade de talentos e o caráter dos colaboradores.
Em resumo, a inteligência artificial é parte relevante do processo, mas não substitui um especialista humano para gerenciá-lo e interpretá-lo para fins de alcançar um perfil compatível a necessidade do empregador.
A evolução tecnológica aprimorou comunicações e fluxo de informações, sendo, mais perceptível, agora, em tempos de pandemia. A solidariedade mostra-se necessária para a inclusão digital de todos aqueles privados de suas benesses.
O convite a nos reinventar com a necessidade da mudança de paradigmas é real, como leciona Darwin, não são os mais fortes e sim aqueles que se adaptam melhor os mais bens sucedidos.
Adaptar-se às mudanças não significa renunciar a valores consagrados, mas tão somente estabelecer o novo equilíbrio entre trabalho, casa e produtividade. É agir diferente, sair da zona de conforto, como sujeito da percepção e protagonista de virtudes, como meio de promover solidariedade e cooperação, com senso de responsabilidade social.
É o momento de sermos proativos, solidários e virtuosos. Mais do que métricas, algoritmos e recursos virtuais, precisamos de humanidade. A tecnologia tem que servir não governar.
Notas
[1] BRASIL. Ministério da Economia/Secretaria Especial de Desburocratização, Gestão e Governo Digital/Secretaria de Governo Digital/Departamento Nacional de Registro Empresarial e Integração. INSTRUÇÃO NORMATIVA DREI Nº 79, DE 14 DE ABRIL DE 2020. Dispõe sobre a participação e votação à distância em reuniões e assembleias de sociedades anônimas fechadas, limitadas e cooperativas. Disponível em: https://www.in.gov.br/web/dou/-/instrucao-normativa-drei-n-79-de-14-de-abril-de-2020-252498337.
[2] NUNES, Elisabete Maria Garcia Teles e GASPAR, Maria Filomena Mendes. A qualidade da relação líder-membro e o empenhamento organizacional dos enfermeiros. Revista da Escola de Enfermagem da USP. n. 51. 2017.
*Foto: Free-Photos por Unsplash (Imagem ilustrativa)